Covardia.

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Sinto meu coração acelerar e meu corpo permanece imóvel, com meu punho ainda sendo segurado pelo Zachary e seus olhos frios me encarando.

- Qual o seu problema? Me solta! - Exijo.

- O que é você, e uma frigideira contra mim? - Ele ergue a sombrancelha enquanto sorri maliciosamente.

- Apenas me solta... - Peço já menos esperançosa.

- Ok. - Ele larga meu braço que despenca do alto segurando a frigideira e então passa por mim.

Arregalo os olhos, isso me pegou de surpresa, estamos sozinhos, agora seria a hora perfeita dele tentar algo, não que eu esteja reclamando, pelo contrário, estou aliviada, mas ainda sim surpresa.
Olho para ele, e ele para e olha pra mim também fazendo cara de pena.

- Oh, desculpe, você ficou decepcionada por que não te dei o que você esperava?

- Vai se ferrar Zachary! - Já sinto meu corpo ferver de raiva.

- No fim não é tão ruim né? - Ele volta a se aproximar em instantes. - Sinto seu coração acelerar, você é tão previsível.

Não consigo falar nada, nem ao menos reagir, ele me controla como um ventríloquo controla suas marionetes, ele faz meu coração acelerar e tudo que sinto sobre ele é confuso.

- Olha só você, toda perdida, é patética. - Ele sorri e novamente da as costas pra mim.

Perco a cabeça, fico com tanta raiva que atiro a frigideira nas costas dele, para minha surpresa não teve efeito algum, mas ele para.

- Devo dizer que você é corajosa! Depois de tudo ainda ousa me enfrentar? Mas tudo bem, não estou de mal humor hoje. - Ele sobe as escadas como se nada tivesse acontecido.

- Ridículo! - Murmuro com raiva.

Quando olho para fora da janela vejo Caleb sentado no tronco da árvore.

"Quer dizer que ele viu tudo mas não tentou me ajudar?"

Quando ele percebe que eu o encaro indignada, ele também olha para mim.

- Ah, oi...

- Oi? - Falo em tom de questionamento.

Ele entra pela janela sem ligar pra nada.

- A noite está linda. - Ele diz se espreguiçando.

- Não está com frio? - A temperatura beira os 5°C.

- Sei me cuidar. - Ele da de ombros.

- Você pode me dizer onde está o Sebastian?

-Não faço idéia. - Ele pega a frigideira do chão e anda em direção a cozinha.

Não sei qual dos três consegue me irritar mais.

- Sabe ao menos quando ele volta? É porque passaram o dia todo fora, como vão me avaliar e dizer se... - Ele para e põe o dedo indicador sobre meus lábios, impedindo que eu termine de falar.

- Você é barulhenta, não pergunte para mim, se quer saber do Sebastian o aguarde chegar. - Ele se aproxima do meu rosto.

- Porque não me defendeu do Zachary?- Questiono tirando o seu dedo do meu rosto, então vejo ele revirar os olhos, dando um longo suspiro e me ignorando. - Tanto faz se vocês deixarem a irmã de vocês com uma louca? - Grito.

- Você não é louca. - Ele afirma, novamente sem expressão.

- Como sabe? E perto de vocês, eu vou acabar ficando, mais cedo ou mais tarde.

- A Lilith sabe se virar. - Ele guarda a frigideira no armário. - Apenas faça o seu trabalho.

Mais uma vez ele me ignora.
Estou farta desse tratamento! Se a Lilith sabe se virar porque estou aqui?

Vou batendo os pés no chão, como se eu estivesse marchando de tanta raiva.

"Sei que não é da minha conta, mas eles tem que me dar mais informações, afinal agora eu moro aqui também." - Penso ainda com raiva.

Chego na sala de jantar e a garrafa de vinho que Sebastian me ofereceu noite passada ainda está ali, é uma tentação e de qualquer forma, preciso disso para escapar dessa loucura.

"Acho que ele não vai sentir falta se eu tomar uma pequena dose."

Pego a garrafa e a despejo em uma xícara que está por ali mesmo.

"Acho que não sou tão bom exemplo pra Lilith."

Bebo mais umas duas xícaras de vinho enquanto penso na faculdade que irá começar amanhã, quem sabe assim eu refresque um pouco minha cabeça longe dessa casa e desses três, as vezes digo para mim mesma que é pela Lilith, mas na verdade não é apenas ela, de alguma forma, quando estou com eles, minhas emoções afloram, não sei explicar, mas acaba sendo bom de algum jeito.
Levanto tonta, já me vejo cambaleando sem conseguir subir a escadaria direito.

Quando vejo que vou dar pra trás e apagar, sinto uma palma de mão me apoiando pelas costas.

- Sebastian, demorou muito. - Falo sem prestar atenção.

- Você chegou ontem e já está me dando problemas. - Quando ele me pega no colo, percebo, não era o Sebastian e sim o Zachary.

- Por que? Cade o Sebastian? - Falo com voz de bêbada.
Você tem que me soltar, não vai fazer nada comigo!

- Cala a boca, você está péssima! Fazer algo com você assim, não seria divertido, seria apenas covarde. - Ele murmura.

Em um piscar de olhos chegamos ao meu quarto, ele me coloca na cama e se afasta.

- Ainda não entendo porque seu cheiro é tão bom... - Ele diz mal humorado.

- Não passei perfume hoje. - Adentro nas coberta absolutamente tonta.

- Não falo do perfume. - Ele volta a se aproximar de mim.

- Sai! - O empurro sem forças, mas é claro que não é o bastante para mantê-lo longe.

Ele põe uma de suas mãos em volta da minha cintura e aproxima seus lábios no meu pescoço, novamente a respiração gelada, mas dessa vez senti algo pontiagudo quase penetrar minha pele.

- Cadê o papo de covardia agora? - Caleb aborda o Zachary na porta do meu quarto.

Zachary se afasta de mim e seus dentes diminuem.

- Isso é ridículo, até mesmo pra você... Só basta olhar para ela, está desmaiando, sei que o cheiro dela é forte, mas precisa se controlar aqui dentro, como lá fora.

- Ok, "Pai". - Diz Zachary com ironia. - Mas você tem razão, não vou me deixar levar, essa pirralha não para de me tirar do sério.

Depois disso eu acabei apagando.

No dia seguinte acordei com os passarinhos, cantando ao lado de fora, depois do vinho, a única coisa que me recordo é do Zachary me impedindo de rolar escada abaixo.

Me pergunto se ele estava preocupado, se ele quis me proteger, ou ao menos ser cavalheiro, eu não sei, só sei que talvez nossa relação possa mudar.

Me sento na cama e dou de cara com o Sebastian.

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