Grávida De Um Traficante

Capítulo 10

Yasmine narrando...

A única coisa que me passava pela cabeça era: como será a minha vida daqui 9 meses?

Como eu irei me sustentar e sustentar essa criança? Será que eu vou ser uma péssima mãe?

Era tantas perguntas na minha cabeça mas eu não tinha nenhuma resposta concreta.

Hoje mesmo eu fui para a escola junto com a Cláudia, queria ao menos continuar meus estudos para não ser um zé ninguém na vida mas a diretoria não me chegou entrar na sala, disseram que eu não pertencia mais à essa escola pois me desmatricularam e quem pensou na minha avó... Acertou!

Quis ir até em casa para dizer umas poucas e poucas para ela, mas não ia dar em nada, não queria discutir nem falar com ela portanto aceitei essa decisão.

Deixei Dina Bianca ir para o trabalho e fui tomar um banho, tava fedendo debaixo desse calor todo.

Fiz um coque firme no meu cabelo e entrei debaixo do chuveiro sentindo a água morna entrar em contacto com a minha pele, fechei os olhos e dei um longo suspiro de derrota e cansaço.

Minutos depois saio enrolada em uma toalha laranja e vou até minha mochila buscar algo para vestir, peguei um short branco e um top cropped renda sutiã.

Senti meu celular vibrar em cima da cama e o pego vendo várias mensagens da Cacau chegando.

Bom dia piranha, levanta e vai lavar essa xana fedida. / Cláudia

Toma o seu pequeno almoço em seguida pega suas coisas e vêm até a praça, têm uma surpresa pra você / Cláudia

Yasmine dá pra responder miserável / Cláudia

Troquei algumas mensagens com ela tentando saber porquê eu deveria ir para a pracinha mas a mesma não falou nada então eu não insisti, fui até a cozinha preparei um pequeno almoço gostoso para mim e comi.

Talvez eu preciso de um tempo para pensar, colocar as minhas idéias em dias e tomar as decisões certas, quero começar a trabalhar em se for em alguma loja simples aqui no morro e tentar alugar uma casa pequena.

Tinha que marcar a minha primeira consulta para ver com esse bebê estava, não vou dizer que me importo mas não vou abortar, como Cláudia disse essa criança não fez nada, ela não têm nada haver com os meus erros, vou cuidar dela durante minha gestação e o resto deixo nas mãos de deus.

* * *

Desço o morro com o peso de duas mochilas na mão e sobre o olhar do povo, alguns me olhavam feio, outros soltavam piadinhas e têm aqueles que ignoravam e eu simplesmente fingi não ver.

Porque aprender a ignorar certas pessoas ou situações é um dos melhores caminhos para a paz interior, e a única coisa que eu estava precisando era de paz e sossêgo.

BN: Eaí Yasmine tá precisando de ajuda — ouço uma voz conhecida atrás de mim —

Me viro e dou de cara com o BN, amigo do outro embuste e meu antigo colega pois a gente estudou na mesma sala na 1° classe.

Yasmine: Sim se não for te incomodar — ele sorri de lado —

BN: Incomoda porra nenhuma, tô na minha hora de descanso — se aproxima e pega as duas mochilas da minha mãoe começamos a descer o morro juntos —

O caminho inteiro até a praça foi silencioso, uma hora ou outra BN perguntava algumas coisas para quebrar o silêncio mas eu era curta e grossa, não queria falar ainda mais com o amigo daquele monstro.

Ele ainda se lembrava de mim na época da escola, fez questão de me lembrar a época que eu era gordinha com aparelhos nos dentes mas eu não deixei barato, lembrei ele a época em que o mesmo era feio e levava fora das garotas, mas hoje tá aí... Bonito e desejado por muitas .

Alguns minutos depois chegamos a praça, e eu avistei Cacau de costas junto com uma ruiva em frente da sorveteria.

Yasmine: Valeu BN nem sei como te agradecer - digo e ele sorri -

BN: Simples gata — ele levanta a mão e acaricia uma das minhas bochechas — Uma noite de sexo tá mais que pago — engasgo com minha saliva — Calfoi respira aí garota, tô de zoeira contigo, só quero o número da Cláudia.

Yasmine: Ufa, por um momento parei de respirar... Anota aí 21 9742... — ele começa a digitar —

Me despedi dele com dois beijos na bochecha e fui só encontro com Cacau, a mesma estava em pé de costas para mim então avancei com precaução e desferi um tapa forte na sua bunda fazendo a mesma gritar.

Cacau: Filha da puta, bate com mais força que ainda não doeu — passa a mão no local atingido —

Yasmine: Dá próxima com certeza o farei — digo rindo — Me trocou por uma ruiva é?

Assim que termino de falar a ruiva que estava de costas para mim se virou e abriu um sorriso ao me ver, sua cara não me era estranha, eu a conhecia de algum lugar mas da onde?

Assim que eu a encaro dentro dos meus dou um pulo de alegria e abraço ela.

Yasmine: Larrisa, eu não acredito que é você.

Fazia tempo que ela tinha ido embora do morro sem dar notícias, nem ela nem o irmão.

Larissa: Smurf, tá gata viu — diz ao sair dos meus braços —

Yasmine: Respeita minha altura que eu cresci 1 centímetro agora tenho 1,58 - Cacau e Larissa gargalham - Mas me conta aonde você estava esse tempo todo - nos sentamos no banco da praça -

Ela começou a contar os últimos acontecidos nesses anos todos que ela desapareceu do morro, lhe obrigaram a ir viver com o seu pai viciado em SP, ela apanhava todos os dias dele e não podia fazer nada.

Veio a descobrir que o pai Tonha negócios com traficantes e devia mais de 50 mil a um morro, ela fez de tudo para tirar o pai dessa vida sem saída, trabalhou para pagar a dívida mas lhe aconteceu o pior.

O próprio pai a vendeu a um filho de um traficante e sua vida virou um inferno, apanhava bastante, era violada, humilhada, tratada como um animal, tentou fugir uma vez e levou tiro.

Mas graças a deus conseguiu fugir com ajuda de um dos soldados de lá, um garoto que tinha um caso às escondidas com ela.

Vagou nas ruas de São Paulo em busca de refúgio e ajuda acabou sendo violada por um grupo de rapazes.

Ela conseguiu voltar pra Rio de Janeiro, e hoje está aqui no Complexo do Alemão tentando recomeçar sua vida longe de tudo.

Cláudia: Meu deus Larissa, chego à me perguntar como você conseguiu sobreviver a todos esses maltratos! Que pai mais nojento, escroto, merece morrer!

Yasmine: Dou graças a deus por não ter pai, no seu lugar não aguentaria passar por tudo isso!

Larissa: Têm gente que nasceu para sofrer, mas isso faz parte do passado, eu vim aqui justamente para me focar no meu futuro e deixar todo esse mal para trás.