Editado: 20/01/2021 às 22h39
Desde que a família Aveyard nos fez independentes dos americanos, vivíamos sob um regime absoluto onde a única coisa que regia o país era a vontade do rei. Após a maior manifestação popular da história do país, o ancestral de Túlio distribuiu o poder absoluto do rei entre senadores que representavam algumas esferas da sociedade e congressistas que representavam as províncias, e ainda elegeu um ministro para cada área do governo para garantir uma boa administração do país. De brinde, nos presenteou com uma Constituição baseada em princípios democráticos que dão a impressão de que o povo tem poder sobre alguma coisa só porque votamos para prefeito.
"Todo poder emana da Coroa e é compartilhado com representantes do povo", é o que diz o artigo quinto da nossa Constituição que está sempre estampado nos jornais, brasões de escolas, rodapés de provas e na faixada do Palácio da Divisão. Nos livros que li sobre política, a explicação é sempre a mesma: A Coroa é a fonte, sua água é o poder, que vai escorrendo pelos ministros, pelos congressistas, pelos senadores e afins.
O Palácio da Divisão foi construído para abrigar os congressistas, senadores, ministros e o rei. "O que acontece no Palácio Real pertence à família real, o que acontece no Palácio da Divisão pertence ao povo", é outro artigo da Constituição, por isso todos os atos administrativos devem ser publicados em Diário Oficial por mais que ninguém realmente leia.
O Palácio da Divisão tem uma arquitetura mais moderna que o Palácio Real, se trata de um Palácio inteiro dividido em três metades com um espaço grande entre si, mas que, juntos, se completam. No lado direito, fica o Congresso; na esquerda, o Senado; e, no meio, o rei e seus ministros. E foi pelo meio que eu entrei.
Por dentro, o Palácio parecia mais com uma das empresas do meu pai, pessoas com roupas sociais andando de um lado para o outro, elevadores subindo e descendo para fazer o país funcionar. As pessoas abriam espaço para eu passar e se curvam imediatamente ao me ver, eu apenas sorria fraco, desconfortável com a situação. Eu não queria que ninguém abaixasse a cabeça porque eu estava aqui, só precisava de alguém que indicasse o andar do meu marido.
A recepcionista quase caiu da cadeira ao me ver.
- Vossa Majestade!
- Bom dia! Onde posso encontrar o rei? - perguntei casualmente.
- No último andar. Eu vou avisar ao assistente de Vossa Majestade para que a receba - disse já mexendo no computador.
- Obrigada - agradeci e segui até o elevador.
O ascensorista me conduziu para um elevador privativo e me disse que seria muito bom ver alguém além do rei por ali. Tanta energia elétrica gasta para carregar uma pessoa só.
Túlio tinha um andar inteiro para si, seu andar tinha a arquitetura mais clássica que o resto do prédio, quase se parecia com mais um salão da nossa casa, o lugar tinha pinturas que eu só havia visto em livros da escola.
- Majestade! - curvou-se um rapaz moreno cheio de sardas - Vou levá-la à sala do rei.
Sorri forçado e o acompanhei.
- Qual seu nome, colega? - perguntei ao rapaz que parecia ser só um pouco mais velho que eu.
- Matteus, majestade - respondeu.
- Posso te chamar de Matt? - questionei.
- Pode, majestade - disse ele envergonhado.
Sua sala parecia maior que o meu quarto no Palácio. Na parede, havia um vão onde residiam vários porta-retratos, parei ali para observar enquanto Túlio ainda mexia no computador sem dar importância à minha entrada.
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Lucillie
RomanceUm reino em crise, um rei com um passado persistente, um príncipe sem mãe, uma Lucillie entre a cruz e a espada. Um casamento com fins políticos que pode se misturar com sentimentos, uma filha adotada que não pode fugir das suas origens para sempre...