Capítulo 23 - Questões

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Fiquei petrificada enquanto olhava para a tela do celular.

Cara, fazia muito tempo que não nos falávamos. Desde aquela briga, nunca mais. E imaginava que, provavelmente, quem tomaria a iniciativa de retomar algum contato seria eu, pois se tem algo que meu pai é: orgulhoso. Muito.

Certo, eu estava errada, não nego. Mas o jeito que nos tratou, eu e minha mãe, foi detestável. Então, não tem ponto para ele.

Bufei. OK, controle-se, Bethany. Você pode não estar de bem com ele, mas é seu pai. Pode ser uma emergência.

Peguei o aparelho em mãos e sai da sala às pressas. Hoje não é dia para estudar mesmo.

— Alô?

Bethany? — ouvi a voz de trovoada pronunciar. Suspirei longe do aparelho, tentando conter o meu nervosismo desnecessário.

— Sim, sou eu.

Ótimo. Pensei que havia mudado de número.

— Peguei o chip do celular antigo de volta. Por que tá me ligando? — questionei, indo direto ao ponto. Eu não poderia agir como se nada tivesse acontecido. Isso não combina comigo.

Quero conversar com você, Bethany. Onde você está agora?

A voz de William não demonstrava muita coisa. Não parecia nervoso, nem relaxado, descontraído, mas também não muito sério. Sempre foi difícil identificar suas emoções.

— Tô na faculdade. Na verdade, tava na aula quando você me ligou. — respondi fria. Uau, parece que nesse requisito puxei a você, paizinho.

Desculpe, eu não sabia o horário em que estudava. — disse, e essa frase foi muito ambígua. Sabia que eu estava estudando ou soube quando falei? — Podemos nos ver? Pode vir aqui em casa?

— Não me sinto confortável indo até aí. — respondi, sincera. Não quero ir lá por um bom tempo, de preferência. E ele estava morando sozinho agora, não?

Então podemos nos encontrar em algum lugar. Um restaurante que goste, por exemplo. — sugeriu.

Ah, droga. Eu tenho um ridículo coração mole.

Apesar de tudo, sinto saudades de William. Poxa, era o meu pai. Por muito tempo a única pessoa com quem contei, mesmo perante todas as proibições e exigências. Ele se importava comigo.

Mas o que me deixa com um pé atrás, é saber das coisas que aconteceram entre ele e a minha mãe. Só que, no geral, sempre digo a mim mesma: não tenho nada a ver. Eles eram um casal. Tá, sou fruto disso, mas não posso me envolver.

E, mesmo assim, quem disse que sempre sigo esses autos-conselhos?

— Tô meio sobrecarregada. Sabe, trabalhos e tudo mais. Não sei se vou encontrar tempo pra falar com você pessoalmente. — Dei aquela desculpa esfarrapada de universitária viril. Acho que isso soaria mentiroso até para uma cabra, vindo de mim. Mas não importa.

Que tal um almoço? Nem que por trinta minutos, Bethany. — insistiu. Seu tom demonstrava apreensão agora. Quase não dava para acreditar que meu pai exalaria tal sentimento.

— Então... — murmurei, incerta, e depois suspirei, derrotada. — Tá, acho que dá sim. Quando?

— Por mim, amanhã mesmo. Eu posso te buscar, se quiser.

— Ahhh, não precisa. — respondi apressada. De jeito nenhum pode saber onde moro. — É só me dizer qual restaurante que vou. Não se preocupe.

Tudo bem, então. — murmurou, um pouco sem graça. — Você ainda gosta do restaurante da Laura?

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