Capítulo 8 - Memórias

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— Como não ligou os pontos, Bethany?

— E eu ia lá saber, Mia! Faz anos desde a última vez que falei com a minha mãe. — bufei, suando de nervoso. — Ela era coordenadora de uma empresa de moda e estava se dando muito bem lá. Nunca a imaginaria fundando uma das melhores marcas de grife da atualidade.

— Bethany, se descobrirem que está aqui... posso me prejudicar. Muito. — murmurou Mia. — É além de perder o emprego. Posso ser processada ou... não sei. Só não acabará bem. — concluiu. O tom de sua voz estava alterado outra vez. Isso não era bom.

— Mas não pode ser ela, sério... — cogitei, mas duvidava das próprias palavras. — Como ela é?

— Ela é exatamente igual a você. Loira, bonita, elegante. Até seus olhos são iguais.

Ouvir um elogio de Mia era estranho, mesmo indireto. Mas, admito, senti uma sensação boa.

E eu era muito parecida com a minha mãe mesmo. Sempre fui. Talvez esteja mais ainda.

Bufei. Bom, voltando àquela maldita pergunta de novo.

O que eu faria?

— Não posso te envolver nisso. — admiti, derrotada. — Se posso prejudicar sua vida, tá na hora de cair fora.

— Você não está prejudicando a minha vida, Bethany. Temos que cogitar uma maneira de não prejudicar você. Sei pouco sobre sua pessoa, mas não adianta querer voltar e viver outra vez aquilo que odiou a ponto de fugir. Pode estar sendo empática, mas eu não sou. Se você estiver na pior, também terei de estar. Se você ficar bem, ficarei bem. Não sendo uma dessas opções, discordarei totalmente. Sinto-me responsável por ti.

Eu a fitei por um instante. Onde a encontrei mesmo? Lanchonete. Qual foi a minha primeira impressão sobre ela? Estranha. Absolutamente estranha.

Quase sinto que as melhores pessoas são aquelas que não trazem ótimas impressões de cara. Aquelas que aparecem da forma mais simples possível.

Sinceramente, nunca tive tanto apego por alguém quanto tenho por Mia. O fato de que não a compreendo e não a conheço direito parece tornar tudo melhor. É como viver outra vez. Conhecer um lado desconhecido da vida. Um lado onde nada é transparente. Um lado onde vale a pena confiar e conhecer. É assim com Mia.

De modo impulsivo, me aproximei dela e a abracei.

Dane-se. Dane-se se ela não gosta disso. Dane-se se não me abraçar de volta.

Eu só precisava demonstrar o quão importante ela é para mim.

— Você é a melhor pessoa. Não diga o contrário, por favor. — murmurei de olhos fechados. Ela não respondeu. Mas também não se distanciou.

Eu apertei mais os abraços ao seu redor. Não parecia, mas Mia tinha um corpo bem modelado, como uma atleta. Não imaginava algo assim. Parecia que estava abraçando outra pessoa, não a Mia de verdade.

Ela também emanava um cheiro único. De certa forma, reconfortante. Era bom. Muito bom.

Em determinado momento, senti seus braços se moverem e finalmente retribuiu o meu abraço. Como tínhamos a mesma altura, nenhuma de nós precisou agachar ou ficar na ponta dos pés, o que era agradável.

Não queria desfazer aquele abraço. Mas é muita invasão ainda. Ao menos para Mia. Vou respeitar isso.

Deslizei meus braços suavemente e distanciei, mas mantive minhas mãos pousadas nos seus antebraços. Quando fitei seus olhos, deparei outra vez com aquele mesmo olhar raro. Aquele que me deixava confusa.

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