Fiquei petrificada enquanto olhava para a tela do celular.
Cara, fazia muito tempo que não nos falávamos. Desde aquela briga, nunca mais. E imaginava que, provavelmente, quem tomaria a iniciativa de retomar algum contato seria eu, pois se tem algo que meu pai é: orgulhoso. Muito.
Certo, eu estava errada, não nego. Mas o jeito que nos tratou, eu e minha mãe, foi detestável. Então, não tem ponto para ele.
Bufei. OK, controle-se, Bethany. Você pode não estar de bem com ele, mas é seu pai. Pode ser uma emergência.
Peguei o aparelho em mãos e sai da sala às pressas. Hoje não é dia para estudar mesmo.
— Alô?
— Bethany? — ouvi a voz de trovoada pronunciar. Suspirei longe do aparelho, tentando conter o meu nervosismo desnecessário.
— Sim, sou eu.
— Ótimo. Pensei que havia mudado de número.
— Peguei o chip do celular antigo de volta. Por que tá me ligando? — questionei, indo direto ao ponto. Eu não poderia agir como se nada tivesse acontecido. Isso não combina comigo.
— Quero conversar com você, Bethany. Onde você está agora?
A voz de William não demonstrava muita coisa. Não parecia nervoso, nem relaxado, descontraído, mas também não muito sério. Sempre foi difícil identificar suas emoções.
— Tô na faculdade. Na verdade, tava na aula quando você me ligou. — respondi fria. Uau, parece que nesse requisito puxei a você, paizinho.
— Desculpe, eu não sabia o horário em que estudava. — disse, e essa frase foi muito ambígua. Sabia que eu estava estudando ou soube quando falei? — Podemos nos ver? Pode vir aqui em casa?
— Não me sinto confortável indo até aí. — respondi, sincera. Não quero ir lá por um bom tempo, de preferência. E ele estava morando sozinho agora, não?
— Então podemos nos encontrar em algum lugar. Um restaurante que goste, por exemplo. — sugeriu.
Ah, droga. Eu tenho um ridículo coração mole.
Apesar de tudo, sinto saudades de William. Poxa, era o meu pai. Por muito tempo a única pessoa com quem contei, mesmo perante todas as proibições e exigências. Ele se importava comigo.
Mas o que me deixa com um pé atrás, é saber das coisas que aconteceram entre ele e a minha mãe. Só que, no geral, sempre digo a mim mesma: não tenho nada a ver. Eles eram um casal. Tá, sou fruto disso, mas não posso me envolver.
E, mesmo assim, quem disse que sempre sigo esses autos-conselhos?
— Tô meio sobrecarregada. Sabe, trabalhos e tudo mais. Não sei se vou encontrar tempo pra falar com você pessoalmente. — Dei aquela desculpa esfarrapada de universitária viril. Acho que isso soaria mentiroso até para uma cabra, vindo de mim. Mas não importa.
— Que tal um almoço? Nem que por trinta minutos, Bethany. — insistiu. Seu tom demonstrava apreensão agora. Quase não dava para acreditar que meu pai exalaria tal sentimento.
— Então... — murmurei, incerta, e depois suspirei, derrotada. — Tá, acho que dá sim. Quando?
— Por mim, amanhã mesmo. Eu posso te buscar, se quiser.
— Ahhh, não precisa. — respondi apressada. De jeito nenhum pode saber onde moro. — É só me dizer qual restaurante que vou. Não se preocupe.
— Tudo bem, então. — murmurou, um pouco sem graça. — Você ainda gosta do restaurante da Laura?
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Oculta
RomanceBethany tem uma ótima vida superficialmente. Mas, como qualquer pessoa, tem pequenas partes ocultadas em seu interior. Em um momento oportuno de ousadia, ela foge de tudo que a aborrece, tenta seguir com uma nova vida e, claro, sem preparo algum, ac...