Capítulo 7 - Problema

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Eu estava morrendo de fome.

Entendo o fato de que esta área preserva o corpo ideal, mas me fazer passar fome é totalmente diferente. Aquilo estava me irritando.

Desde que cheguei me encontrava na ala especializada da agência: o estúdio fotográfico. E, apenas uma palavra: branco. Totalmente branco.

Havia tudo que é equipamento que você poderia imaginar. De iluminação, tripés, refletores, mesas com aparelhagens tão inerentes que eu não saiba identificar. Também havia uma área reservada para as fotos propriamente ditas. Tudo era muito intrínseco e novo para mim.

Ainda dentro da ala, havia uma entrada com acesso a um espaço a parte somente concebido por roupas, sapatos, adereços, vestuário em geral. Chamavam-no de closet, mas para mim era amplo demais para ser meramente igualado a um closet. Tinha tantas roupas, tantos estilos, cores, o que puder imaginar. Bethany enlouqueceria naquele lugar, com certeza.

Inclusive, antes de me dirigir para cá junto de Ricchard, chefe do setor, passei por um salão de beleza exclusivo da agência. Ajeitaram o meu cabelo, me maquiaram. Tive uma recepção a nível madame, sinceramente. Mas isso incluiu perguntas um tanto invasivas demais.

Um dos especialistas me questionou sobre quem fazia as minhas sobrancelhas. Oras, que interessa quem as faz? Mas respondi mesmo assim. Eu as fazia, de vez em quando. E detestava fazer isso. Mas excesso de pelos dava-me agonia.

E antes de "pousar" — como se referiam ao ato de fazer poses em frente a uma câmera — Ricchard e alguns estilistas me auxiliaram a vestir determinadas peças. Mencionaram fazer parte de uma nova linha da empresa, denominada "Minimabastês". Uma junção de básico com minimalismo — que para mim é a mesma coisa. Entretanto, ressalto que quase arrancaram minhas tripas para mencionar que há uma completa distinção entre ambos.

As peças iniciais: uma blusa de malha com mangas compridas de cor pastel, uma calça que titulavam de "sarja" na cor vinho com listras levemente escuras e sapatilhas simples da mesma cor que a blusa. Era confortável e macio, então, particularmente, me agradou.

Mas após isso, para a minha infelicidade, começaram a agravar a situação. Saltos muito altos, blusas curtas, shorts curtos demais, calças que marcavam demais. Tudo aquilo que mostrava pele demais.

— Ricchard. — O chamei enquanto muito entretido com sua câmera. — Há algum horário estipulado para o almoço?

— Ah, calminha. Só vou tirar mais algumas. — murmurou sem me fitar.

— Ricchard. — Agora o chamei com mais urgência na voz. Ele me fitou intrigado. — Você já disse isso.

— Sabe que falar desse mesmo jeito com Denise a faria comer o seu toco, né? — ressaltou, mas sem ligar ao meu minidesespero.

Faz bem mencionar que quando cheguei à agência, Denise — ou, melhor, senhora Cortês, como gostava de ser chamada — me introduziu a empresa. Era uma mulher muito profissional, independente e séria. Senti-me confortável ao saber disso.

Comentou sobre as aulas que terei de comparecer, sobre postura, pronúncia, obrigações em relação à saúde; bimestralmente ir ao odontologista, oftalmologista, psiquiatra, nutricionista, etc. Fiquei impressionada com a quantia de cuidados que aparentemente uma modelo deve ter consigo mesma.

E era estranho me denominar como tal agora.

— Me envie ao hospício caso isso aconteça. — respondi. Ricchard só deu risada. — Terei que vir sempre neste horário?

— Não, não. É como se fosse um teste. Coloque na sua mente que enquanto estiver aqui, qualquer coisa que faça ou seja encaminhada pra fazer, é algum tipo de teste. Principalmente se Cortês mandar. — ressaltou, me olhando por cima dos óculos. — Ela vai voltar em breve pra conversar com você.

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