EXTRA DE HEY PROFESSOR

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Esse conto é um extra do romance Hey Professor. De TomAdamsz

[Dê play na música antes de ler].

— Tommy? — o chamei, descendo as escadas. Coloquei as mãos na cintura, passando os olhos por todo o cômodo. — Tommy?

Dei um longo suspiro, coçando a cabeça.

— Onde ele se enfiou? — murmurei.

Em passos lentos, dirigi-me a outra sala e ao deparar-me com a porta que dá caminho a piscina totalmente aberta, senti meu coração saltar. Desesperei-me e voei em direção ao local. Ainda tremendo, examinei a água minuciosamente.

— Que alívio. — soltei o ar que estava preso nos pulmões. — Por um momento eu pensei que... — sacudi a cabeça, esfregando ambas as mãos no rosto. — Garoto sapeca!

Recompus-me e entrei novamente na mansão. Afinei os olhos e conclui o óbvio. Está querendo brincar de esconde-esconde com o papai? Arqueei uma das sobrancelhas, abrindo um sorriso de canto.

Pus as mãos na cintura, começando a estudar todas as possibilidades. O som de uma panela caindo na cozinha ativou meu alarme. Em passos silêncios e ligeiros, atravessei toda a casa, parando em sua entrada.

— Onde está o meu pequeno travesso? — usei de um tom brincalhão, recebendo risadinhas em resposta.

Ao inclinar-me um pouco para frente, olhando por cima do balcão de mármore que divide a cozinha, vi pezinhos no chão. Sem pressa, fui até ele, até que o vi e MINHA NOSSA!

Arregalei os olhos, estupefato com a cena. O corpo coberto com farinha de trigo. Várias vasilhas no chão, cada uma com um ovo quebrado dentro. Leite espalhado pelo piso, leite no cabelo, leite na roupa. Chocolate em pó no nariz e na boca, e na colher que estava entre seus lábios.

— Oi, papai. — ele sorriu, mostrando os dentinhos.

— Oi. — gemi desanimado.

Sacudi a cabeça e fechei os olhos, forçando-me a acreditar que aquilo era apenas um sonho e que quando eu acordasse, estaria na minha cama, dormindo com o senhor meu marido, Caio.

Outra risadinha sapeca, dessa vez, quebrando toda minha concentração.

— Não... — tombei a cabeça para trás, soltando um murmúrio de derrota. — O que... Como... — dei um longo suspiro, sem saber por onde começar. — Amor do papai, que bagunça é essa? — franzi a testa.

— Bolo de aniversário. — acenou com a cabeça.

— Aniversário? O seu já passou. — expliquei, tocando seu narizinho com o indicador.

— Da vovó.

— Da vovó? — tentei me lembrar, mas não consegui. Sequer ouvi menção disso.

— Quantas velinhas vai ter no bolo da vovó, papai?

— Muitas. — o peguei no colo, sentando-o em cima do balcão. — Não se mexa.

— Que tanto de muitas, papai?

— Cinquenta. — chutei e se errei, que minha sogra não tenha ouvido.

— São muitas velinhas, papai. — acenou com a cabeça.

— Andou comendo chocolate? — peguei a colher de sua mão, encarando-o.

— Não, papai. — negou descaradamente.

Não fosse a boca estar completamente borrada de marrom, a mentira talvez colasse.

— Tem certeza? — afinei os olhos. Tommy negou com a cabeça. — Então?

— Comi, papai. — confessou, roçando os pés um no outro.

Tommy é cheio de manias. Roçar os pés quando confessa uma mentira é uma delas. Ensinamos que bons meninos não mentem, mas sim contam suas travessuras. O meu pequeno parece estar tendo dificuldade em entender o significado de “travessuras”, mas tudo bem. Dê tempo ao tempo e o tempo lhe dará as respostas.

— Certo. Não se mexa. — ordenei.

Ajoelhei-me no chão, começando a limpar toda aquela sujeira. Foi o prazo de tirar os olhos dele e “puft”, sumiu de novo. Cheguei a piscar algumas vezes desacreditado naquilo.

— É um teste, Deus? — encarei o teto. — Pleno domingo, semana exaustiva e meu filho quer brincar de esconde-esconde? — cocei a cabeça outra vez.

Culpa do trabalho! Você sai de manhã e chega apenas às cinco. Ele só fica com você das cinco às vinte e uma horas, quando dorme. A culpa é totalmente sua, Douglas. Totalmente!

Deixei a limpeza de lado. Enxuguei as mãos em um pano de prato. Assim que apontei na sala, o vi no final do corredor, encarando-me.

— Tommy, venha aqui. — ele negou com a cabeça, soltando uma risada gostosa. — Se papai for te buscar, vou te fazer cocegas. — mostrei-lhe meus dedos que se moviam incansavelmente.

Ele riu outra vez, em seguida, correu em direção ao salão de confraternização. Olhei no relógio de pulso, dez da manhã. Caio tinha me dito que iria sair com a mãe. Se eu tivesse acordado mais cedo...

Dei um longo suspiro e segui atrás dele. Ao entrar no salão, não enxerguei nada. Por irmos ali poucas vezes, acabei esquecendo-me onde fica a tomada.

— Papai sabe que está devendo um tempo com você, mas...

— SUSPRESA!

As luzes se acenderam, vários balões, várias pessoas, mesas por todos os lados e convidados, muitos deles. Encarei-os sem entender nada, sem mencionar o fato de eu estar me contendo para não saltar após o puta susto que levei. Caio ao lado da mãe, alguns amigos e conhecidos e o meu pequeno garoto, com um largo sorriso me olhando e segurando um presente em mãos.

Caio afagou seus cabelos e lhe disse algo que não pude ouvir. Em passos lentos, Tommy veio até mim, entregou-me o embrulho e sorriu.

— Feliz aniversário, papai.

Ajoelhei-me em sua frente, o abracei e beijei seu rosto. Em seguida, peguei o embrulho e o abri. Um porta-retrato com nossa foto de férias. Papai Douglas, Papai Caio, Vovó e Tommy.

Sorri, encarando-o mais uma vez. Peguei-o no colo e segui para a festa. Meu esposo veio em minha direção, selando meus lábios.

— Mais tarde. — piscou para mim.

— Mal posso esperar. — respondi entre sussurros.

— Mais tarde o quê, papai? — Tommy encarou-nos, revezando os olhos entre nós.

— Capítulos inéditos do Bob Esponja. — contive a risada, encarando-o.

— Ah, de novo não, papai. Da outra vez você disse que seriam novos capítulos, mas foram os mesmos. — cruzou os braços.

— Você? — ergui as sobrancelhas.

— O senhor.  — torceu a boca.

A tática para ocupá-lo enquanto eu e seu pai namorávamos já não funcionava mais. Teríamos de pensar em outra coisa. Sem preocupar-me com isso, segui apertando a mão de todos os convidados, agradecendo-os pela surpresa e pela presença.

— Sogrinha. — parei em sua frente.

Tommy estendeu-lhe os bracinhos e ela o pegou no colo.

— Você é o meu grande presente. Eu já lhe disso isso em outra ocasião, mas devo repetir: casou-se com meu filho, deu-me um neto que amo mais que tudo nessa vida e fez nossa família feliz como nunca foi. Obrigada. — disse, puxando-me para um abraço forte e apertado.

— VOCÊS ESTÃO ME SUFOCANDO! — Tommy gemeu, irritado.

Gargalhamos.

Ah, o que seria do mundo sem crianças? Não haveria graça alguma. Não mesmo.

~FIM~

Esse conto é um extra do romance Hey Professor.


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