Um Pedaço do Passado.

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Fico me perguntando como podem existir pessoas assim, que fazem tão pouco caso da vida humana, não sentem nenhuma empatia, dor ou remorso, não pensa nos entes queridos e nem na vida que a pessoa levou até chegar ali, todas as dificuldades e todos os aprendizados, é como se fossemos insetos, meros insetos descartáveis e nojentos. Isso me irrita profundamente e ao mesmo tempo me amedronta. O único que as vezes parece me entender é o Arthur, pois ele também foi humano um dia.
Vou até o Caleb mais uma vez ficando atrás dele como se ele fosse meu escudo, afinal foi ele que disse a mim que não ia deixar esse cara fazer nada comigo.

- Vamos Wendy, você ainda não comeu nada. - Caleb puxa minha mão me tirando do cômodo deixando o restante dos irmãos por ali, exceto pela Lilith que nos segue arrastando seu urso macabro. Ele nos guia até a cozinha e joga alguns alimentos  cima do balcão.

- Pode deixar que eu ajudo. - Diz o Arthur se aproximando de nós.

- Então, já estão invadindo. - Caleb bufa revirando os olhos.

- Arthur que surpresa boa. - O abraço, ele logo retribui. - Arthur, eu ainda tenho dúvidas, como você consegue comer? - Questiono o largando.

- Quando me transformei, eu conhecia bastante gente, tive que me esforçar e lutar contra meu estômago para colocar outra coisa lá dentro que não fosse sangue, afinal, eu queria passar a imagem de uma pessoa normal, acabei me acostumando, não mata minha sede ou fome, mas não custa nada fingir que estou de volta a vida.

- Baboseira. - Caleb revira os olhos novamente, mas o Arthur simplesmente o ignora. 

O Arthur me ajudou a fazer um bom café da manhã e bastante reforçado, enquanto Lilith brincava e falava com seu urso, o Caleb mexia em seu celular, ao término da comida, Arthur limpou tudo enquanto eu ia brincar com a Lilith, afinal esse ainda era o meu dever dentro da casa, brincamos a tarde toda como sempre, exceto que dessa vez o Derick se juntou a nós com seus bonequinhos, mesmo que suas brincadeiras sejam violentas, elas deixam a Lilith bastante entretida, o Caleb ficou no quarto, mais especificamente deitado na cama da Lilith apenas para observar o Derick e suas atitudes, depois desse dia a Lilith hiberna, aproveito esse tempo para ir a biblioteca ou fazer algo para me tirar da realidade em que vivo.
Ao adentrar a biblioteca encontro o Sebastian, ele está sempre lendo, não me surpreende ele ser tão inteligente, eu ignoro sua presença e começo a vagar pelas prateleiras que há ali atrás de algo novo para ler, acho um livro desgastado com o aspecto de ser bem velho, ao abrir vejo uma fotografia que se encontra do mesmo estado que o livro.

Eu consigo reconhecer esses rostos, sim, é o Sebastian e o Caleb, só não reconheço essa moça

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Eu consigo reconhecer esses rostos, sim, é o Sebastian e o Caleb, só não reconheço essa moça...

- É a nossa mãe, eu e o Caleb somos gêmeos. - Sebastian vem até mim com os braços cruzados.

- Nossa, eu não imaginava, você não era o mais velho?

- Não, nós dizíamos isso porque despertei mais tarde, então isso meio que me envergonha, mas a verdade é que ambos temos 200 anos.

- Vocês parecem tão felizes. - Digo encarando a foto com um pequeno sorriso.

- Éramos crianças, não sabíamos tudo que nos aguardava.

- Vocês a mataram? - Engulo em seco.

- Na verdade, o Caleb despertou mais cedo, ou seja, ele a matou, quando despertamos somos descontrolados, ele a devorou, depois me procurou para fazer o mesmo, eu consegui fugir e procurar ajuda, anos depois eu despertei e voltei para encontra-lo, antes de despertar eu jurava para mim mesmo que iria matar o Caleb com minhas próprias mãos a todo custo por ele ter a matado, mas depois que nos encontramos e lutamos, eu perdi pra ele, nunca fui muito bom em batalhas diretas, além de ter despertado mais tarde, então eu soube da nossa história e que a morte da nossa mãe era preciso acontecer.

- Eu sinto muito... - Fecho o livro com a imagem e o coloco de volta no lugar.

- Não sinta, temos séculos de vida, estamos acostumados a perder gente o tempo todo. - Ela da de ombros enquanto volta a observar os outros livros na prateleira.

- É que eu sinto tantas saudades dos meus pais, que acabo imaginando que todos são da mesma forma. - Comento.
Os olhos do Sebastian mudam de cor por frações de segundos.

- Está com fome? - Questiono estendendo meu braço para o mesmo. - Vai em frente... - Suspiro antes dele cravar as presas no meu pulso. Mas isso não o satisfaz, ele me prende contra a estante de livros levando seu rosto ao meu pescoço, a respiração fria me faz arrepiar, mas segundos depois a dor aguda dos seus dentes volta, ele bebe até enfim achar que não é mais necessário. Isso já virou rotineiro, estou em um ponto que não sinto mais o desespero de antes, ele me da seu sangue para que eu me recupere rapidamente.

- Boa noite. - Ele se retira do cômodo me deixando sozinha. Volto para meu quarto, caminho até a janela observando o mundo ao meu redor ali de cima, amanhã Succubus irá me ensinar magia, isso é tão estranho, ponho algumas músicas lentas no meu celular, músicas nostálgicas que me fazem lembrar da minha vida antes de toda essa "mudança". Ao olhar para baixo vejo a silhueta de alguém caminhando no jardim. Semicerro os meus olhos na esperança de enxergar melhor mas a escuridão apenas me revela um cabelo branco.

"Será mesmo ele?" - Me questiono enquanto me apresso para descer as escadas, atravesso hall principal correndo, imaginando que o Zachary retornou, passo pela porta correndo até o local específico do jardim que o vi aparecer, mas ao chegar, olho para todas as direções, ele simplesmente sumiu. Mas jurei ter o visto aqui.

"Ele é rápido, pode ter corrido para outro lado." - Penso antes de dar a volta na mansão o procurando mas sem sucesso. - "Isso definitivamente foi estranho."

O lago me vem a mente, talvez seja o lugar que eu realmente deva procurar. Sigo minha intuições indo até aquele nostálgico lago, ao chegar,  caminho até a ponta do deck de madeira, o som das águas me tranquilizam enquanto respiro todo aquele ar puro, longe da civilização.
Isso é claro até eu ouvir passos se aproximando de mim.

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