Ano de 2006
Apesar de reconhecer a origem de todas as coisas, hoje sou uma viciada em drogas, e não tenho razões para parar. Ou talvez meu problema seja força de vontade. Será mesmo? Quando sua vida é uma merda sem escrúpulos, as reservas de força são as primeiras a serem esvaziadas. É mais fácil e menos doloroso deixar as coisas simplesmente acontecerem. Drogas são a minha morfina e eu me sinto muito bem com elas. Tudo se torna um pouco mais... divertido.
E eu adoro rir.
A Sra. Carver está aqui. Esperou o momento certo em que Jerome me deixaria sozinha, para me abordar. É uma discussão e tanto. Estou completamente sóbria quando recuso a oferta de deixar seu filho por uma boa quantia em dinheiro, mas, após ser xingada de todas as maneiras, receber uma bofetada por não aceitar seu dinheiro e testemunhar o aumento do repertório de apelidos carinhosos da Sra. Carver para mim, eu me tranco no quarto e começo minha própria festa. Uma em que eu não choro, apenas rio.
O meu evento anestésico para a dor só está começando.
— Senhoras e senhores, é hora de uma salva de palmas para mim! — Eu me levanto e faço uma reverência que quase promove um encontro entre a minha cara e o chão. Sou segurada pela cintura antes que o desastre aconteça. Olho por cima do ombro, já sabendo quem é meu herói. Inspiro o perfume dele, deleitada, e escoro a cabeça sobre seu ombro. — Adoro quando você me pega por trás, querido.
É nesse estado deplorável que Jerome me encontra quando chega em casa. Ele finalmente cedeu ao prometer me ajudar dando o que lhe pedi, mas não está achando minha brincadeira nada engraçada.
— Cheguei agora há pouco — comenta e me dá um beijo daqueles quando o agarro pela gola da camisa oferecendo os lábios. O homem sabe como acionar o fogo dentro de mim. — E eu vi a Sra. Carver descendo a escadaria do prédio — termina.
Faço uma careta de desgosto.
— Você tinha que me lembrar desse incidente horroroso.
Agacho no chão e começo a recolher as evidências de que estive me chapando. Jogo tudo na cesta de lixo do banheiro e deixo as coisas na mais perfeita ordem.
— O que aconteceu, afinal?
— A sogrinha veio me fazer uma visita. Ela foi legal, como sempre. Saiu tão apressada. Mas tenho certeza de que se não fosse a correria, a Mamãe Ganso teria deixado um beijo para o filhinho de ouro dela.
— Palavras ácidas, Ellie — repreende.
Finjo não escutar e o ouço me seguir até a sala, onde começo a arrumar as almofadas.
— Como foi a aula, querido? Se divertiu?
Jerome coloca as chaves da casa e do carro na mesinha de centro. Em seguida, desaba no sofá com um suspiro de cansaço, e cobre os olhos com a mão como se não aguentasse mais ver a luz do dia.
— Foi um saco — responde.
— Eu avisei que se ficasse aqui comigo seria muito melhor.
Ajoelho-me na frente dele e apoio as palmas da mão sobre suas coxas musculosas. Começo a esfregá-las com um sorriso indolente enquanto o assisto ficar perturbado com minhas carícias.
— Sabe que eu teria feito isso, se pudesse. — Ele cobre minhas mãos com as suas a fim de parar meus movimentos excitatórios. — Amanhã inicia o período de exames finais — diz, sério. — Isso significa, portanto, que minha noite vai ser uma porcaria que vou passar em claro.
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Ás de Copas [COMPLETO]
Literatura Feminina[+18] Shortlist do Wattys 2018. 🎖História destaque de suspense pelo perfil @WattpadSuspenseLP em novembro/2019 "Será que existe perdão para todos os erros que você comete?" AVISO: este livro tem conteúdo sensível relacionado a uso e abuso de drogas...