Por que eu?

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Editado: 15/01/2021 às 15h01


- Aceita um vinho para começar?

- Só um pouco, não sou muito de beber.

Ele se levantou e saiu corredor adentro.

- Eu também não sou muito de beber, - disse um pouco alto do outro cômodo - mas não tem como ser rei estando sóbrio, a política me obriga a beber.

Isso foi uma tentativa de piada? Estamos indo bem.

Ele voltou com duas taças e uma garrafa, e me convidou a sentar com Túlio do lado de fora. Sentei-me de lado em uma espreguiçadeira enquanto o rei fez o mesmo em outra, ficamos de frente um para o outro com nossos joelhos se encostando. Eu peguei minha taça e o loiro me serviu com vinho.

- Não vai falar alguma coisa sobre o vinho como toda pessoa rica faria? - perguntei.

- Não entendo nada de vinhos, só me importo com o álcool - disse me fazendo rir.

- A cada cinco minutos você desconstrói algum conceito que eu tinha pré-estabelecido sobre você - falei.

Bebi um gole do vinho que era mais suave do que qualquer um que eu já havia provado.

- Quais outros conceitos você pré-estabeleceu sobre mim além de eu ser um bom entendedor de vinhos? - puxou assunto.

- Humm... - murmurei pensando enquanto tomava mais um gole - Metido, arrogante, pegador...

- Metido e arrogante, talvez; pegador, com certeza não - disse ele.

- Não me engane - pedi.

- Eu até tentei ser, - confessou - mas só depois de Elara. Na adolescência, eu era bem inseguro com garotas.

- Que tipo de insegurança um rei adolescente pode ter? - indaguei - Pelo menos em relação às garotas.

- Não é tão fácil quanto parece - murmurou.

- Por que não pediu em casamento alguma das mulheres com quem você sai? - questionei.

- Ninguém mais seria uma boa rainha como você será - disse seguro.

- Como pode ter tanta certeza? - ergui a sobrancelha para sua certeza absoluta.

- Porque eu sou o rei - respondeu - e o rei sabe quem seria uma boa rainha.

- Como eu disse, arrogante - eu concluí.

Ele riu do meu comentário e eu achei graciosas as ruguinhas que se formaram em volta dos seus olhos enquanto Túlio ria.

- Não beba tanto, vai dirigir para me levar para casa - repreendi quando ele preencheu sua taça mais uma vez.

- É a última, eu juro.

Nós jantamos do lado de fora mesmo. Não sei se era proposital, mas Túlio sempre pegava na minha mão quando tinha oportunidade, talvez fosse um hábito, talvez estivesse criando um hábito para repetir quando estivéssemos em público. De qualquer forma, não me incomodava.

- Eu não imaginava você do jeito que você é - contou.

- Negra? - indaguei.

- Bonita. - respondeu - Não, bonita não é a palavra. - negou com a cabeça - Charmosa. - corrigiu-se - Você é bonita também, só que esse seu jeito... - as palavras se perderam no ar com ele olhando algo em mim que eu não sabia o que era.

Senti meu rosto esquentar. Ele não sabia fazer um elogio simples, precisava ser extravagante nas palavras.

- Que jeito? - perguntei curiosa.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora