Amor Caipira

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Parte 1

Amor Caipira

Após um dia exaustivo de trabalho e cansado da vida rotineira de serviço na roça, volto pra casa e lembro que não tenho mais mulher. Ela disse que não me suportava mais, pegou as coisas dela e foi morar com os filhos na cidade.

Tenho dois filhos homem e uma filha mulher. Eles já estão casados e formados na faculdade cuidando de suas vidas. Trabalhei como um burro pra formar meus filhos, mas graças a Deus fui agraciado e deu tudo certo. Um deles até já me encomendou um netinho.

Acendo um cigarro de palha do fumo em rama que comprei na venda do Zé. Depois que fiquei sozinho me agarrei ao vício do cigarro, mas prometi abandonar se encontrar um novo amor. Enquanto isso, eu continuo nessa vida de cão abandonado vivendo de casa trabalho todo dia,

Minha mulher reclamava mais eu gosto do serviço da lavoura, foi daqui que tirei o sustento de meus filhos. Coisas de pai de família que sempre se preocupou em dar o melhor de si para criar sua prole. Meu pai me ensinou que pra ele podia faltar qualquer coisa, mas quando era pra mim tinha que dar um jeito e eu segui esse exemplo em relação aos meus filhos.

Não posso reclamar da vida que Deus me deu, dizem que o barato dela é viver cada momento como se fosse o último. A gente sabe que no dia a dia isso tudo é conversa fiada para não fraquejar diante dos perrengues da vida, mas como eu sou um cara insistente tentei fazer minha parte da melhor forma possível.

Meus filhos não querem saber da vida na roça, aqui a rotina do dia a dia é sem atrativos. Não tem aquelas máquinas poderosas que eles usam como uns loucos e nem olham mais pra gente. Ninguém conversa mais, a última vez que eu tive na cidade cada um dos meus filhos tinha o tal do celular na mão e achavam graça de tudo. Eu tenho esse negócio, mas uso pra falar numa emergência. Meu aparelho não é sofisticado como o deles, sou grosso mesmo. Gosto daqueles das teclinha preta e um visorzinho pequeno onde aparece apenas o número, mais pra mim já é o suficiente.

A roça daqui é formada por pequenas propriedades que é o nosso meio de sobrevivência. Quem é casado geralmente à esposa o acompanha no trabalho da lavoura. A grande maioria dos solteiros migrou pra cidade e os poucos que sobraram são assim como eu que não quis saber da vida agitada. Sinceramente, prefiro a minha inchada e o meu arado. Foi essa a maneira que meus pais me ensinaram a sobreviver e onde encontra a felicidade.

Eu costumo ir ao Bar do Zé nos finais de tarde tomar uma cachacinha. O Zé é proprietário de um armazém que fornece alimentos pra esse povo aqui do interior. Ele é um negro gordo parrudo e viúvo. Viúvo? É, acho que sim. Na verdade ninguém sabe da vida dele, o homem veio morar aqui faz uns cinco anos e vive vendendo mercadoria durante o dia e cachaça a noite, mas tem um dia que o Zé vai pra cidade e não atende no bar.

O povo daqui comenta que ele vai se esbaldar na cidade grande com a desculpa de comprar mantimentos para o armazém. Feliz do Zé que pode ir atrás de uma mulher porque oh coisa que faz uma falta danada. Ultimamente eu venho sentindo uma vontade medonha de ter uma mulher na minha cama, o danado do sangue ferve e eu sou um coroa enxuto, tenho cinquenta e oito anos e ainda dou muito no coro.

Dia desses, eu deixei a vergonha de lado e pedi pro Zé me trazer uma revista de sacanagem lá da capital. Tive que apelar pra isso, aqui nesse fim de mundo não tem mulher disponível, são todas casadas e se o marido pega elas pulando a cerca é tiro na certa. O cara perde os bagos. Aqui, os cabras são capazes de capar o cara e eu prezo pelos meus dois taludinhos.

Nesse momento estou chegando ao armazém do Zé, ele me avisou mais cedo que a minha encomenda chegou. Nem lembrava mais, faz alguns dias que pedi e até achei que ele tinha esquecido. O Zé é o único vendedor aqui da roça. Se não compra dele, o jeito é ir à cidade, mais o ônibus sai de madrugada e volta só no dia seguinte no final da tarde, então o povo daqui costuma pedir pro Zé fazer as compras.

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