20 - Término

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Dou três batidas a porta e espero que alguém apareça. Nem mesmo lembro se aquele é o seu quarto, mas tento a sorte. Ansiosa a esperar que ele surja e me abrace.
Que me proteja com seu calor corporal e me diga que está bem.

Giro a maçaneta e adentro no espaçoso lugar de luxúria. Paulo está sentado com as pernas cruzadas perto do rosto a encarar seu telefone, rígido. "Hey" desperto-o e ele parece se assustar. Joga seu celular a cama, numa rápida forma de esconde-lo. "Oi" diz, nervoso.

"Você está bem?" Tento parecer relaxada, mas estou curiosa. Tentada a correr até ele e pegar aquele telefone.

Esqueci-me até mesmo de que vim até aqui para falar sobre seu pai.
Aperto os passos até ele e sinto o colchão d'água afundar conforme me sento a seu lado. "Kat.." ele suspira, derrotado. "Eu...Sinto muito. Sou tão fraco..."

Olho para seus olhos sem entender o que quer dizer "É sobre seu pai? Eu estou aqui, Paulo. Eu vou te apoiar." Toco seu rosto e estou desesperada.

"Não, Katrina." põe sua mão sobre a minha. "Olhar para você sem me lembrar é destrutivo. Eu pensei que conseguiria. Pensei que poderia continuar com isto, mas, eu não posso."

Desvio o olhar e tento puxar minha mão, mas ele me impede. "Eu não entendo..." Meu coração está a palpitar e quero chorar. Choro por seu tom e por saber o que virá a seguir.

"Eu só não quero brincar com você." morde o lábio. "Isto nunca daria certo, kat."

Puxo minha mão de seu rosto e ele não faz esforço algum para segura-la desta vez. Me levanto, constrangida. "Tudo bem." Balanço a cabeça. Tentava parecer forte, mas á quem eu queria enganar? Eu nunca fui. Nem vou ser.

Aquele mesmo garoto que estava ali a terminar comigo por motivo algum, é o mesmo que estava a me beijar e me tocar e se mostrar preocupado horas atrás. Eu não entendia o porquê daquilo, mas ficar ali seria questionar a meu amor próprio.

Tomo coragem para direcionar meu olhar para o telefone e percebo que há uma foto dele com Antonella a se beijarem. Era aquilo que estava escondendo.

À quem quis enganar? À mim mesma ou a meu bom senso? Sempre será ela.
Independente do que eu fizer, sempre será Antonella quem ele irá querer e amar. Fui apenas um tapa buraco que ao menos conseguiu despertar o amor em alguém.

Me levanto para ir embora mas quando chego a porta, destruo qualquer chance de não sofrer futuramente porque olho para trás.

Olho para Paulo e vejo-o chorar, de cabeça baixa, devastado. Metade de mim quer correr e abraça-lo. Pedir para que repense naquilo, outra metade é meu orgulho. O orgulho que me impede de fazer aquilo. Que me faz ter amor por mim mesma.

Caminho descompassadamente pelos vastos corredores da mansão e fito pela última vez fotos dele em jogos importantes ou a segurar troféus espalhadas pela parede marfim.

Minha vista está embaçada e turva e estou a inspirar e respirar e pouco me importo se estou a sujar meu macacão branco com resquícios de maquiagem borrada.

Tomo o máximo de esforço que posso para não fazer o menor barulho quando saio através da porta.
Desço o jardim pelo caminho de pedras e tento controlar minha respiração enquanto estou a caminhar em direção ao ponto de ônibus fora do condomínio. Com a autorização do porteiro, atravesso o portão e logo estou na rua. Tão desnorteada em meio a lágrimas que nem mesmo sei como estou a atravessar aquela avenida.

Eu sabia. Sempre soube que me envolver com Paulo seria um carrossel de altos e baixos e que a qualquer momento eu sairia decepcionada. Isso está predestinado a quem se apaixona por um superstar.

É parte da genética de celebridades trazer complicações a vida das pessoas e mesmo sabendo disso, me apaixonei por um desportista. Sabendo que estava destinada a arriscar praticamente tudo vivendo esse sentimento.
Agora sou uma carta fora do baralho e não dou menos que dias para que meu rosto esteja sendo substituído por uma modelo ou algo do tipo nos catálogos de fofoca e agora seja intitulada como passado. Um passado passageiro. Um novo rosto substitui o antigo. É o que dizem. Esta é a vida deles e agora, a jornalista desiludida também faz parte do ciclo.

"Hey" uma mulher para o carro a minha frente e sorri calorosamente para mim. "Você pode me dar uma informação?"

Me aproximo um pouco mais do carro para que possa respondê-la sem que tenha que gritar, mas antes que eu faça isso, sou atingida por trás por uma forte pancada na cabeça que me deixa tonta.
A última coisa que me recordo antes de desmaiar é uma risada rouca. Inebriante.

Quero gritar por socorro, mas minha visão some feito um borrão.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora