22 - Tudo destruido

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Algumas horas antes.


Paulo se levanta aflito e trêmulo. Percorre todo o corredor em passos largos até seu quarto. Agora o único lugar no mundo que o faz se sentir em paz. Protegido de tudo. Sem qualquer câmera ou tablóide que esteja a observar cada mínucioso passo perdido que vem dando.

Estava divido em sentimentos e problemas. Tão cansado de seu irmão, Mariano, viver a jogar-lhe a cara frases sobre seu pai que agora está num hospital. Cansado de sua mãe viver a crucificar um homem que ele ao menos pôde conhecer. Desesperadamente cansado de tudo.

Abre a porta num sobressalto quando encontra Pierpaolo de pé, próximo a sua cama. "O que está fazendo aqui? Pensei que estivesse a resolver problemas na Inglaterra." Diz, despretensiosamente.

"Você perdeu o contrato com a Nike."

O jogador fica chocado. "Como assim eu perdi? Porquê?"

"Eles simplesmente não querem renovar, Paulo." Esbraveja. "Eu te pedi para ficar tranquilo enquanto eu estivesse com Pogba em Manchester. Você só precisava se manter longe da mídia e mais nada."

"Eu não fiz nada de errado. Eu juro"

"Oh! Não fez?" O agente está raivoso. Paulo anda de um lado para o outro repuxando-lhe os fios de cabelo úmidos. "Levar uma garota no hexacampeonato? Deixar com que a mídia veja você beijando pouco depois do falecimento de Antonella? Suas fãs, as mesmas que te dão lucro por acessórios, estão loucas, a mídia está puta por você não respeitar o falecimento de sua noiva, e é claro... É claro que você não fez nada. Eu te deixei bem aqui. Lutamos tanto para conseguir isso para você, e olha agora.. foi só essa garota aparecer..." O agente desliza sua mão sob o pescoço, como se estivesse a cortar-lhe a própria garganta.

"Deixe-a fora disso. Ela não tem qualquer porcentagem de culpa em nada" Paulo fica rígido. Aquela não é a primeira vez que alguém o pedia para se afastar de Katrina e aquilo o martirizava. "Eu tenho a plena certeza de que tudo isso não passa de um engano da parte deles. Eu sou Paulo Dybala, não? Eles não vão querer me perder"

Pierpaolo se aproxima e estende o dedo a frente do rosto do garoto "Você é o que é porquê eu te pus onde você está hoje, e basta apenas um erro para que eu o derrube."

Paulo suspira.

"O que você quer que eu faça, então?"

Uma batida na porta os interrompe.
"Paulo" é a voz de Katrina do lado de fora e aquilo é o bastante para que o jogador fique apreensivo.
Como explicar para seu agente que quando se apaixona por alguém não tem como desfazer este laço em segundos? Paulo estava demasiado apaixonado pela morena de beleza exótica.

"Acabe com qualquer laço afetivo ou contato que tenha com ela." Retruca o homem engomado num terno. Sua voz é parcialmente irritada. "Agora."

A resposta de Paulo sai num murmúrio "Eu não consigo..."

"Apenas o faça" O tom de voz do agente muda. "Ou teremos consequências."

Paulo se dividir entre olhar para a porta, no que está atrás dela, e para seu empresário. "Ok" inspira ar, derrotado. Cruza as pernas próximo ao rosto e está a quase chorar.
Precisa arrumar uma forma de ter coragem para fazer aquilo. Precisa de um motivo plausível para que a garota que vem dominando seus pensamentos do dia e sonhos não o odeie para sempre.
Por fim pega seu telefone e puxa no Google uma foto sua com sua ex noiva.

Pierpaolo caminha até o banheiro do quarto de Dybala e recosta-lhe a porta, escondendo-se atrás.
Katrina no momento seguinte invade o quarto e encara o namorado com pesar, mas com amor e adoração.

