COMO CONSTRUIR O SEU CASTELO

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Um conto de BrunoJovovich

Alê nunca foi religioso, nunca acreditou no sobrenatural, nem nada do tipo. Porém, ultimamente, ele vinha pedindo com força que Deus lhe mandasse um namorado. Ele queria um homem que o abraçasse quando fizesse frio ou quando ele estivesse carente - e ele sempre estava carente. Queria ter a segurança de se sentir benquisto e devolveria todos os sentimentos em dobro.

Ele é um rapazinho de 19 anos que se mudou de sua cidade natal para tentar uma vida melhor. Não que a vida no interior fosse ruim ou cheia de necessidades, mas ele queria também dar algo melhor para seus pais, por quem tanto tinha gratidão. Para isso, ele teve que deixá-los, ambos já de idade e de coração doce. Foi uma tristeza. Nesse dia chorou tanto que pensou que ia desidratar, mesmo sabendo que isso era impossível.

Ele era um rapaz esforçado e estudioso.
Na cidade grande ele passou a morar sozinho e esse era seu maior medo. Foram longos meses até realmente se acostumar. De 15 em 15 dias ele tomava a estrada e ia visitar seus pais, que morriam de orgulho do seu menininho. Alê recebia colo e mimos de seus pais, mas era de outro tipo de cuidados que ele sentia falta, um tipo bem distinto...

Alê nunca foi religioso, mas todas as noites rezava com força para Deus lhe mandar um homem que o abraçasse em noites frias e dissesse que o amava. Ele ia gemer baixinho e dizer que o amava também.

Ele não se achava bonito, longe disso, tinha sua estima lá em baixo e se achava até feio; era baixinho e tinha ombros estreitos, os quadris eram mais largos e sua cintura era fina. Achava seu corpo muito parecido com o de uma menina, e odiava sua bunda, que tinha algumas estrias. Se ele pudesse, arrancaria com faca essas malditas listras. Odiava também sua cor pálida, que muitos ostentam como sendo coisa de pessoas superiores, ele adoraria ter muito mais melanina. Também não gostava de seus cabelos encaracolados, embora muitas pessoas dissessem que eram de anjo, só não os cortava porque sua mãe o proibira.

Alê se achava feio, e só precisava de alguém que lhe mostrasse que não era bem assim.
E, de tanto rezar, acho que Deus ouviu as preces daquele menininho carente e de bom coração.

**
- Droga de vida! Preciso de alguém que me espere em casa com um sorriso aberto todas as noites, eu preciso disso. - José se senta no pequeno sofá e esfrega os olhos com força, fica ali por alguns minutos - talvez horas. Respira fundo e vai para a pequena cozinha, que tem apenas uma mesa de quatro lugares, um fogão, uma geladeira e alguns armários para guardar as panelas, das quais ele ainda paga as prestações. Tudo muito modesto, mas conquistado com muito esforço e suor.

No fogão ele coloca o feijão de ontem para esquentar, enquanto faz um novo arroz, já que o de ontem estragou porque ele esqueceu de colocar na geladeira. O bife recém temperado vai para a frigideira, já que com óleo não demora muito pra ficar pronto, ele gosta da carne um pouco mal passada.

O jantar não tem tanto gosto quando se come sem companhia. Há tempo que José era sozinho, uma mulher aqui, outra ali... Mas nada que durasse muito, ele nem mesmo queria mais esse tipo de encontro.

José tinha 33 anos, era pedreiro e atualmente trabalhava em um prédio que ficava próximo a uma universidade. Era um trabalho deveras maçante e cansativo, mas ele já estava acostumado. Trabalhava como pedreiro desde os quinze anos para ajudar nas despesas de casa.

Enfim, terminado o jantar, ele lava tudo, pois não gosta de acumular para o outro dia e vai ler o livro que deixou pela metade na outra noite. José não concluiu os estudos, mas o que sabia era o suficiente para viajar no mundo dos livros.

José não era religioso, mas naquela noite antes de dormir ele pediu a Deus para que ele lhe mandasse companhia, alguém que o quisesse bem ao findar da tarde - e em todas as outras horas do dia -, alguém que o amasse, e ele iria retribuir.

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