Não é por mim

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Editado: 22/3/2021 às 15h11

Com algumas xícaras de chá, selei com a rainha do Reino Unido um tratado de que nos apoiaríamos no bloco econômico, trocamos figurinhas e descobrimos que temos mais em comum do que parecia. Reino Unido e Magnólia são mais diferentes do que parecem, a família real britânica é meramente representativa e possuem poder limitado, eu gostaria de ser uma rainha que só precisa aparecer na TV para fazer campanha de vacinação como Mary faz; em Magnólia, tudo depende da vontade da Coroa, governamos no sentido total da palavra e, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.

- Eu sei o que é viver à sombra de uma primeira esposa, - ela disse bebericando seu chá - George era divorciado. - contou - E você sabe como a mídia pode ser maldosa, há tantas histórias sobre eu ter sido o pivô da separação e eu sequer o conhecia...

- Você era duquesa - falei.

- Era. - concordou - Na verdade... A minha família me adotou, então houve uma grande discussão sobre eu ser da realeza ou não.

- Eu te entendo perfeitamente - ri pelo nível de coincidência.

- Eu te invejo, Lucillie, - disse ela - você pode falar em público, tomar decisões... Aqui, eu sou só a boa moça que defende o meio ambiente e cuida de causas sociais. A parte legal do trabalho fica para os meninos.

- Cabe a nós reivindicar esse lugar, Mary - afirmei.

- Não me vejo nesse direito. Essa Coroa não é minha, é do meu marido, é dos meus filhos.

- Não fui eu que pedi para ser rainha, foi Túlio que pediu, então eu vou ser rainha do meu jeito. - dei meu ponto de vista - Não é por mim, é pelas meninas que poderão se tornar rainhas no futuro. Quer dizer... Minha antecessora era uma deslumbrada que só queria ostentar algumas joias, minha sogra deixou o filho de catorze anos ser rei porque não sabia como governar, é por isso que Magnólia é tão atrasada para as mulheres, é por isso que eu estava sozinha naquele campus universitário e estou sozinha de novo na faculdade de Pedagogia. O lugar mais alto que uma mulher negra pode chegar no meu país é ser amante de homem importante e eu consegui o trunfo de me tornar rainha. - apertei a xícara de porcelana na minha mão - Eu tenho que fazer alguma coisa, Mary!

- Eu compreendo. - suspirou ela - Você pode contar com meu apoio. Na reunião do bloco econômico, falarei a seu favor e, no que as empresas de Magnólia não concordarem em trabalhar com você, as empresas inglesas estarão à sua disposição.

Fiz uma ou duas ligações para Edward, mas ele não me atendeu, o que era estranho. Bem no meu inconsciente, eu sabia que poderia ter algo de errado acontecendo, meu segurança não costuma rejeitar minhas ligações, ele não costuma conhecer muitas pessoas que tenham um telefone para ligar para ele. Porém me convenci que estava tudo bem, não tinha nada de errado acontecendo, era só minha mente paranóica criando hipóteses, meu motorista deveria estar aproveitando a folga que eu dei a ele, fazendo algo com sua namorada, era só isso. Liguei mais uma vez só para checar, contudo ele não me atendeu novamente.

- Ligando para casa? - perguntou Theo se chegando para perto de mim.

Guardei o celular no bolso do sobretudo e voltei a apoiar os cotovelos na mureta do Palácio.

- É... Como foi com o primeiro-ministro hoje?

- Animador! - exclamou - Um novo tempo está chegando para Magnólia, Lucillinda - murmurou ele.

Revirei os olhos pelo apelido odioso que me deu.

- Soube que estava tendo uma conversa com a rainha... - puxou assunto.

- Estava - sorri olhando para ele.

Ele sorriu de volta por entender que algo tinha dado certo.

- Você é um prêmio na loteria acumulada, Lucillie! - elogiou - Seu primeiro ano como rainha merece a nota máxima. Inteligente, bem articulada, diplomática, não abaixa a cabeça para senador, conseguiu apoio político e conquistou a classe trabalhadora. - pontuou nos dedos das mãos - E o principal: Trouxe paz para o coração do meu primo.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora