Ameaças

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Eles entram pela porta da frente e como sempre, são os menos agasalhados.
Eles fingem ignorar todas as pessoas, é normal pra eles, já estão acostumados a fazerem comigo.
De todo o refeitório eu sou a única que ao invés de olhar para eles, prefiro olhar para a comida e fingir que nada está ocorrendo, até porque realmente, nada está ocorrendo, eles apenas entraram no refeitório, eles são alunos também.
Pro restante, parecem seres de outros planetas.
Entre uma mordida e outra no meu sanduíche, vejo que Zachary e Caleb estão se aproximando da minha mesa, eu realmente não acreditava que iriam me incomodar aqui.
Depois dessa cena todos voltam as suas conversas e fingem nos ignorar novamente, o que sinceramente prefiro, me sinto tão desconfortável, que estou quase saindo correndo.
Zachary senta do meu lado, e põe seu braço jogado no meu ombro como se fossemos próximos, olhando de longe, nem parece que se recusou a me dar carona mais cedo.
Caleb senta na minha frente e ao lado da Eliza que cora, apenas com ele do lado dela, e o Luke se retira sem nem olhar para trás.

- Poderia por favor se afastar, tenho meu espaço pessoal. - Digo encarando o Zachary e retirando seu braço dos meus ombros, assim vai ser impossível os ignorar.

- Será que poderíamos conversar? - Pergunta Caleb.

- Claro, pode falar. - Dou de ombros.

- Então venha com a gente, queremos falar em particular. - Zachary e o seu olhar ameaçador.

- Tudo bem. - Forço um sorriso irônico para o Zachary. - Com licença Eliza.

- Toda. - Ela engole em seco.

Saí acompanhada dos dois, como dois guarda-costas, sensação pior não há, qualquer chance que eu tinha de tentar me enturmar, foi por água abaixo.

Vamos os três para um lugar mais afastado da multidão, confesso, tenho um pouco de medo, mas não me permito demonstrar.

- O que querem? - Pergunto. O Caleb se afasta de nós e observa de longe.

- A gente vai te dizer, o que não queremos, o que nós não queremos é você se gabando que mora conosco, tudo bem se as pessoas souberem que mora com a gente, mas não queremos que fale sobre nós, ou sobre nada que não seja você mesma.
Estamos entendidos? - Ele me coloca contra a parede enquanto fala.
Será por isso que ele não me deu carona? Pra que as pessoas não ficassem me perguntando sobre eles?

- Como eu vou dizer algo sobre vocês? - Respondo. - Eu não sei nada sobre vocês, vocês são desconhecidos e se for pra viver sobre as constantes ameaças, eu me retiro, vou hoje mesmo procurar vaga no campus para mim, obrigada! - Vou me retirando bufando de raiva e os deixando para trás, mas em questão de segundos Caleb surge na minha frente com os braços cruzados.

- Desculpe, não podemos deixar que faça isso. - Me assusto, mas não me abalo.

- Com licença! - Peço com um alto tom de voz.

- Realmente ela é corajosa. - Diz Caleb para Zachary, como se eu não tivesse ali.

- Foi a garota que me atirou uma frigideira nas costas, o que você espera? - Zachary ergue uma sobrancelha e sorri. - Insisto que fique conosco, a Lilith gosta de você, ela vai sentir sua falta.

- Se vocês se importam tanto com ela, porque me tratam dessa forma? Se vocês se importam com ela, deveriam me conhecer melhor, como eu disse, e se eu for uma louca dentro da casa de vocês, tomando conta da Lilith? - Questiono.

- Você se chama Wendy Humphrey, tem dezoito anos, nascida e criada em Toronto, seu pai se chama Joseph Humphrey, e sua mãe se chama Lilia Humphrey, seu pai e empresário, sua mãe está desempregada, você e filha única e sua única amiga foi para Nova Iorque, nunca teve parentes por perto, seu hobby é desenhar, e adora arqueologia desde pequena devido os filmes de Indiana Jones e suas influências por aventuras. - Eu não consigo dizer uma palavra enquanto Zachary conta toda a história da minha vida, e descreve totalmente minha personalidade. - Viu? Você não é louca, se fosse nós saberíamos.

- C-Como? - Gaguejo assustada.

- Acha mesmo que sendo como somos, colocaríamos uma louca na nossa casa? Nós cuidamos uns dos outros, e querendo ou não, você se tornou uma de nós agora, ou seja é uma responsabilidade nossa. - Diz Caleb.

- Não pense que Oxford é apenas uma cidade tranquila, há perigos por aqui, há coisas debaixo dos panos. - Completa Zachary.

- Perigos maiores que vocês? Desconheço. - Falo em deboche. - Só por favor, me deixem em paz.

Meus olhos marejam e mais uma vez tento me afastar até que sinto a mão fria me segurar pela ponta da manga do sobretudo de veludo.

- Fique por Lilith, não por nós.- Me recuso a olhar para o Caleb que o pede.

- Vou pensar na sua proposta, apenas me deixem sozinha. - Peço, finalmente eles me largam.

Saio correndo dali com lágrimas nos olhos enquanto procuro o banheiro mais próximo, me enfio no primeiro que acho, fecho a porta e desabo a chorar.
Encosto minhas costas na fria parede de azulejos, e escorrego até o chão, aperto minhas coxas contra meu peito e meus braços sobre meu joelhos, enterro minha cabeça ali dentro, e tento me recuperar do que acabou de acontecer.
Depois de alguns minutos chorando, lavo meu rosto, e tento fingir que nada aconteceu, vou para sala recolher meu material para ir embora, todos já devem estar indo.
Quando chego na saída, desastrada caminhando e olhando para baixo enquanto me perco em meus pensamentos esbarro em Luke.

- Ah, Oi menina nova. - Ele sorri em volto dos amigos.

- Oi. - Falo com desânimo.

- Está tudo bem? - Eles questiona colocando suas mãos em meus ombros.

- Está tudo ótimo. - Sorrio sem jeito

- Quer se divertir conosco? Vamos em um bar aqui perto.

- Não, obrigada, preciso ir pra casa, eu trabalho. - Vou me retirando mas ele me impede. - Quantos homens eu tenho que enfrentar hoje? - Murmuro baixo para mim mesma.

- Vamos, aposto que os Vatores não irão sentir sua falta, eles não ligam pra ninguém, se não eles mesmos, não e pessoal? - Ele pergunta alto para os seus amigos que vibram em animação e riem.

- Com licença. - Tento de todas as formas me livrar dele.

- Pode subir no meu carro garota nova, te levo para conhecer a cidade. - Ele vai me forçando a ir para o carro enquanto os amigos riem de mim.
Senti meus olhos encherem de lágrimas, no fim esse lugar não era nada do que eu imaginava no fim.
Já estava desistindo de lutar contra Luke e seus amigos, quando uma mão familiar e fria pousa em meu ombro e me arrasta para trás, para perto dele, deixando nossos corpos pertos.

- Zachary? - Olho para cima quase chorando, vendo seu rosto com aquele sorriso que eu tanto odiava, que agora estava me ajudando.

Os Segredos dos Vatores ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora