Capítulo 24 - Sem Opção

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Não vai almoçar comigo?


Dslp, querida

É q vo ter um compromisso


Por que não avisou antes?


Eu esqci.

Sei q a gente tava combinando

d almoçar juntas tds os dias,

mas hj n vai dar msm :c


OK.



Ah, que ódio quando invoca o modo "silábico". Se bem que estaria do mesmo jeito se fosse cara a cara. Mas não sei por que, por mensagem me irritava mais.

Que seja. Havia algo mais problemático para me preocupar, de qualquer forma.

Eu já me encontrava próxima ao restaurante. Era um dia nublado, o tipo de dia que você só quer ficar em casa sem fazer nada. Esse fato realmente não me animava para o "encontro".

Pela vidraça do estabelecimento, em uma das mesas, visualizei um homem de ombros largos, cabelos grisalhos, e vestindo um terno elegante. Olhava para o relógio do punho a cada cinco segundos.

Com certeza era o meu pai.

Em contrapartida, eu vestia um jeans simples e blusa de moletom preta sem estampa, um tênis também preto, o cabelo solto, nada mais. Não me produzi para ir, não. Pus algo confortável e pronto. Nem ao menos passei base no rosto. Era o meu pai, cara. A preguiça foi dominante.

Fui muito bem recebida ao adentrar o local, como sempre. Avisei à recepcionista que alguém já me aguardava, sinalizando para a mesa de meu pai, este que agora me encarava com uma intensidade que só senhor William para proporcionar. Era como se eu tivesse aprontado (bem possível) e ele estava doidinho para oferecer horas e horas de sermões. Eu sorri com isso. Era nostálgico.

A recepcionista assentiu e deu espaço para que eu me dirigisse à mesa. E, OK, finalmente o nervosismo me tomou.

— Olá, Beth. — cumprimentou William em seu tom formal, mas com uma pitada de "eu diria outra coisa se não estivesse em público".

— Oi, pai. — cumprimentei dando um sorriso pequeno, evitando contato ocular.

— Pensei em pedir o especial, mas não sei se ainda gosta. Já faz um tempo que não viemos aqui...

O tom de sua voz demonstrava... saudade. Eram realmente raras as ocasiões que meu pai evidenciava algo de maneira tão direta. William era um cara cético, sério, na dele. Mas era tranquilo. Ao menos comigo.

E por que será que isso me lembra tanto uma certa pessoa?

No geral, eu era o seu xodó. Fui a última filha, tempos depois de Michael e Jason. E, bem, sendo uma garota, fui muito mais mimada... seja por ele ou por Denise.

E isso me beliscou. Lembrar sobre quando viviam juntos me causava um desconforto no estômago.

E pensar que, talvez, muita coisa naquele tempo não foi sincera... Eu era uma criança muito inocente para perceber.

— É verdade, faz tempo que não comemos aqui. — concordei neutra.

— Você quer o cardápio para escolher? — sugeriu, me oferecendo o menu.

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