Capítulo 3 - Conhecendo

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— Parece que temos uma nova companheira conosco! Por favor, faria a gentileza de se apresentar para nós, querida? — pediu minha nova, simpática e irritante, professora de Educação Artística.

Sério, eu só podia ter tacado pedra na cruz... Não é possível.

Havia quadros — provavelmente feitos por alunos — pendurados por toda extensão da sala. O chão era gasto e meio colorido por conta das atividades exercidas ali que, realmente, indiciava um bom envolvimento de tinta. Mas sua cor original deveria ser um branco ou cinza, creio eu. O cheiro de tinta me deixa um pouco enjoada, aliás.

Como uma boa aluna, dei um sorriso cínico à professora, me desloquei lentamente até a frente da lousa e fitei meus novos "coleguinhas". Contando comigo havia, mais ou menos, quinze pessoas em sala.

— Bom dia. Meu nome é Bethany Cortês. Prazer em conhecê-los. — disse em bom tom, voltando ao meu lugar em seguida. A professora me desejou boas vindas. E apresentações não me deixavam nervosa, sério. Mas irritavam quando desnecessárias.

E assim, a professora engatou em uma aula de introdução. Início de bimestre. Sorte a minha!

Mas, bem, como não sou adepta à matéria, tirei um tempinho para analisar melhor as pessoas presentes ali. Muitos nerds e pessoas estranhas, para ser honesta. Mas tinha um garoto...

Ah, sempre tem aquele garoto que te faz pensar mil coisas sem nem ao menos conhecê-lo. É aquela minipaixão platônica de dez segundos que você tem, mas não admite. Ok, eu admiti.

Ele estava sentado uma oitava à minha direita. Era esguio, perceptível pelo modo que suas pernas ficavam no banquinho de frente para a tela. Ombros largos, corpo atlético, cabelos curtos, rosto firme — mesmo levando em conta que eu o observava apenas de perfil.

Parecia bem atento ao que a professora dizia, pois pude admirá-lo por bons e maravilhosos minutos até virar de súbito na minha direção. A gente sente quando está sendo observado, não é? Bom, eu, ágil como sempre, fitei o chão como a coisa mais interessante do mundo logo em seguida.

Levantei a cabeça de volta, meus cabelos atrapalhando a visão — creio que olhei para o chão rápido demais, afinal. Então me ajeitei, só que tive a percepção de estar sendo observada. E, bingo, constatei que ele me fitava discretamente. Vish.

Vish? Imagine. Hora perfeita.

Pois sorri descaradamente para ele e — obrigada, Deus — fui recompensada com um abençoado meio sorriso de volta.

Agora sim! Eu estava adorando o meu dia.

Após a aula — onde fiz um belo-horrível vaso de flores super clichê para a atividade que a professora designou — vi o garoto no corredor, ou deveria dizer cara, porque de garoto não tinha quase nada. Eu estava prestes a derreter.

Encostei em um armário próximo à porta da sala para aguardar Mia, porém... Ele se aproximou e sorriu. E desta vez, foi o sorriso. Ah, glória. Que coisa linda, gente. Queria estar viva, pois, depois disso, morta me encontrava.

— Oi. Bethany, né? — quis confirmar ele, tímido.

— Sim. — respondi, sorrindo alegremente. — E você é?

— Bryan. Bryan Weylund. — Ele sorriu outra vez e estendeu a mão para me cumprimentar. Eu apertei na mesma hora.

— Prazer, Bryan.

— Você mora por aqui mesmo? — questionou, franzindo o cenho.

— Me mudei há... algum tempo. — falei, tentando parecer convincente. Não ficaria bacana simplesmente dizer: "Ah, fugi de casa há uns dias e vim parar aqui. Pretendo ficar por um tempo, sabe?"

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