A origem

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Editado: 21/2/2021 às 13h15

Aceitei sair do meu quarto com Túlio, passamos por aqueles corredores enormes completamente escuros rumo à minha biblioteca particular, somente algumas luzes foram ligadas por ele.

- Responda sim ou não. Somos uma ditadura?

- Não - respondi de imediato.

- E por que não? - continuou caminhando pela minha biblioteca enquanto eu me sentava em uma das poltronas.

- É vontade do povo que os Aveyard governem - disse mecanicamente.

- É mesmo? - desafiou virando o rosto na minha direção - Aquelas pessoas na frente do Palácio pareciam gostar dos Aveyard?

Fiquei calada.

- Você acha que os sócios do seu pai gostam dos Aveyard? - prosseguiu - Você acha que os senadores gostam dos Aveyard?

Ele respirou fundo, abriu e fechou os olhos várias vezes.

- Não dá para mudar o mundo, Lucillie. - divagou ele - As coisas são como são e serão sempre assim, a gente só precisa administrar a situação, ninguém realmente muda nada. Você vai ver, a cada passo que você der em busca da igualdade social (ou racial, que seja), o Congresso, o Senado, os empresários farão você dar dois passos para trás. Porque, para dar mais uma laranja para os pobres, você precisa tirar uma laranja deles, mas eles não vão entregar nenhuma fruta tão fácil, mesmo que eles tenham muitas. - explicou - Eu entendo o seu ponto de vista, admiro muito o trabalho que têm feito, mas a nossa sociedade não gosta disso e eu tenho que obedecer quem manda mais. Pelo bem da nação.

- Túlio, - me pronunciei finalmente - faz o seu trabalho que eu faço o meu.

A empresa do meu pai era o local que eu mais gostava de visitar na época do Ensino Médio, vinha aqui depois da escola para bater papo. Quando meu pai não podia me dar atenção, ficava apenas andando pelas dependências da empresa. Entrar aqui sem a saia colegial e as meias três quartos foi estranho. Quem passava pelas portas da SLVUm não era mais a filha do dono, era a rainha.

Meu pai ficou animado ao me receber, parou o que estava fazendo e repassou todas as suas ligações para Jonathan.

- Quais eram exatamente as suas intenções em me unir ao rei? - perguntei curiosa enquanto comia um bombom.

Os últimos meses foram tão tensos que eu não tive a oportunidade de perguntar ao meu pai que droga ele estava usando quando decidiu que eu seria feliz sendo esposa do rei.

- Túlio tem qualidades para ser um bom marido para você, achei que faria um bom casamento.

- Eu gostaria de ouvir a verdade, pai. - mordi mais um pedaço do chocolate - Tem a ver com dinheiro? - questionei.

- Eu não procurei o rei, não te fiz de mercadoria, - explicou - só que a proposta era tentadora demais para a empresa. Lucillie, o preço das ações dispararam, todos querem investir na empresa do sogro do rei.

- Ele te prometeu isenção fiscal? - deduzi.

- Não fui eu que pedi, ele que ofereceu - defendeu-se.

Neguei com a cabeça quase rindo daquela situação estranha em que meu casamento abatia o imposto de renda da SLVUm.

Meu pai sempre tinha uma caixa de chocolates com ele no escritório justamente por minha causa, sempre que vinha aqui reclamava que não tinha algo doce para comer. Fiquei surpresa ao saber que ele ainda mantinha o hábito de ter chocolates por perto.

- Como vai seu casamento? - interrogou.

- A pior parte é ter que governar esse país - respondi.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora