A tal da representatividade

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Editado: 04/3/2021 às 10h28

Arregalei os olhos por ele falar mal de Magnólia tão abertamente bem na minha frente sem medo de represálias.

- As pessoas estão mais esperançosas embora eu não esteja, então ninguém está realmente reclamando - continuou.

- Por que estão esperançosas? - perguntei para dar seguimento à conversa.

Ele virou o rosto em minha direção para olhar-me nos olhos.

- Você sabe... Quer dizer, - abaixou a cabeça - a senhora deve entender. Eles acham que Vossa Majestade vai trabalhar a nosso favor só por ser... - apontou com o queixo na minha direção - Da mesma cor.

- E por que você não está esperançoso? - retruquei.

- Porque a senhora foi criada como branca, não sabe o que é ser pobre, não sabe o que é dormir com fome. - falou com certo rancor - E eu acho esse discurso de representatividade negra uma palhaçada! Representatividade nunca melhorou as condições de trabalho nesse país, representatividade não abaixa o preço da comida no mercado para gente poder comprar. Não me importo com quem esteja no governo desde que faça alguma coisa útil e, com todo respeito, não será Vossa Majestade que fará algo.

Eu não me incomodava com sua falta de expectativas em mim. Na verdade, me aliviava. Não dá para corresponder as esperanças de todo mundo.

- A Lady me falou algo nesse sentido - murmurei.

- Mantém contato com a União Popular? - questionou.

- Sei de algumas coisas. - dei de ombros - Você faz parte da União?

- Não. - voltou a olhar ao nosso redor - Eu luto pela minha própria causa.

- O que sabe sobre a União?

Edward umedeceu os lábios.

- Sei que eles querem seu marido fora e a senhora dentro.

Magnólia demorou a ser descoberta pelo resto do mundo, nós já tínhamos uma organização, uma cultura e um povo quando americanos e britânicos ofereceram um pouco de democracia para a nossa terra. Aos poucos, eles estavam por toda parte, eram eles que comandavam todas as esferas de poder em Magnólia. O segundo ponto importante da nossa história é quando aceitamos que o Estados Unidos fizesse a nossa segurança, suas bases militares se instalaram aqui, seus soldados rondavam nossa fronteira e, na prática, nós nos tornamos uma colônia americana porque não tinha como debater com um americano armado. Todo nosso petróleo, nosso ouro, nossas pedras preciosas enriqueceu a terra dos ianques por pelo menos 150 anos. E então Dulceven Aveyard entra na história.

Os Aveyard sempre dominaram a exploração de pedras preciosas e trabalhar com isso sempre significou detenção de poder em nosso país, Dulceven era o principal elo entre as autoridades americanas e o nosso país. Revoltado com nossa situação de exploração, liderou uma conspiração que conseguiu colocar uma força armada dentro da Casa Branca, colocar uma arma na cabeça do presidente e forçá-lo a tirar todas as suas tropas de Magnólia. À época, o mundo estava muito cansado de guerras e o Estados Unidos não tinha como financiar mais um ataque, sua única reação foi nos isolar economicamente colocando todos os seus países aliados contra nós.

Os Aveyard praticamente reconstruíram esse país do zero geração após geração, nossa vantagem sempre foram nossas riquezas e hoje dá para dizer que Magnólia é uma potência impossível de ignorar. Por isso a Coroa deles, é o mérito por ter brigado pela nossa independência e por ter nos transformado numa potência.

Já faz 198 anos que Dulceven Aveyard voltou para Magnólia com seus conspiradores e as tropas americanas foram embora. Todos os anos, tradicionalmente, a família Aveyard oferece um baile de gala à membros do governo, personalidades importantes na sociedade,e às famílias dos conspiradores em comemoração da data. O evento desse ano foi trabalhado por Déborah, Martin e eu com uma temática que tinha a ver com o momento que estamos construindo no governo.

LucillieOnde histórias criam vida. Descubra agora