Capítulo 25 - Distante

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— O que tá fazendo? — perguntei ao vê-la fuçar em seu armário.

— Pensando em o que levar nesta viagem. — respondeu, bufando.

Mia estava estressada com o trabalho e isso era mais claro que a luz. Tudo bem, não queria viajar e, para completar, eu não poderei acompanhá-la — e olha que importunei bastante a minha mãe, mas não surtiu efeito — mas trabalho é trabalho, fazer o quê. Muitas vezes não há escolha, você só faz, mesmo que eu não tenha muita experiência para dizer alguma coisa, mas ela já estava me preocupando.

Mia não é estressada. Ela é mal-humorada. Há uma pequena diferença.

Creio que pessoas estressadas não tenham paciência, descontam sua raiva em tudo, já mal-humoradas só não tem boas emoções sempre, são fechadas, distantes. Essa era a Mia que conheço. E a que gosto também, de certa forma.

Às vezes, me pergunto se minha mãe está fazendo certo ao sobrecarregá-la desse jeito. Convenhamos, por mais que Mia seja muito competente, ela nem passou dos vinte.

— Quer ajuda? — perguntei com cautela.

— Acho que sim.

— Quando vou viajar... — murmurei, levantando da cama. Ela havia comprado uma mala de tamanho razoável, como sugeri. Eu analisei por um momento. — separo assim: roupas pra sair; pra ficar em casa; intimas; produtos pra banho e essas coisas. — falei, concentrada em lembrar dos itens prioritários. Mia me fitava com demasia atenção. — Isso não deveria ser dificultoso pra você, Delilah. Você tem um gosto bem neutro pra roupas.

— Eu... — começou ela, alisando a têmpora com uma das mãos. — Eu não quero ir. Não sei o que farei lá e não quero te deixar. Está difícil porque não estou com um pingo de paciência para organizar isso.

— Delilah, é só por alguns dias... — Tentei tranquilizar, mas eu mesma não gostava da ideia.

— Estou quase fingindo estar doente para ficar. — comentou e eu gargalhei. Isso, com certeza, não fazia parte de sua ética.

— Você vai a um lugar maravilhoso e num evento muito importante. É importante pra sua chefe e ela te quer lá. — argumentei, dando de ombros. — Essa chefe é minha mãe e, por mais que eu ainda esteja magoada por não ter me deixado ir... faça isso por ela. Se te quer ali é porque confia em você.

— Eu não sei por que ainda continuo, Beth. — desabafou, sentando-se na cama com desanimo. — Não faz parte de mim. Essas coisas não são para mim.

— Eu sei por que continua. — afirmei, sentando ao seu lado. — Você se importa. Com a minha mãe, a empresa. Se fosse por dinheiro, já teria saído, sei que não liga pra isso. Você conheceu pessoas boas lá, como o Wallace, por exemplo. Sei o que é não querer abandonar quem importa pra você e que também se importa com você. É muito provável que se arrependa caso o faça e eu sei o que é isso. E, acredite, não vai querer passar o mesmo.

— Você se refere a...

— Sim, me refiro a nós. — concordei, pegando uma mão sua. — Nem sei como consegui passar aqueles dias sem você. Dar de cara contigo na frente da faculdade realmente era uma coisa que nem sonhar eu conseguia.

— Desculpe por agir daquela forma na última vez em que nos vimos. Digo, na casa da sua mãe antes de...

— Não tem que se desculpar. Você tava certa. A única pessoa que pode se sentir culpada aqui, sou eu. — respondi, meneando a cabeça e sentindo vontade de chorar. Lembrar quão estúpida fui é cruel.

— Você gostava mesmo de Bryan, não é mesmo?

— Eu gostava. Bastante. — admiti, rindo um pouco. E diria que superei bem fácil. Quer dizer, sequer lembrava dele até tocar no assunto. — Mas não foi certo acreditar naquilo de primeira. Você, desde o início, estava do meu lado. Eu conhecia você. Troquei nossa amizade por uma paixonite imbecil. Fui burra pra caramba.

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