DEPOIS DO FIM - EPÍLOGO

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Um conto de AllanaCPrado

3 anos depois...

“Quando me sinto só
Te faço mais presente
Eu fecho os meus olhos
E enxergo a gente”

Acordo sem muita vontade de acordar, mas impulsionado pelo som do despertador e motivado a desligá-lo. Eu só queria dormir mais um pouco, visto que na noite passada eu fiquei andando de um lado pro outro pela casa pensando na vida. Não que tivesse muito a se pensar, mas o cérebro às vezes cria umas paranóias que é praticamente impossível de ignorar depois que começa.
Me levanto ainda cansado e vou escovar os dentes e lavar o rosto pra espantar a sonolência, volto pro quarto e arrumo a cama antes de ir pra cozinha preparar qualquer coisa. Uma das únicas coisas boas de dormir sozinho, é que apenas um lado da cama fica bagunçado. Tentei me convencer disso e não dar margem pra mais nenhum pensamento depressivo.
Dou de cara com a Jully deitada no tapete, olhando tristemente pras paredes e sem sequer ligar pra minha presença. Ela não veio pular na cama pra me acordar e eu sabia bem o porquê, por mais que nós nos déssemos bem, eu ainda não era o Pedro. Aquele por quem ela tinha verdadeira adoração e fazia uma falta danada. Fiz um carinho em sua cabeça e passei por ela, indo até o fogão e colocando uma água pra esquentar para fazer o café. Enchi uma tigela cheia de ração, me lembrando só depois de que ela precisava comer, e levei até lá como o Pedro sempre fazia. Jully me olhou desinteressada e nem fez menção de tocar na comida, empurrando a tigela com a patinha pra bem longe.

–Você tá saudade dele, né?
Soltei um murmúrio pra ela que me retribuiu com um ganido, como que entendendo o que eu estava falando e me respondendo.

–Eu também tô. Mas você não pode ficar sem comer por isso. Ele não ia gostar.

Arrasto mais uma vez a tigela de ração em sua direção e ela come algumas bolinhas, roçando o focinho com desinteresse nas outras. Bom, eu iria deixar ali, quando ela sentisse fome de verdade, com certeza iria procurar. Depois de tomar meu café, me empenhei em dar continuidade ao meu trabalho que ficara parado na noite passada por falta de animo. Abri o notebook, dando logo de cara com um sorriso do Pedro estampado no meu papel de parede e reprimindo a saudade que senti dele. Não era hora. Passo algumas horas nisso, vez ou outra vendo a Jully caminhar descontente de um lado pro outro, e me concentrando em não perder o foco. Desenhei mais alguns esboços, fazendo algumas anotações importantes e que não poderia esquecer pra aproveitar a inspiração momentânea. Era a primeira em quase uma semana de bloqueio. Quando me dei conta, já estava na hora de parar tudo e me apressar, senão iria me atrasar.

De repente me peguei ansioso como não ficava a semanas, fechei o computador e minhas pastas, colocando-as em um lugar alto pra que a Jully não inventasse de comê-las. Troquei o pijama por algo mais apresentável já eu que não havia feito isso ainda e sorri satisfeito. Quando estava pra sair, recebo um olhar pidão pro meu lado.

–Eu não vou te levar. Não vou mesmo. Não... Vamos lá pegar a coleira.
Rendi, com sempre fazia, observando que aquela cachorrinha havia entendido que eu ia sair e me pedia pra ir junto.

Voltei com a coleira devidamente posta nela e saímos pra não nos atrasarmos, ela parecia sentir e absorver meu estado de espírito e saber que aquele era o dia.

–Você vai ter que prometer se comportar, as pessoas já olham estanho pra vira lata, ainda mais se ele estiver sendo mal educado... – Parei pra olhá-la no banco traseiro enquanto esperava o sinal abrir. – Não neném, não tô te chamando de vira lata, bem, você é, mas não foi pra ofender.

Era uma coisa que eu havia aprendido com o Pedro, falar com ela como se fosse gente e, com o tempo, percebi que ela entendia muita coisa. Até começar a entender suas expressões eu comecei, por isso, me redimi ao chamá-la de vira lata.
Conduzi diretamente ao meu destino, com uma crescente ansiedade e afobação características do momento. Juro por tudo que minhas mãos começaram a suar no momento em que eu estacionei o carro um pouco mais afastado do aeroporto pra não atrapalhar o transito caótico da entrada. Reboquei a Jully, ou melhor, ela me rebocou, puxando a coleira com força enquanto corria. Em questão de segundos já estávamos nas grandes portas de entrada do aeroporto.

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