Capítulo 15 - Descontrole

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— Delilah? — chamei, após bater várias vezes na porta de seu apartamento. Era cedo, nove horas da manhã, no máximo.

Eu não consegui dormir direito. Mia estava muito estranha ontem, então acabei por deixar de perguntar se queria que eu fosse embora e fui por conta própria. Mas avisei que a chamaria no dia seguinte. Era só para deixá-la descansar um pouco.

Depois do que confessou, eu não soube o que fazer ou dizer. Questionar não seria uma tarefa fácil. Ainda mais tratando-se de Mia.

Mas tentarei fazê-la se abrir comigo, ainda que eu mesma esteja receosa sobre isso. Afinal, nunca conheci ninguém com tais experiências.

A porta abriu, finalmente. Uma Mia sonolenta me fitou com olhos cerrados, os esfregando logo depois ao me constatar. Sem dizer nada, me deu espaço para entrar.

Avistei Kiara próxima, então fiquei brincando com ela enquanto ouvi o estalo da porta se fechando.

— Você já tomou café? — Mia perguntou. Isso me proporcionou mais um momento de nostalgia. Quando morávamos juntas, sempre me perguntava algo do tipo. "Já tomou café?", "já almoçou?", "já jantou?", "está com fome?".

— Não, não tomei. — respondi meio encabulada. Kiara parecia agitada, diferente de Mia, um pleno zumbi. — Posso ir comprar algo-

— Não precisa. — respondeu e indicou para segui-la até a cozinha. Não parecia querer comentar sobre o acontecimento de ontem.

— Mia... — chamei. Ela me fitou de soslaio enquanto abria um dos armários da cozinha.

— Não ache que direi tudo. — deixou claro em tom seco, tirando um pacote de torradas prontas e depositando-as na mesa, onde agora eu me sentava.

— O que pode me contar? — perguntei com receio.

— Dependerá do que quiser saber. — respondeu, pegando o bule de café e o pondo em cima da mesa também.

— Certo... — murmurei, pensando em uma pergunta plausível. — Você tinha quantos anos?

— Cinco.

Meu Deus.

Eu não acredito. Meu coração quase saiu do peito.

Cinco anos!?

— O que houve? Não precisa me descrever como, é só... Sei lá... — pedi, mas tenho certeza que eu estava pálida.

— Quer uma lista? — questionou, sarcástica. — Que tal esquecermos isso, Bethany? Tornaria tudo mais simples, acredite.

— Não dá pra esquecer isso. Nem o que aconteceu antes disso. — afirmei. Ela desviou o olhar e permaneceu calada. — Se você não quiser nada, tudo bem. Mas sei que não posso ser apenas sua amiga, Mia. Eu não consigo mais ser.

— Eu não disse isso. — defendeu-se, mas ainda não me fitava. — Mas é difícil. Isso me faz mal. A culpa não é sua.

— Deixa eu te ajudar, então. Por favor, Mia. — pedi. Eu estava prestes a chorar. Eu não queria que acabasse desse jeito. — Você me ajudou. Não posso retribuir o favor?

— Como acha que pode ajudar, Bethany? — questionou ela, voltando a me olhar nos olhos. Pelo amor de Deus, tinha que ficar me chamando de "Bethany" invés de só "Beth"? Isso estava me deixando nervosa.

— Eu não sei. — admiti. Em seguida, levantei e caminhei em sua direção. — Mas, se me explicar, talvez eu possa ajudar. Só vai piorar manter tudo pra si mesma.

— Já expliquei para várias pessoas, Bethany. Não me surpreenderia se não compreendesse também. — revelou, parecendo querer manter distância de mim. O tom de sua voz me quebrou.

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