"Hey" seu tom é demasiado caloroso.
"Oi" ele é frio. Ou tenta ser em meio ao misto de sentimentos que tem por suas veias quando Kat senta-se a seu lado.

"Você tá bem?" Tão gentil que ele estava a ponto de se desfazer em lágrimas.

"Kat" Ronrona. Olha arduamente para a porta de seu banheiro e vira-se para a garota. "Eu sinto muito. Eu sou tão fraco...."

O que vem a seguir é o peso de dois jovens corações sendo partidos ao meio. Por motivo algum.
Dybala nunca pensou que pudesse amar alguém novamente, mas Katrina fez por ele em dois meses o que apenas Antonella Cavalieri havia o feito. A doçura da chilena lhe despertou as melhores sensações, momentos, lembranças e agora ele estava a chorar. Feito uma criança quando a viu sair pela porta.
Aquela seria a última lembrança que teria da garota. Tudo por ser falho o bastante para valorizar mais sua carreira do que o seu coração.
Prezava por seu sonho, mas sabia que ao realiza-lo, estava sentenciado a perder muito mais.

Três meses antes havia perdido a noiva num estranho acidente.
Um filho que ao menos teve o prazer de conhecer ou beijar-lhe o rosto.
Três meses depois lá estava a perder alguém tão importante o quanto.

O homem de aproximadamente 40 anos deixa o banheiro e ri do jogador. "Você não vai morrer por isto, Dybala." Encara seu relógio.

Paulo o encara, enojado.

"Você fez o que tinha de fazer por seu bem. Garotas como esta são o que mais tem por aí, e fala sério, você é o craque da Juventus. Consegue comer a garota que quiser, Dybala."

A porta é aberta novamente. Alícia, Mariano e Gustavo são quem surgem no quarto desta vez. "Kat! Paulo!"

Katrina não está mais ali.
Todos percebem.

"Eu não sabia que você viria hoje, Pierpaolo." Alícia é receptiva. "Podemos pôr um assento a sobremesa para ti."

"Eu adoraria!" O empresário diz. Todo risonho para a mãe do jogador.

"Ele já vai embora." Paulo é quem diz. Levanta-se num pulo e limpa os resquícios de lágrimas que estão a manchar seu belo rosto jovial.

Pierpaolo levanta uma de suas sombrancelhas e entende o que Paulo está fazendo. Está um tanto chocado por Dybala estar o expulsando de sua casa.

Dybala não dá a mínima. Agarra um casaco preso no cabideiro e segue para fora do quarto.
"Onde você vai? Cadê ela?" Mariano vem atrás. É o único a perceber que algo não está certo.

"Tenho de reparar um erro que cometi com ela" é tudo que diz antes de sair porta-a-fora.

Ao menos se preocupa em pegar seu carro, pois sabe que Katrina ainda deve estar no ponto de ônibus.
Pouco se importa com patrocínios ou com o que os fãs pensam a respeito. É com aquela garota que ele planeja ficar e goste ou não, terão de aceitar.

Quando para ao portão do condomínio de luxo, olha para todos os lados em busca do rosto da garota. Não o encontra em lugar nenhum.
Puxa seu telefone e disca o número da jornalista repentinas vezes, mas ela nem se quer o atende.

Mal se dá conta que do outro lado da avenida um telefone está a vibrar dentro da bolsa jogada ao chão.




Assim se segue pelo resto da semana.
Paulo ignora o seu agente, faz o que tem de fazer pela Juventus e nos tempos livres vai até a pensão, mas dizem que Katrina não está.
Segue até a redação da ESPN, mas também lhe dizem que a garota sequer apareceu.
Pensa então que agora ela o odeia o bastante para que tenha abandonado tudo que ama porque sabia que eram os lugares que ele podia encontrá-la. Então, mesmo com o coração a doer por tal decisão, prefere desistir e dar o tempo que acha que a garota precisa.

Mal sabe o erro que cometeu.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora