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Quintas e sextas-feiras eram dias de movimento no club; Grudadas ao fim de semana, já nos indicavam se teríamos noites agitadas pela frente ou não.

Diferente dos primeiros dias semanais, nas quintas os setores privados já ficavam quase lotados, as poltronas com poledance particular eram as preferidas dos empresários, caras de classe alta, as vezes até figurões políticos.

Não era necessariamente um lugar de luxo, apesar de bem localizado; a atração era a lei rigorosa de Rúben Stevie Caravelle, proibindo o uso de câmeras e aparelhos celulares, fazendo com que todos os frequentadores ficassem rigidamente protegidos de olhos indevidos enquanto aliviavam-se de dias ruíns. Aquilo, de certo modo, trazia sensação de conforto à todos os influentes que frequentavam, principalmente os presos a laços matrimoniais — que rotineiramente reclamavam de seus casamentos mas nunca os largavam.

Para estes, fazíamos uso de nosso corpo para proporcionar alivio e prazer, um pouco de autoconfiança e gingado era suficiente para dar a homens carentes aquilo que buscavam nas pessoas com quem viviam.

Dançávamos de modo indecente, aguçando todo tipo de pensamento impuro, e se deixássemos que nos tocassem com mais intensidade, ganhávamos muito mais. Era uma maneira rápida e prática de fazer grana, mas desgastante.

Em alguns momentos apareciam os "babacas" — caras que acreditavam serem bons o bastante para achar tudo e todos inferiores que sí mesmo. Eram brutais e hostis, impacientes e no meio da dança sempre tentavam nos beijar ou forçar relações não consentidas como se fôssemos objetos sem opção de escolha. Se ousássemos recusar, éramos xingadas de vagabundas e/ou coisas piores.

Para nossa sorte, eram expulsos antes do fim da noite.

Esse era um dos motivos pelo qual eu talvez preferisse os palcos ao invés das apresentações mais vantajosas nos camarotes particulares.

Para mim, o palco fora o que me trouxera poder. Ser uma das três dançarinas mais conhecidas do club trazia consigo a vantagem de apenas subir sob um palanque enfeitado, tirar bonitas lingeries em meio a coreografias ensaiadas — às vezes com auxílio do poledance, às vezes não —, sem sequer ser incomodada por esses tipos de caras estúpidos e idiotas.

E mesmo que não ficássemos perto o bastante para sermos tocadas — como as outras —, ainda éramos idolatradas.

Os figurinos eram todos estonteantes, as coreografias de palco muito mais elaboradas que as de chão, conseguíamos receber quase o dobro que as outras numa noite e ainda tínhamos um camarim exclusivo à apenas nós três.

Em uma destas noites, no camarim, foi onde tudo aconteceu.

— Ai meu Deus — não houve batidas ou um mísero anúncio antes de entrar no camarim; Nina simplesmente gritou: — Acabaram de chegar uns jogadores de futebol super famosos lá fora e Rúbia disse que Stevie mandou chamar vocês!

A medida em que as outras gritaram, eu empalideci.

Ele voltou!

Karim voltou para terminar o que começara!

Ele vai me b-bater? Va tentar me estuprar outra vez? E se ninguém descobrir de novo, e se eu ficar com tanto medo que nem conte desta vez, e se todos aqueles sintomas voltarem, e se eu tentar me matar de novo?

Foi. Por. Um. Tris. Que. Rosa. Me. Achou.

Rosa não está mais aqui.

Ela foi embora, como Magda foi embora, como todas vão um dia.

Meu. Deus.

Penso em correr, em chorar, em gritar, mas antes que eu o faça, antes que eu me desespere e grite para todas elas que não vou por que fui estuprada por um jogador, e um destes pode ser ele, Mia pergunta:

STRIPPER [GRIEZMANN] ✨Onde histórias criam vida. Descubra agora