Lucillie

Atender expectativas de quem?

Editado: 18/01/2021 às 10h52

Eu não sou a queridinha da imprensa, isso é fato! Meu noivado repercutiu mal. Repercutiu péssimo! As comparações com Elara começaram na minha roupa e terminaram nos tipos de flores que eu escolhi. Aparentemente, não sou glamourosa o suficiente, chique o suficiente, vocacionada o suficiente. Tudo o que Túlio pensava de mim, as colunas sociais diziam o contrário.

O noivado foi o primeiro contato que Magnólia teve comigo, os programas de TV tiraram a semana para falar de cada trejeito meu, até análise de expressões faciais fizeram sobre mim. Eu me sentia em algum tipo de reality show bizarro, não gostava de ter minha intimidade tão invadida assim. Tinham pessoas que nunca vi na vida se dizendo especialistas em alguma coisa deduzindo coisas sobre mim que não condizem com a realidade.

A conclusão final que chegaram sobre a noiva do rei é: Medíocre. Simples demais, discreta demais, sorridente de menos, elegante de menos, bonita de menos. Não tem perfil para dama da sociedade.

Essa é a hora que eu preciso usar a prepotência que Túlio tanto ama. Medíocre? Eu só sou professora de literatura aos 21 anos, eu só falo dois idiomas, eu só fui a única mulher da minha turma. Medíocre por que meu vestido não tinha brilho? Quando os colunistas sociais estão indo, eu já estou voltando.

Os comentários maldosos não mediram a proporção. Teve jornalista que disse que eu era facilmente confundida com as empregadas da festa, mesmo que eu estivesse usando um vestido exclusivo e elas não. E esse foi o comentário mais ameno que encontrei para citar. O resto era previsível, gente falando que eu e Túlio não combinamos, que não temos química, que não vai dar certo e toda essa história.

- É claro que eu ainda vou me casar com você! - respondeu quando eu perguntei se queria continuar com isso.

- Pelo que vimos a alta sociedade não gosta de mim, isso não vai ser bom para você - disse olhando para cima para encará-lo.

- Popularidade não governa país - disse enquanto me empurrava no balanço de Andrew.

Estiquei as pernas e encolhi para trás para intensificar o balançar do brinquedo.

- Você não atende às expectativas deles, mas às minhas sim. - completou empurrando o balanço com mais força vendo que eu estava me divertindo - A classe alta só quer um rosto bonito que dê festas.

- Eu posso dar festas - disse olhando para trás por cima do ombro.

- Também pode ser um rosto bonito. - completou rindo da minha infantilidade no balanço - Mas eu tenho outros planos para você.

- É só falar que eu faço - falei raspando os pés no chão diminuindo a velocidade do balanço.

- Quero que vá lá no Gabinete um dia. Para sentir como é - segurou a corrente do balanço o parando completamente.

Aproveitei que tinha vindo ao Palácio de calça para usar os brinquedos do Andrew, Túlio riu de mim quando disse que morria de vontade de brincar lá fora.

Ele virou o balanço várias vezes fazendo as correntes se enrroscarem e depois soltou me fazendo girar rápido demais até voltar para o mesmo lugar, virou-me novamente, mas dessa vez segurou as correntes me mantendo de frente para ele. Olhei para cima e Túlio sorria.

- Você é muito boba - riu.

Uni as sobrancelhas.

- Muito fácil arrancar um sorriso de você - explicou.

- Isso é porque eu sou feliz.

Ele olhou para os lados. Sobre nossas cabeças já estava anoitecendo e eu não poderia mais ficar tanto tempo aqui.