Deusa

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Editado: 11/3/2021 às 14h56

Antes de Túlio, eu sequer tive um namorado, fazer sexo não era algo que eu já tivesse pensado a respeito e, mesmo que tivesse pensado, não teria criado expectativas para aquela noite. Todas aquelas histórias sobre primeira vez, "não fique nervosa", "vai sangrar", "vai doer", "vai ser desconfortável", "não vai ser tão bom", nada disso correspondeu à nossa noite quente na escaldante e seca Mereatoles. Fomos muito pacientes e respeitadores um com o outro, namoramos sem qualquer pretensão de apressar as coisas, eu só era puro desejo pelo rei e iria a qualquer lugar que ele quisesse me levar.

Deu um nervoso ao sentir o ar do ambiente tocar cada cantinho do meu corpo, eu não tinha exatamente me preparado para que aquilo acontecesse, pelo menos tinha passado um hidratante perfumado.

Ele foi lento e delicado, observou cada microexpressão minha esperando por uma rejeição, mas, surpreendentemente, quando senti cada parte de nós um no outro, eu sorri. Podia não ser realmente tão confortável assim, porém era sua voz baixinha no meu ouvido dizendo o quão linda eu sou, todas as vezes que Túlio se movimentava e compensava a dor com um "eu te amo"... Eu me senti tão masoquista e tão amada ao mesmo tempo.

- Você parece uma deusa - ele disse passando o dedo pela lateral do meu corpo nu.

Senti meu rosto esquentar, apesar disso não me sentia desconfortável em estar sem roupas bem ao lado dele.

- Está sentindo algo fora do normal? - perguntou preocupado passando as costas da mão sobre o meu rosto.

- Só o coração acelerado - sorri.

- Foi como você quis? - questionou parecendo estar precisando de algum tipo de aprovação.

- Eu não tinha um modelo de primeira vez para atingir - dei de ombros.

- Então eu não estou aprovado? - interrogou me fazendo rir.

- Está tão aprovado que acho que só vou fazer amor com você pelo resto da vida - disse deitando minha cabeça sobre seu peito e jogando minha perna sobre sua barriga.

- Isso é bom - ele segurou em minha cintura - porque eu não quero dividir o corpo da minha deusa com mais ninguém - falou passando a mão pela curva das minhas costas.

Ergui os olhos para o seu rosto.

- Achei que fosse ateu - falei.

- Eu era até te conhecer - ele disse beijando minha mão fazendo meu coração derreter.

Pela manhã, Theo semicerrou os olhos observando como nosso comportamento estava diferente, amanhecemos muito mais sorridentes, com muito mais trocas de olhares, com muito mais carinhos.

- Está escrito na testa de vocês que transaram a noite toda - ele bufou.

Túlio revirou os olhos e me ajudou a prender o capacete de obras ao redor da minha cabeça, nós iríamos visitar algumas minas de carvão na cidade e eu precisaria do equipamento adequado, um colete cobria minha blusa e eu calçava botas confortáveis. Seus lábios selaram os meus assim que o capacete ficou firme na minha cabeça e eu sorri com seu gesto.

Os rapazes me ajudaram a subir a trilha entre pedras pontiagudas e barrancos. Chegamos às minas junto com os representantes das empresas de mineração que ali operavam, vários carrinhos de mão com peças de carvão cercavam o ambiente, os trabalhadores pingavam suor debaixo daquele sol escaldante, suas peles eram ainda mais escuras por trabalharem de sol a sol.

Caminhei entre os trabalhadores enquanto Túlio conversava com o dono da mineradora, Theo vinha logo atrás de mim falando ao telefone. Observei um menino com um capacete como o meu, pele cor da noite, olhos grandes e cansados, bocejava e coçou o rosto com as mãos sujas de carvão, era menor que eu e tinha um rosto infantil e gordinho. Cutuquei o braço de Theo e apontei a figura do garoto jovem.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora