Noiva

1.8K 249 13
                                    

Editado: 13/01/2021 às 14h14



Rainha Ernestine não é uma mulher simpática, nem tão quieta quanto pensei que fosse. Ao contrário, ela faz o tipo que não manifesta muito sua opinião, mas, se a fizer falar, esteja preparado para ouvir suas verdades. Não entrava muito no mérito de sua vida pessoal, me mandou tomar conta da minha vida quando perguntei porque tinha se afastado dos holofotes, porém acabou revelando que era só uma garota caipira do interior quando chegou ao Palácio, não teve quem a orientasse, por isso não me deu moleza. Anotei suas valiosas dicas em um bloquinho e eu revisaria tudo depois.

Ela tinha profundo desprezo pela nora e não parecia ser só ciúmes de mãe, usou Elara como modelo de que tipo rainha não ser e isso me chocou porque a antiga rainha sempre transpirou carisma. Bom, agora, melhor do que ninguém, eu entendo que carisma não assina tratados internacionais.

Estava perdida entre os corredores do Palácio para variar, todas as paredes pareciam iguais e eu tinha a sensação de que estava distante da saída. Andei tanto que acabei me esbarrando com Túlio em uma das esquinas, seu corpo quase me lançou completamente para trás, sua mão que impediu um acidente segurando minhas costas, apoiei minha mão em seu peito para não perder o equilíbrio. De tão nervosa, desabei numa risada que o fez me encarar intrigado.

- Eu sinto muito, estou tentando encontrar as escadas há uns vinte minutos - confessei envergonhada pelo meu péssimo senso de direção.

- Sempre pode pedir ajuda aos empregados para encontrar a saída - falou.

Parecia óbvio, mas só não fiz o que disse porque não me sentia no direito de dar ordens a empregados cujo salário não sai do meu bolso.

- Mas já que está aqui, fique mais um pouco e me faça companhia. Tem um belo pôr do sol lá fora e eu não comi direito hoje - convidou.

Sorri em resposta, eu nunca recusaria um convite para assistir ao pôr do sol.

- Apenas siga direto, dobre a direita duas vezes e desça as escadas. - orientou me virando para a direção certa - Estarei com você em poucos minutos.

Tentei decorar os detalhes do ambiente para não me perder nas próximas vezes, era impossível não acabar admirando aquela arquitetura perfeita digna de filmes de princesa, permiti-me rastejar meus dedos pela textura das paredes e as molduras dos quadros. Desci as escadas lentamente, prestando atenção nas pinturas famosas ostentadas na parede. Parei ali tentando desvendar as figuras de um quadro abstrato do início do século.

Eu já conseguia reconhecer sua presença no ambiente, é a sensação de estar sendo observada somada à sua sombra que parecia me cobrir. Logo suas duas mãos tocavam meus braços tendo sua cabeça acima da minha.

- O que te fez parar aqui? - perguntou em seu tom de voz profundo e grave.

- É tão... Triste - respondi hipnotizada com a figura.

- Você acha? - questionou.

- Veja. - apontei para o ponto que me prendeu - É um rosto chorando - expliquei contornando o que via para evidenciar os traços abstratos.

- Passo por aqui rápido todos os dias, nunca me dei conta. - admitiu - Não sabia que tinha sensibilidade para arte.

Virei meu rosto em sua direção percebendo as pontas de seus cabelos ainda úmidas e sentindo o cheiro refrescante de hortelã vir do seu pescoço revelando o banho tomado. As mãos dele ainda me seguravam respeitosamente, mantendo a devida distância, eu não estranhava seu toque mesmo nos conhecendo há pouco tempo.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora