No meu carro. Incrível como o Sr. Controle e Perfeição decidiu arriscar uma aventura comigo dirigindo na estrada. Não que eu dirija mal, ao menos não que eu saiba. Tracy vive me falando que meus clientes devem ficar aliviadíssimos depois de um passeio de carro comigo, e que os pedestres de Atlanta deveriam ser alertados toda vez que eu usasse o carro. Mas ela é minha amiga. E amigos fazem esse tipo de brincadeira só para nos irritar, certo?
Arrisco uma olhadela para Jameson sentado no banco do passageiro. Ele é aquela pedra dura sem um pingo de emoção de novo. O silêncio entre nós é tão alto que está me dando nos nervos. Seu humor parece estar sempre na borda, deslizando pela lâmina fina do limite entre a introversão e a extroversão.
Resolvo ligar o rádio para descontrair e tento sintonizá-lo, os olhos fixos nas estações enquanto o carro corre na estrada.
— Ellie — ele chama, cauteloso.
Viro o rosto para fitá-lo e o volante acompanha o movimento. Encontro pavor nos olhos de Jameson.
— O que é?
— A não ser que queira que aconteça um desastre automobilístico, mantenha os olhos na estrada.
Bufo discretamente, e sintonizo na estação que quero. Volto a me reclinar contra o banco, atenta à direção. Satisfeita, começo a cantarolar com o rádio que está tocando Ordinary World. Uma clássica. Minha preferida.
— Minha nossa, essa é antiga. Anos 90, certo? — Ele não perde a oportunidade de implicar com meus gostos.
Com uma olhada no retrovisor, reparo que meu rosto está vermelho.
— Eu gosto, está bem? Além do mais, se você a conhece, também é antigo — disparo com irritação.
Ouço-o resmungar baixinho. Com um suspiro descontente, resolvo desligar o rádio. Ficamos em silêncio de novo, apenas o som do vento cortando em nossas janelas e o motor do carro rugindo alto a cada vez que piso mais no acelerador.
— Diminua — Jameson ordena, de repente, e olha para trás da estrada. Confusa, apenas olho-o sem entender. — Você acabou de ultrapassar um automóvel que estava dentro dos limites de velocidade permitidos.
Rio e o encaro.
— Não precisa ficar com medo. É meu dever saber o que estou fazendo. — Gostaria de sentir a mesma confiança que exibo. — Tem um mapa no porta-luvas. Abra-o para mim, sim?
— Está perdida — acusa.
— Não estou.
Estamos há horas na estrada, mas continuo achando que estar perdido é uma expressão muito relativa. Alguém querer morar tão longe da civilização é algo que não entra na minha cabeça. No entanto, o valor da casa é altíssimo. Se ele realmente comprá-la, isso já vale muito mais do que os gastos com a gasolina.
— Está óbvio que está perdida e não quer admitir! Onde está o GPS? — Ele se inclina para o painel do carro e torce o nariz quando não encontra o que procura.
— Não tenho.
— Não tem? Em que século você vive?
Dou uma risada.
— No século da realidade. Estou atolada de dívidas até o pescoço porque finalmente consegui comprar minha casa. Em um ótimo bairro, diga-se de passagem. Sabia que o mercado imobiliário tem sido supervalorizado ultimamente? Me senti roubada quando fechei a compra, como se tivessem levado todos os meus órgãos.
— Fala a corretora de imóveis que quer me vender uma casa... — diz, irônico.
— Sou um ser humano, antes de mais nada. Tenho minhas necessidades e anseios e não tenho vergonha de mostrá-los. Diferente de você, não sou alérgica à emoção humana — jogo a indireta.
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Ás de Copas [COMPLETO]
ChickLit[+18] Shortlist do Wattys 2018. 🎖História destaque de suspense pelo perfil @WattpadSuspenseLP em novembro/2019 "Será que existe perdão para todos os erros que você comete?" AVISO: este livro tem conteúdo sensível relacionado a uso e abuso de drogas...