21 - Sequestro

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Meu rosto está latejando muito.
"Vamos, vadia. Acorde!" A voz que me acerta com um novo soco no rosto é masculina. Meus olhos estão vendados e nem mesmo sei como é sua feição, mas o temo.

O gosto enferrujado de sangue em minha boca me diz que devo teme-lo.

Estou a sentir cheiro de queijo misturado a alvejante de eucalipto. Tento processar em minha mente qualquer lugar que seja que tenha algo relacionado a aquilo para que saiba onde estou mas não recordo de lugar algum.

Estou notoriamente fodida.

"Não precisa machuca-la, trenx" Podia reconhecer de longe a voz daquela moça loura. Seu rosto foi o último que vi antes de ser atacada. Era tudo um plano. Ela fazia parte daquilo também.

Na América Latina os crimes costumavam a ser julgados de formas parciais e por isto era quase algo comum. Mas, aqui, em solo italiano, eu não tinha ideia do que fazer ou como agir.

Meu coração está a palpitar e controlo minha respiração a cada segundo. Eu não tinha ideia do que iriam fazer comigo, mas sabia que não era algo bom. "O que vocês querem comigo?"

"Está brincando, não?" Meu cabelo é puxado com tanta força que fico a ponto de soltar um grunhido doloroso. Quero gritar, quero gemer de dor. Quero sair dali.
"Nunca ouvistes falar em sequestro relâmpago?" Ri. "Foi sorteada para um, meu bem. Apesar que eu poderia ficar com você por muito mais tempo que preciso." Seus lábios tocam-me o pescoço e estou enrijecida. Nervosa.

Aquilo seria terrível.
Eu já devia saber.

Me arrasto para trás, afim de encontrar algo para que eu venha a me sentir protegida mas tudo é frio e gélido e estou enojada, desesperada, apreensiva. Com pavor do que aquele homem poderia me fazer.

Ele aperta minhas bochechas "Diz seu nome pra mim, gostosinha" desliza sua mão até o meu pescoço e força uma pequena forma de me aterrorizar. Está a conseguir.

"Cameron" é o primeiro nome que me vem a mente. Se entrarem em contato com Cam, ela irá me encontrar, penso. És minha única amiga agora. "Porscher. Cameron Porscher."

Meu pulso está a arder. Uma braçadeira está a aperta-los próximo a altura de meus joelhos. Estou inofensivamente fragilizada.

Sinto passos se aproximarem a medida que estou recostada a aquela parede. "Está tão diferente, Cameron." Desta vez é a mulher quem diz em tom irônico. "Diante desta venda, você mal parece loura de olhos azuis." Sinto meus lábios se baterem num ritmo frenético e assustado. "O que pensa que está fazendo, vagabunda?" Meus cabelos são puxados e tenho a cabeça batida contra a parede. Uma. Duas. Três vezes.

Começo a sentir meu corpo cansado e mesmo sem enxergar, sei que minha visão está turva e zonza e estou com medo.
Pela primeira vez tenho medo do que pode acontecer a minha vida ou a vida de qualquer pessoa que os interrompa.

Decido me entregar ao choro, mesmo que as lágrimas tornem-se pequenos importunos impedidos e absorvidos por aquele pano grosso e áspero em meus olhos.

"K-Ka..trina" Meus dentes rangem. Desesperada. Gaguejo conforme dito cada mínima letra. "Me chamo Katrina Cavalieri"

Um ruído risonho é tudo que escuto antes que sinta a presença da garota um pouco mais distante.

"Espero que seja uma boa garota" sua tonoridade é rigorosa. Ameaçadora. "Se o fizer, prometo não deixar que trenx toque em você. Caso contrário, você sabe o que acontece. Certo, Kat?"

Kat.
Aquelas mínimas letras ditas num momento imprudente me traziam um peso enorme a consciência.

"Vejo que recuperou seu emprego, Kat"
"Kat... Você me salvou de mim mesmo"
"Kat. Eu sinto muito... Sou tão fraco"

Eu não quero pensar nele. Muito menos em sua maldita forma de sussurrar aquele apelido diminutivo de meu nome. Mesmo que não significasse muito lembrar, eu não queria ter se recordar do que Paulo e eu tivemos naquele instante. Não agora.

Penso que ter memórias de Paulo ou de suas últimas palavras em meus claros últimos momentos de vida é de certa forma um também torturamento.

Penso agora que acontecera o esperado. Ele me usou e me deixou ir embora logo em seguida. Me descartou como a um guardanapo e por isso estou aqui agora.

Sem ao menos um porquê ou porém. Sabendo que a qualquer momento alguém terá de receber uma ligação e que eu não tenho ninguém vivo para que faça isso.

Sem ter qualquer familiar próximo que pudesse me ajudar ou pagar qualquer resgate que fosse pedido. Eu só tinha a Paulo, na verdade. Mas agora já não o tinha mais.

"Veja só, buma" Posso escutar a surpresa na voz do homem depois de minutos em silêncio. Está a certa distância, mas ainda parece perto demais e isso me aterroriza. "Quem diria que nossa querida refém é nada menos que namorada de La Joya italiana?"

Espreito meus olhos. Nervosa.
Meu coração está numa velocidade tão rápida que seria impossível calcular um valor exato, mas que seja. Que corra rápido o bastante para que ultrapasse o limite e que me permita uma morte natural.
Como pude me esquecer que meu nome agora era matéria em sites da internet juntamente ao nome dele desde aquela suposta cena no elevador ou a suspeita demonstração de afeto no hexacampeonato da Juventus?

Eu não estava só cavando a minha ida para o outro mundo, dizer meu nome e permitir que descubram coisas só faz com que eu esteja pondo Paulo na mesma vela furada, pronta a naufragar.

"Paulo Dybala?" O pseudo demônio louro engasga um grito. "Puta merda! Achamos finalmente nossa mina de ouro, trenx." Felicidade e gratidão é tudo que posso encontrar em suas palavras e começo a sentir-me culpada por trazer outras pessoas comigo para esta enrascada.

Sinto que preciso ficar quieta. Calar-me e apenas esperar o momento em que tudo chegue ao fim, mas não consigo.

Tomo o mínimo de coragem para murmurar. "Eu não me garantiria nisto. Paulo me chutou pouco antes de me trazerem para cá. Acha mesmo que irá se importar comigo tendo centenas de top models a seus pés?"

E eu não estava mentindo. Dybala me deixou sem um motivo qualquer. Me deixou desprotegida, devastada, e fez com que meu coração se destruísse, assim como o seu estava quando nos conhecemos.

Havia grande porcentagem de verdade naquilo. Um pequeno prazo de silêncio se fez presente ali, perto de meu devastado e desprotegido corpo e então a voz da loura é a que me desperta.

"Por que acha que acreditariamos em você?" rebate, presunçosa. Mesmo sabendo que não posso encara-la nos olhos, sei que está rindo de mim. "É óbvio que pode estar a dizer isto para proteger o garotinho sensação. Todos o protegem, afinal. Mas, fique tranquila, dele nós só queremos o dinheiro."

"Diga por você" Risonho, o demônio numero-dois grita de onde está. "Eu pretendo me aproveitar o máximo que puder deste troféuzinho de Dybala."

Um misto de sentimentos está a se dividir por meu corpo. Raiva, nojo, e medo me dominam e completam cada milímetro de minhas veias.

Raiva de Paulo por permitir que eu saia de sua casa sem que tenha vindo atrás de mim. Por ter desistido de mim.
Nojo do pseudo demônio numero-dois e de todas suas ameaças contra meu corpo e fragilidade. Independente de qualquer coisa, eu era apenas uma garota indefesa nas mãos de alguém. Alguém que está deixando evidente sua vontade em violentar-me.

Pela primeira vez na vida, sinto que estou a realmente sentir medo de algo. Não um medo qualquer como barata voadora ao algo do tipo. Sinto medo de morrer ou de que algo aconteça.
Medo de que Paulo descubra e cometa algo contra sua própria vida para que possa salvar a minha.

Eu já não tinha muito mais a viver, mas Dybala ainda tinha todo o mundo a sua frente. E eu o amava tanto a ponto de querer que realize seus sonhos e viva intensamente.
Morrer agora não seria uma opção ruim levando o fato de que eu finalmente poderia encontrar meus pais e fazer companhia aos dois pelo resto da eternidade.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora