Editado: 04/3/2021 às 10h40
Quando o salão estava praticamente vazio, me restou tirar os saltos dos pés e caminhar descalça pelo chão de mármore. Eu gostava do chão do Palácio da Divisão, era gostoso de pisar.
- Bonito discurso.
Virei-me para voz grave e raivosa do meu motorista, barra, segurança. Olhei em volta e vi que só haviam empregadas varrendo a bagunça, ele não ousaria falar comigo perto de outras pessoas.
- Por que ficou até agora? - perguntei.
- Só posso ir para casa quando a senhora estiver segura dentro do Palácio Real e não desejar mais sair - explicou.
- Para de me chamar de senhora, eu sou mais nova que você - bufei caminhando na direção da saída.
Ele carregou meus saltos e minha bolsa por mim, virou-se na direção oposta a que eu seguia no corredor indicando que iria pelo elevador de serviço, contudo eu insisti para que seguisse comigo pelo elevador privativo da realeza. Apoiei meu corpo no espelho do elevador e deixei minha cabeça cair para trás, estava cansada física e emocionalmente.
Seus olhos castanhos me analisavam como se estivessem procurando algo. Eu gosto de olhos castanhos, não são tão comuns em Creta, tem mais gente com olhos castanhos em Mereatoles.
- Quer dizer alguma coisa? - perguntei estreitando os olhos na sua direção.
- Não acredito em uma palavra do que disse essa noite - respondeu.
- Por que?
- Porque, por mais que Vossa Majestade esteja revestida de ideais caridosos, - ele disse cheio de sarcasmo - o sistema não depende só da senhora.
- Para de me chamar de senhora! - repreendi saindo do elevador - Não se preocupe com isso, eu estou aprendendo a trabalhar com o sistema - garanti.
Edward soltou um risinho irônico ao me acompanhar para o estacionamento do prédio.
- A começar pelo seu marido, não? - debochou - Ele não parecia nenhum pouco feliz.
- Não tinha a ver com o discurso, o problema de Túlio comigo é pessoal - disse já me recordando que tinha esse problema a resolver.
- Vai pisar no asfalto descalça? - questionou parando ao final da parte com piso.
- Eu me recuso a passar mais cinco minutos com esses sapatos e você não vai me carregar - respondi.
- Carregaria se esse emprego pagasse cem por cento do valor da hora extra. Por quarenta por cento, eu não forço minha coluna por ninguém.
Ri do mais próximo do bom humor que Edward já chegou.
Sentei de lado no banco de trás do carro e estiquei minhas pernas sobre o estofado finalmente sentindo o sangue circular por elas.
- Edward você é noivo, não é?
- Sou sim, senhora - respondeu manobrando o carro para sairmos do estacionamento.
- Não me chama de senhora! - ralhei - Como se descobriu apaixonado por sua noiva?
Ele piscou os faróis ao passar pelos carros dos demais seguranças que nos seguiriam.
- É uma pergunta pessoal - pigarreou desconfortável.
- Eu só queria entender... - encarei minhas mãos - Não tenho certeza do que sinto por Túlio.
- Não sabe se gosta do seu marido? - ele riu.
- Acho que você sabe como os casamentos funcionam.
- O que eu sei sobre os casamentos é que a gente tem que trabalhar igual um desgraçado para juntar dinheiro e conseguir comprar uma casa caindo aos pedaços que vai ficar em obras pelos próximos quinze anos, aí passa uma lista entre os parentes para cada um dar um prato de alguma coisa e ter uma comemoração - disse irritado.
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Lucillie
RomanceUm reino em crise, um rei com um passado persistente, um príncipe sem mãe, uma Lucillie entre a cruz e a espada. Um casamento com fins políticos que pode se misturar com sentimentos, uma filha adotada que não pode fugir das suas origens para sempre...