O ASSALTANTE

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Um conto de JVLeite

Saio apressado do escritório do Matheo, coração a mil por hora e uma vontade de esmurrar a cara de alguém, talvez a dele. Desço o elevador sentindo o peito ardendo com a vontade de berrar, o ar escapando dos meus pulmões e a vista embaçada pelas lágrimas contidas. Se ele acredita que vai tomar as crianças de mim, está muito enganado. No fundo ele só está interessado na herança que o Tobias deixou. Mas eu sou o pai, tão pai quanto o Tobias foi, e não vou deixar nenhum cunhado interesseiro, filho da puta e sem alma tirar meus filhos de mim.

- Não mesmo. _ Penso em voz alta. Saio do elevador, atravesso o hall de entrada a passos largos, passo pela porta automática de vidro, desligo o alarme do carro que está estacionado do outro lado da rua, e quando entro no carro, a raiva explode na minha boca.

- PORRAAAAAAAA!!! _Grito até ficar sem ar, olhando fixo o nada, a escuridão a minha volta e eu apertando com tanta força o volante do carro que sinto a pele da palma da minha mão se descolando. A dor que sinto não é tão insuportável quanto a provável possibilidade de perder meus filhos, e só de pensar nisso, meu coração se contrai tanto dentro do peito que a dor escorre pelos olhos. Tapo o rosto com as duas mãos e me permito extravasar, colocando para fora a raiva que me consome, sem acreditar que fui tão burro a ponto de me encontrar com meu cunhado a essa hora da noite, nessa merda de escritório, somente para ouvir absurdos. Choro e soluço feito um garotinho. Já não me basta perder o homem da minha vida, será também que terei que perder meus filhos? Fico ali, tentando me acalmar, me segurando para não voltar lá, naquele escritório, e partir a cara do Matheo em dois.

- Canalha. Cretino. _ Soluço.

A porta do passageiro se abre.

- Anda, anda, anda... Dirige, vai, vai, vai, vai...

Fico completamente pasmo e sem ação com a figura ao meu lado, com um revolver na mão, o peito nu e uma camisa amarrada na cabeça, apenas seus olhos de fora.

- Era só que me faltava! Sai do meu carro, pivete._ Falo ainda incrédulo, enxugando as lágrimas.

- Dirige porra... Senão vou fazer uma bala atravessar essa sua cabeça loira e sujar esse seu carro de barão todo de sague. _Suas mãos tremem.

- Duvido que essa sua arma seja de verdade. _ Retruco, fungando.

- É de verdade sim seu coxinha, desgraçado, filhinho de papai... Dirige essa merda.

- Coxinha, desgraçado, filhinho de papai? _Rio alto. - Que tipo de bandido é você? Se ao menos você gritasse: Perdeu playboy!!!, talvez eu acreditasse que fosse realmente atirar em mim. Mas esses seus adjetivos não combinam com um assaltante. Não mesmo. Cai fora. _Fecho a cara.
Seus ombros arqueiam e ele me encara como se estivesse completamente desiludido da vida.

- Fui tão mal assim? _ Sua voz soa como um lamento. Ele recosta a cabeça no banco do carro e suspira audivelmente e longamente. - Eu sou um fracasso._ E desaba num choro que me deixa sem ação.

Observo a figura da cabeça aos pés, um cara magro, barriga lisinha, músculos definidos, calça jeans que aparenta ser de boa qualidade, tênis de marca e a barra da cueca de fora, Calvin Klein. Muito estranho para não dizer bizarro. O relógio no pulso marca vinte e duas horas, mas o que me chama mais atenção é aquele retângulo azul, branco e vermelho, da Tommy Hilfiger. Ou o cara já assaltou um bocado antes de acabar em mim, ou está drogado, ou está desesperado. Ou é louco, que para mim, na altura do campeonato, é a pior das hipóteses.

- Olha garoto... Você não vai conseguir muita coisa de mim. Faz seis meses que meu parceiro morreu, ainda não saiu o inventário dos seus bens, meu cunhado tá querendo tirar meus filhos de mim por causa da herança, esse carro tem rastreador, e minha carteira tem apenas alguns reais. Se você quiser pode levar meu relógio, mas não vale muito mais que esse no seu braço.

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