O professor

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Editado: 11/3/2021 às 14h48

Arthur me deu aula de latim e de francês na faculdade, fui apaixonada por ele desde o primeiro dia de aula. Dezoito anos mais velho que eu, dez centímetros mais alto, cabelos escuros na altura dos ombros sempre presos num coque, barba por fazer e gentis olhos castanhos. O professor ficava ainda mais bonito quando falava de literatura estrangeira, tinha uma personalidade que o fazia parecer cada dia mais jovem, tinha um leve sotaque francês e era por eu já saber falar esse idioma muito bem que a gente começou a conversar. Nossos gostos e interesses eram idênticos, meu professor sempre dizia que eu era madura demais para a minha idade e eu fui ficando cada vez mais encantada por ele.

Eu não percebi que o professor Arthur só falava comigo nos corredores mais vazios, nas noites em que poucos estudantes circulavam pelo campus e mal me olhava em sala de aula. Eu tinha certeza que ele gostava de mim tanto quanto eu gostava dele quando descobri que Arthur era casado, o confrontei com essa informação e o professor não negou que gostava de mim, propôs que mantivéssemos uma relação em segredo e eu virei um tapa em seu rosto. Assim acaba minha história com o mais próximo de um romance que já tive antes de Túlio.

Arthur continuou tentando voltar a falar comigo, mas eu fui firme em minha decisão de não olhar mais em sua cara. Até que ele cansou de ser gentil e disse que o que estava me oferecendo era o máximo que alguém como eu poderia ter, que não largaria sua esposa por mim assim como nenhum homem me ostentaria como sua companheira oficial. Eu poderia nunca ter o primeiro lugar, porém também não teria o segundo, preferia ficar sozinha a me sujeitar a um homem como Arthur.

Ir à Mereatoles me lembrava essa fase da minha vida. Túlio teria que visitar algumas mineradoras junto de Theo e eu pedi para ir junto porque meu amigo Renée estaria de volta à cidade para visitar sua família, resolvi unir o útil ao agradável para matar a saudade dessa cidade que amo tanto e do amigo que amo mais ainda.

Túlio e eu melhoramos um com o outro, voltamos a andar de mãos dadas, conversar amenidades, contudo ainda é estranho. Parecia que estávamos recomeçando do zero, o rei sempre me olhava como se quisesse dizer alguma coisa

- Você nem disfarça esse sorriso - comentou Túlio no carro.

Eu observava encantada a paisagem na janela, o sol estava forte como em todo o ano, eu senti falta das palmeiras e do visual dourado que a cidade tinha.

- Eu amo esse lugar - confessei com os olhos brilhando.

- Assim que cumprirmos a nossa agenda, você ficará responsável por me apresentar o lugar - sorriu.

- Não conhece Mereatoles? - perguntei voltando o rosto na sua direção.

- Não pela sua perspectiva - respondeu.

Fitei mais um tempo o sol vindo da janela do carro banhando seu sorriso largo.

- Que foi? - questionou me tirando do meu transe.

- Nada - desviei o olhar e comecei a brincar com a barra da meu vestido.

Em todas as cidades de Magnólia havia uma casa disponível para a estadia da família real em suas visitas. Nossa casa em Mereatoles era toda de pedra, parecia ser muito arejada com suas janelas enormes, bem menor que o Palácio Real e bem maior que uma casa normal. Theo, Túlio e eu ficaríamos ali, nosso primo ocupou um quarto no andar de baixo e o rei ficou com o maior quarto da casa de dois andares, e eu... Deixei minhas coisas no quarto que meu marido escolheu sob seu olhar atento. Era minha forma de reconciliação.

Theo nos chamou para apreciar a vista do terraço, podíamos ver toda a cidade de cima daquela casa, uma das visões mais bonitas que já pude ter, todos os prédios e casas pareciam miniaturas diante dos meus olhos.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora