Capítulo 27 - Morta

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POVS Katrina

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POVS Katrina.

Hoje, estou num daqueles dias em que sinto-me emocionalmente traumatizada. Por momentos, gritos, lembranças.
Minha briga com Paulo é uma destas que me assombram. O último momento que tivemos, principalmente. Um término. Um fim que nem mesmo teve um começo. Uma última vez. Ele chorando feito um garotinho. Um garoto solitário precisando de amor. De paz.

Paz.

Nem mesmo sei mais o que isso significa desde que cheguei neste lugar. Sem fazer ideia do quanto tempo se passou ou de quanto tempo mais terei em vida. Refém de gritos, da fome, da angústia.

Dizem que quando estamos em nossos últimos momentos de vida, começamos a repensar em todos os momentos em que vivemos.
Acho que estou perto do fim, porquê, não consigo deixar de pensar em Paulo nestes últimos dias que estou a viver nesta imensidão negra por baixo da faixa que me cobre os olhos.

Penso também em meus pais. Em minha família. Penso em todos os momentos que vivi no Chile, e até em meu início de vida aqui na Itália. Na faculdade de finanças, e no quanto sofri no período de jornalismo e comunicação. Eu era tão péssima.

ELES GRITAM.
NÃO PARAM DE GRITAR!

Estou em surto. Quero gritar de volta e pedir para que parem. Choro, me espernio, suspiro e sufoco-me no puro caos.
Estou destruída.
Preciso muito de algo que me traga paz em meio a tantos gritos. Em palavrões e agressões físicas e verbais e queria ter algo para pôder acalmar-me o coração.
Certeza.
Queria ter a certeza de que Paulo sente o mesmo que sinto por ele, e me agarrar nesse amor, mas, não sei se posso. Não mais.
E se eu estiver dramatizando algo que já chegou ao fim?
Oras, se acabamos, porquê eu não consigo deixar de ama-lo? Seria tão mais fácil desistir disso e me entregar aos planos de cristo para mim, mas, não consigo.

Agora estou abandonada, fragmentada por angústia, e são apenas aqueles olhos esverdeados os únicos que me fazem ainda ter esperanças.
Se pudesse, queria tocar Paulo uma última vez. Vê-lo sorrir, implorar-lhe para que não me esqueça. Tenho medo que me esqueça porque sinto que estou a desaparecer nesta dócil escuridão que torna-se literal em minha vida.

Agora estou amedrontada, com pavor, por que sei que sem Paulo, eu não tenho qualquer valor para estes dois criminosos e temo que quando perceberem isso, será o fim.

Para mim.













Minhas pernas doem, tremem, bambeiam em meio a cãibras por estar tanto tempo na mesma posição.

Busco profundamente em meu inconsciente e depois de certo tempo em reflexão, acabo por encontrar memórias em que meu primo, Cayk, falava sobre um desenho chamado Dragon Ball, onde haviam dois personagens chamados Buma e Trenx.

Eles estavam a usar codinomes para auto conversarem, eu sabia, mas, num dia qualquer, o cara (codinome trenx) acabou por chamá-la de Izzy. Estavam longes, mas pude escutar claramente. Desde então tudo entre os dois começou a mudar.

"Não vai dar certo!" Escuto ela gritar. Irritadiça. "Ela estava certa! Já fazem dias e eles sequer dão a mínima."

Sim. Não vai. Demorou para perceberem que não tenho ninguém por mim. Nem Paulo, nem ninguém.

"O quê quer que eu diga?" Pela primeira vez, o pseudo-demônio começa a não dar ouvidos a garota e fico nervosa. "Não é como se pudéssemos desistir agora, filha. Está feito."

Não. Há tempo de mudar. Mudem de ideia e me libertem, por favor.

"Ela não conseguirá nos reconhecer" completa a loura. Mas posso escutar-te, vaca. "Temos de pensar em algo, e rápido. Se alguém contactar a desaparecidos e eles nos acharem, estamos perdidos!"

Escute ela, pseudo-demônio. Me deixe ir. Eu não tenho quaisquer valor para vocês.

Ouço um ruído a seguir. Como se tivessem socado algo. A parede é a vítima da vez, e pelo tom raivoso, sei que foi o pseudo-demônio, com certeza.

"Não podemos desistir agora!" Retruca. "Ele está atrás dela. O garoto ainda está a fazer correntes e chamadas televisivas. Temos de ir até o fim com isto!"

Paulo está atrás de mim? Eu... Deus!

"É arriscado demais, trenx!". Ela replica. "Eu estive pensando e talvez todo o envolvimento da mídia seja pior para nós."

Ele começa a se alterar. "Já estamos fodidos, porra!" Seus gritos são excruciantes. Agitados. "Se quer desistir, vaza logo. Mas não enche a merda do meu saco."

Porém, não consigo prestar mais atenção em nada tendo a escutar que Paulo -Meu Paulo- , está a me procurar.
Senhor! Como em meio ao caos este garoto com pinta de celebridade não sai de meus pensamentos?

Estou tão apaixonada e tão feliz por saber que ele não desistiu de nós que sinto que vou perder o resto de sanidade que ainda me sobra nesta guerrilha de problemas.
Desnutrida, fraca, sem poder ver nada á dias, no meio a escuridão, pouco me importo com tudo sabendo que Paulo não desistiu de nós.

"Hora de irmos, boneca!" É a voz do demônio de olhos azulados. Ouço seus passos se aproximarem, até que, a faixa de meus olhos é puxada, deixando-me apenas com o pano preso a boca.

Demoro a me adaptar a claridade, mas agora posso enxergar perfeitamente os contornos de meu sequestrador. "Pra onde vai me levar?" Tento gritar.

Ele me dá um meio-sorriso. "Está tentando dizer algo?" Puxa a faixa presa em minha boca e busco ar. Respiro pela boca como se fosse um pequeno recém nascido a respirar pela primeira vez.

Ele segura meu braço com força e me puxa para ficar de pé. Bambeio, a princípio, estou fraca demais para me manter. "Ande logo!" Ele segura uma arma próximo a minhas bochechas e estou soando frio. "Chegamos a hora de você me trazer meu ouro!"

Ri de forma demoníaca.

Tropeço em algo quando atravessamos a porta, e me assusto.
Olho para baixo para verificar o que me atrapalha, e sufoco um grito de socorro quando vejo o corpo da loura estendido á minha frente.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora