Capítulo 2

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Seis anos depois

— Ok! Hora de acordar, dorminhoca!

Estou movendo furiosamente a escova de dentes dentro de minha boca, de um lado para outro. Direita, esquerda. Em cima, depois embaixo. Ao atravessar o quarto, afasto as cortinas da janela e os raios solares entram em toda a sua glória para iluminar o cômodo.

Ouço um resmungo baixinho de criança quando uma nuvem de cabelos pretos bagunçados aparece assim que puxo os lençóis para longe, revelando metade de um corpinho feminino vestido com o pijama amarelo-claro de macaquinhos.

— Ah, mamãe... — Ela se vira preguiçosamente para o outro lado, arrastando o travesseiro para cobrir seu rosto, gemendo como se estivesse sentindo dor. — Está cedo demais para levantar.

— Nada de "ah, mamãe". — Com um movimento rápido, tiro o travesseiro do rosto dela e deparo com dois pequenos olhos sonolentos semicerrados para mim. — Você tem escola. Precisa levantar — Ela faz o típico beicinho pidão para mim, mas não caio nessa. Não mais. — Jacqueline Rose Banks, trate já de sair dessa cama, mocinha.

Ela continua imóvel, com metade dos cabelos cobrindo parte de seu rosto e a outra metade caída ao redor da cabeça, sobre o colchão. Ainda estou escovando os dentes, lançando a ela o meu intimidante olhar de represália moderadamente suave — aquele que diz: "Você está fazendo algo que não estou gostando que faça" —, quando algo inesperado acontece: os olhinhos castanhos se transformam em duas pedras obsidianas cor de mogno do tamanho do mundo, derretidas e brilhantes. O beicinho se intensifica, com o lábio inferior tremendo em pequenas convulsões como se estivesse se segurando para não chorar. Ah, não. Isso é golpe baixo. A pequena mercenária deve saber que fica uma fofa quando faz essa cara.

— Oh, Jackie. — Paro de movimentar a escova de dentes, tocada por aquela imagem infantil de cortar o coração. — Você sabe que fica uma fofa desse jeito, não sabe? Deve saber que sim... — Estou me inclinando para acarinhar seu rosto, sorrindo com minha boca toda espumada de creme dental. E ela também está sorrindo, batendo encantadoramente seus cílios para mim ao perceber que conseguiu o que queria. — Mas vai ter que levantar, sua danadinha! — termino, desfazendo minha expressão tão rápido quanto ela desfaz a sua, e começo a fazer-lhe cócegas sem parar.

— Mamãe! Mamãe! Está bem, vou me levantar! — Ouço suas risadas e seus ofegos enquanto a faço se contorcer sobre o colchão, o que bagunça ainda mais os lençóis. — Vou me levantar, mamãe!

— Jura?

— Juro!

— Muito bem, então!

Eu me afasto, voltando a pegar na escova ainda dentro de minha boca, para terminar de escovar os dentes. Meu anjinho está sorrindo toda radiante para mim quando se ajoelha na cama para me abraçar. Baixo o rosto quando percebo que quer me dar um beijo na bochecha. Sorrio, com o coração derretido diante do carinho. Eu o teria retribuído, se não estivesse espumando pela boca como um cachorro raivoso. A maternidade é uma das coisas mais bonitas que descobri existir no mundo. Definitivamente não há ninguém que me convença do contrário.

Faço um sinal com a cabeça na direção da porta do banheiro que fica no corredor principal, ao que ela entende e desce da cama para segurar minha mão enquanto andamos até, enfim, estarmos dentro do banheiro.

Jackie é uma garotinha esperta desde que a conheço. Aos seus 5 anos, ela consegue tomar banho sozinha sem mais precisar da minha ajuda. Quando demonstrou interesse por sua própria higiene, orientei-a a respeito dos cuidados que deveria ter e fiz algumas sessões-testes com ela, pedindo que me mostrasse como lavaria determinada parte e assim por diante. Como nunca apresentou problemas com o sabonete, o creme ou a dosagem do xampu — nunca tentou utilizar todo um frasco de xampu em apenas um dia, se é que você me entende —, deixei que, pouco a pouco, assumisse o controle do ritmo do próprio banho.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora