— Parece que temos uma nova companheira conosco! Por favor, faria a gentileza de se apresentar para nós, querida? — pediu minha nova, simpática e irritante, professora de Educação Artística.
Sério, eu só podia ter tacado pedra na cruz... Não é possível.
Havia quadros — provavelmente feitos por alunos — pendurados por toda extensão da sala. O chão era gasto e meio colorido por conta das atividades exercidas ali que, realmente, indiciava um bom envolvimento de tinta. Mas sua cor original deveria ser um branco ou cinza, creio eu. O cheiro de tinta me deixa um pouco enjoada, aliás.
Como uma boa aluna, dei um sorriso cínico à professora, me desloquei lentamente até a frente da lousa e fitei meus novos "coleguinhas". Contando comigo havia, mais ou menos, quinze pessoas em sala.
— Bom dia. Meu nome é Bethany Cortês. Prazer em conhecê-los. — disse em bom tom, voltando ao meu lugar em seguida. A professora me desejou boas vindas. E apresentações não me deixavam nervosa, sério. Mas irritavam quando desnecessárias.
E assim, a professora engatou em uma aula de introdução. Início de bimestre. Sorte a minha!
Mas, bem, como não sou adepta à matéria, tirei um tempinho para analisar melhor as pessoas presentes ali. Muitos nerds e pessoas estranhas, para ser honesta. Mas tinha um garoto...
Ah, sempre tem aquele garoto que te faz pensar mil coisas sem nem ao menos conhecê-lo. É aquela minipaixão platônica de dez segundos que você tem, mas não admite. Ok, eu admiti.
Ele estava sentado uma oitava à minha direita. Era esguio, perceptível pelo modo que suas pernas ficavam no banquinho de frente para a tela. Ombros largos, corpo atlético, cabelos curtos, rosto firme — mesmo levando em conta que eu o observava apenas de perfil.
Parecia bem atento ao que a professora dizia, pois pude admirá-lo por bons e maravilhosos minutos até virar de súbito na minha direção. A gente sente quando está sendo observado, não é? Bom, eu, ágil como sempre, fitei o chão como a coisa mais interessante do mundo logo em seguida.
Levantei a cabeça de volta, meus cabelos atrapalhando a visão — creio que olhei para o chão rápido demais, afinal. Então me ajeitei, só que tive a percepção de estar sendo observada. E, bingo, constatei que ele me fitava discretamente. Vish.
Vish? Imagine. Hora perfeita.
Pois sorri descaradamente para ele e — obrigada, Deus — fui recompensada com um abençoado meio sorriso de volta.
Agora sim! Eu estava adorando o meu dia.
Após a aula — onde fiz um belo-horrível vaso de flores super clichê para a atividade que a professora designou — vi o garoto no corredor, ou deveria dizer cara, porque de garoto não tinha quase nada. Eu estava prestes a derreter.
Encostei em um armário próximo à porta da sala para aguardar Mia, porém... Ele se aproximou e sorriu. E desta vez, foi o sorriso. Ah, glória. Que coisa linda, gente. Queria estar viva, pois, depois disso, morta me encontrava.
— Oi. Bethany, né? — quis confirmar ele, tímido.
— Sim. — respondi, sorrindo alegremente. — E você é?
— Bryan. Bryan Weylund. — Ele sorriu outra vez e estendeu a mão para me cumprimentar. Eu apertei na mesma hora.
— Prazer, Bryan.
— Você mora por aqui mesmo? — questionou, franzindo o cenho.
— Me mudei há... algum tempo. — falei, tentando parecer convincente. Não ficaria bacana simplesmente dizer: "Ah, fugi de casa há uns dias e vim parar aqui. Pretendo ficar por um tempo, sabe?"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Oculta
RomanceBethany tem uma ótima vida superficialmente. Mas, como qualquer pessoa, tem pequenas partes ocultadas em seu interior. Em um momento oportuno de ousadia, ela foge de tudo que a aborrece, tenta seguir com uma nova vida e, claro, sem preparo algum, ac...