Esconderijo

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Ele toma meu sangue moderadamente para que eu não fique tão fraca, a ponto de não ser capaz de cumprir minhas funções. Ele retira as presas da minha carne e sinto o sangue quente escorrer do meu pescoço a minha clavícula.
Ele rasga com facilidade um pedaço de pano da manga da camisa social que está comigo e cobre minha ferida, tornando o pano como um lenço para impedir o sangramento.

- Não posso lhe dar meu sangue agora. - Ele passa a mão na boca tirando os vestígios de sangue que ali se encontravam.

- Mas e a dor? E o sangue? A lilith também é uma vampir... Ai! - Sinto uma pontada de dor no local, pressiono a mão sobre o ferimento.

- Estar ligado a você forte como antes apenas irá me atrapalhar, enquanto eu não souber controlar isso como os outros dois eu não posso fazer nada, a propósito, a Lilith já comeu, e no urso tem o que ela precisa durante esse tempo, apenas faça o que tem que fazer. - Ele vai se afastando.

- Caleb! - Ele me olha. - Boa sorte.

Ele ainda está com suas presas saltadas para fora e seus olhos em vermelho rubro, que brilhavam ainda mais devido a neve. - Não precisamos de sorte, isso será rápido e chato.

Em um piscar de olhos ele se vai, me abaixo e pego um punhado de neve para colocar na ferida, não demora muito para que a neve derreta e escorra por meus braços.
Adentro o casebre que parece estar tão desgastado por dentro quanto por fora, mas é quente. Nela há apenas uma mesa com gavetas e um sofá que já cospe o seu forro para fora, com cheiro de mofo e umidade, mas percebi o som oco abaixo do tapete cheio de poeira, eu o levanto e vejo a saliência de um tábua solta.

- Bingo. - Retiro a madeira revelando uma passagem estreita com uma pequena escada. Me aperto ali dentro enquanto reponho a madeira, em seguida desço os degraus necessários até chegar ao chão.

- Wendy! - Ela e seu urso que já não parece tão macabro, me abraçam. - Viu Teddy, eu disse que ela iria vir.

- Oi Lilith. - A abraço com um sorriso. - O que fez todo esse tempo aqui sozinha?

- Eu e o Teddy estamos brincando de casinha, você quer brincar com a gente? - Ela me pergunta esperançosa.

- Eu adoraria. - Coloco novamente a mão sobre a mordida do Caleb que continua doendo.

- Quem te mordeu? - Ela me encara. - Tenho certeza que foi o Caleb.

- Como sabe? - Questiono surpresa.

- O tamanho dos dentinhos e também porque ouvi a voz dele. - Ela sorri. - Mas, eu já vi o Sebastian curar isso. - Ela rasga um pequeno pedaço da costura da cabeça do urso e revela uma lâmina pontiaguda e pequena dentro dela e corta a palma de sua mão como Sebastian fazia.

- Não, Lilith, não precisa. - Tento a impedir.

- Está tudo bem, eu gosto de você, não quero que se machuque. - Ela estende sua pequena mãozinha cortada para mim, mas eu me recuso com a cabeça, ela não precisa ficar ligada a mim como os irmãos, ela é uma criança, pode ser confuso.

- Não precisa, eu estou bem, que tal a gente brincar ao invés disso? - Sugiro. Ela concorda, abraçando o urso que continua um trapo como sempre.

- Lilith? - Me sento no chão de madeira. - Você disse que já viu o Sebastian fazer isso, certo? - A encaro.

- Sim, não é mesmo Teddy? - Ela estende o urso em seus braços e ri para ele.

- Você sabe com quem? - Questiono mais curiosa

- Heloísa, ela sempre ia em casa, Sebastian gostava dela, eu sempre via eles rindo juntos, vi eles se beijando no jardim uma vez, eu gostava dela.

- Gostava? O que aconteceu com ela?

- Acho que Sebastian a matou, mas não tenho certeza. - Ela fala com tanta naturalidade, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Fico tão surpresa que nem sei como reagir.

- Como... Porque?

- Eu não me lembro, está fazendo muitas perguntas. - Ela faz uma cara de choro.

- Ah, me desculpe, não irei mais fazer perguntas, tudo bem? Vamos brincar. - Pego uma xícara de porcelana que está um tanto quebrada, mas pode ser usada para o chá da tarde do Teddy.
Ficamos ali brincando até que ouvimos um barulho em cima de nossas cabeças, fico assustada pensando em abrir a passagem atrás da estante dos livros.

- Tudo bem. É o Zack. - Diz Lilith. Isso me alivia. Ouvimos o barulho da madeira ser puxado e o rosto do Zachary coberto de sangue, é a última coisa que ele faz antes de apagar e cair no meio de nós duas no chão de madeira que fez um barulho alto.

- Zachary? - Suas vestes estão todas rasgadas, ele possui ferimentos profundos em sua carne que se restaura devagar e com dificuldade. - O que aconteceu lá?

- Não precisa se preocupar, eu sou um imortal. - Ele debocha, mesmo falando com dificuldade.

- Será possível que nem mesmo nesse estado você leva as coisas a sério? - Questiono com indignação.

- Irmão, você quer o Teddy? - Ela oferece o urso ao Zachary.

- Não, eu prefiro direto da fonte, obrigado. - Ele leva sua mão até minha nuca ainda deitado e puxa minha cabeça para perto dele, mas ele para ao ver as presas do Caleb.

- Ah, isso é nojento! - Ele me da um leve empurrão para trás. - Me da o Teddy. - Ele pede a Lilith que o entrega pra ele sem hesitar. Ele crava os dentes no urso que espina sangue e ele o toma como se nunca tivesse tomado nada melhor na vida, ele seca o urso totalmente, suas feridas vão se fechando cada vez mais rápido.

- Calma, se não vai matar o teddy. - Tento descontrair a situação tensa. - E você ainda queria beber de mim.

- O Teddy felizmente não morre, e felizmente não fala. - Ele joga o urso de volta pra Lilith e se senta com dificuldade.

- Seu senso de humor não veio com você? - Me levanto dando batidinhas no meu vestido.

- Talvez eu ficasse bem humorado se você retirasse essa roupa fedida do Caleb. - Ele aponta pra mim.

- Se você tiver outra pra me dar, e pelo visto, não tem. - Encaro suas roupa que agora eram apenas trapos de tecido. - Então vai continuar de mal humor. - Sorrio. Lilith aproveita a deixa para rir também.

- Ha, ha, ha. - Ele finge o riso mais sem graça do mundo.

- Mas o que aconteceu lá? - Pergunto me sentando ao seu lado.

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