Capítulo 11 - Impulso

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— Não está bom ainda. — ressaltou Cortês, direta como de costume.

— É difícil saber se está bom como quer.

— Saberá sim. Nem que passemos a tarde inteira fazendo isso. Faça de novo. — ordenou e fixou o olhar em mim.

Acredite, estávamos treinando maneiras para sorrir. Sim, isso mesmo. Sim, totalmente bizarro.

Cortês odiava o fato de eu não sorrir com facilidade e nem ao menos saber reproduzir um sorriso falso. Haveria um evento em breve na corporação com alguns convidados importantes e ela queria que eu não transparecesse a indiferença de sempre.

Eu compreendia seu desejo, afinal, um sorriso era sinônimo de simpatia. Simpatia poderia fazer milagres se tratando de negócios. Porém, eu não sorria à toa. Eram raros esses momentos. E não compreendia o porquê de exclusivamente eu mostrar alguma simpatia, no fim das contas.

Não quero parcerias, contatos, negociações, convites, que seja. Não quero projetos paralelos. Já estou lucrando o suficiente. Não seguirei esta carreira e pronto. Não mudei de ideia e não mudarei.

Aliás, me inscrevi para uma ótima faculdade de Design Gráfico e me enviarão a resposta em alguns meses. O dinheiro que tenho pode me sustentar pelo tempo que eu precisar enquanto estudo ou até mais.

Entretanto, me esforçava para agradar a Cortês. Não só por ser minha chefe e por ser uma funcionária, mas sim porque a admirava e abrangia certa simpatia — por mais irônico que isso aparente agora. Mas era um incomodo.

Por que tinha que parecer tanto com a sua filha?

Tentei sorrir novamente. Cortês meneou a cabeça em desaprovação e pousou as mãos na cintura, parecendo indignada.

— Você é péssima nisso. — declarou, bufando. Eu dei de ombros. Não era novidade. — Vejamos outra forma, então. O que a faz sorrir?

— Não sei.

— O que te diverte? Pelo amor de Deus, Delilah. Tem que ter algo que faça você tirar essa carranca depressiva. — disse com a voz elevada, então soube que estava perdendo a paciência. E isso era raro. E ruim. Muito ruim.

— Não sei o que me diverte também. — respondi e suspirei longamente. Tinha que ser tão difícil?

— Lembre-se de algum momento que sorriu. Se é que já sorriu alguma vez. — comentou, irônica.

Eu fitei o chão, pensativa. Só um me veio em mente. Mas seria estranho dizer como foi este momento.

Principalmente por ter sido com alguém que eu não queria lembrar. E porque não sei se realmente surtiria resultados para agradar Cortês.

— Algo em mente? — questionou. Levantei a cabeça e a fitei. Ela me olhava com curiosidade.

— Na ocasião, uma conhecida minha estava tendo um momento ruim. — comecei a dizer. Cortês franziu o cenho. Provavelmente acharia que sou louca. — Não que eu tenha ficado feliz por ela ter tido um momento ruim, mas sorri como uma forma de consolo para ela.

— Você sorri quando quer que alguém se sinta bem?

— Acho que sim. — respondi, incerta. Nunca pensei desta forma.

— Essa pessoa era muito querida pra você? — quis saber ela. Senti um alto desconforto em ter que respondê-la.

— Sim. Era.

— Mia, lhe contarei uma história então. Posso te fazer de minha confidente? — indagou Cortês, sentando-se de volta em sua cadeira almofadada detrás da mesa de acrílico.

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