Capítulo 4 - Reconhecendo

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— As pessoas de lá são legais. — comentei. Ainda bem que era sexta-feira. Minhas pernas estavam me matando.

Mia não me respondeu e estou me acostumando com isso. Só assentiu. Nem fez questão de me fitar. O olhar estava fixo ao horizonte enquanto caminhávamos de volta ao seu apartamento.

— Você quer que eu faça alguma coisa quando chegarmos? — perguntei meio sem graça. Esperava que não me pedisse para cozinhar. Seria uma catástrofe. Mas daria o meu melhor. Eu acho. Quer dizer, tá. Nunca fiz tarefas em casa. E não é algo que eu me orgulhe.

— Apenas dê comida à Kiara. — disse, mas me fitou com dúvida no olhar. Poxa, eu não ia esquecer a única coisa que solicitou até agora. — Tenho expediente hoje.

— OK... Ahm... Você vai sair no mesmo horário de ontem? — questionei receosa. Eu suava frio a cada pergunta que proferia. Ela me analisou e não respondeu, para variar.

Sério, era um absurdo. Nunca conheci alguém tão inexpressível.

— Não é meu horário fixo. — ressaltou. Paramos na calçada para esperar um carro virar à esquina, depois prosseguimos para atravessar a rua. — Tive que cobrir o posto de uma pessoa ontem. Não sei ao certo se terei que cobrir novamente.

Ao ouvir isso, tive uma ideia sensacional.

— A lanchonete precisa de funcionários? — perguntei. Parece que vi a luz no fim do túnel. — Você poderia me indicar?

— Já trabalhou em algum lugar? — questionou, parando de caminhar, mas, desta vez, sem motivo, mesmo que estivéssemos já em frente ao prédio que morava, do outro lado da rua.

Eu dei um sorriso amarelo, sem saber realmente o que dizer.

— Na verdade, eu nunca trabalhei. — admiti, engolindo um seco.

— Verei com o dono. — decretou, voltando a caminhar em seguida. Atravessamos a rua e Mia buscou algo no bolso da calça. Era uma chave. E então, sem mais nem menos, esticou a mão e me ofereceu o item.

OK, acho que temos um problema aqui.

— Você... — murmurei, não sabendo por onde começar. — não acha perigoso dar a chave do seu apartamento para uma pessoa que mal conhece?

— Sim. — admitiu, deixando-me extremamente curiosa e confusa. — Mas o que você faria? Raptaria a minha gata?

— É uma possibilidade. — murmurei, segurando o riso. Aquela gatinha era uma fofura.

— Espero que não considere isso. — frisou, e parecia falar bem sério. Quer dizer, quando é que não parecia estar falando assim, né?

Pois bem, sem se despedir — não que eu esperasse por isso — deu meia volta e seguiu o seu rumo. Observei caminhar até a esquina e desaparecer de vista antes de subir as escadas ao portão do prédio.

Aliás, o mesmo senhor de antes estava sentado lá, outra vez olhando para o nada e fumando um cigarro.

— Boa tarde. — cumprimentou ele. Tinha a voz grossa, rouca e escassa. Normal para alguém que aparentava ser tão velho.

— Boa tarde. — respondi, passando por ele.

— Finalmente... — o ouvi murmurar. Iria ignorá-lo, mas minha curiosidade deu o parecer novamente.

— Como? — questionei, virando-me.

— Ela não costuma responder. — comentou, sinalizando com a cabeça para o final da rua. Para onde Mia havia seguido.

— O senhor mora aqui há quanto tempo? — perguntei. OK, eu era uma baita de uma intrometida. Mas dane-se.

— Ah, mocinha... Já perdi as contas. — respondeu ele, gargalhando devagar. — Mas, sabe, agora é que não me mudo mesmo.

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