Capítulo 25

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De olhos fechados, não ouso abri-los. Estão cansados e dormentes, como se tivessem visto muito por um dia inteiro. Eu me sinto fraca e tenho a impressão de ouvir ruídos imprecisos na escuridão, algo me seguindo. Aproximando-se de mim pouco a pouco. Não tenho certeza do que é ou de onde vem, mas sinto como se estivesse em uma atmosfera fechada, sem saída. Aflita, eu chuto em um primeiro movimento.

Uma coisa fria encosta em meu rosto e grito. Pouco tempo depois sinto o ar fresco. Olho em volta, totalmente desorientada e não entendo nada. Só então vejo um homem sentado ao meu lado da cama, observando-me, com o rosto preocupado.

E lembro-me de tudo o que aconteceu em um flash assombroso de minhas memórias.

Sinto o sangue gelar nas veias ao ver aqueles olhos. Porém, ao olhar mais de perto, reconheço aquele brilho frio e controlador. É Jameson. As coisas, então, se encaixam como peças de um quebra-cabeça.

— Foi você! — acuso em voz alta, levantando-me tropegamente da cama. — Você leu as cartas de Jerome. Sabia que ele brincava comigo assim!

Jameson confirma com um sorriso. Pego a primeira coisa ao meu alcance e a lanço em sua direção. Ele desvia do travesseiro com facilidade.

— Desgraçado! — digo com raiva. — Quis me assustar, não é? Está fazendo de novo aqueles seus joguinhos idiotas para me confundir. Mas isso não teve graça nenhuma!

Vejo seu sorriso esmorecer para ser substituído por uma expressão preocupada, confusa e culpada. Sua testa se enruga, triste com minha reação hostil.

— Era para ser romântico — murmura. — Não sabia o que escrever no cartão, então mandei algo que faria você saber de quem teria partido as flores.

Ele não está agindo como se tivesse intenções de me assustar. Respiro, tentando me acalmar e compreender a situação. Ele quis me mandar algo que eu soubesse de quem teria partido o buquê de rosas... e logicamente me mandou o ás de copas, como uma referência. Porque ele sabe que esse é o meu apelido. E entre ele e Jerome, se alguém me mandasse flores, a lógica é que eu só poderia adivinhar que teria vindo de uma pessoa viva.

Fecho os olhos, a culpa me abatendo. Sua tonta. Ele não sabe que estou sendo assombrada por seu irmão. Jamais contei isso a ele. Jameson não teve intenções de me provocar todo esse mal-estar.

— Eu... desculpe. Desculpe. — Abro um olho para fitá-lo em contrição. — Acho que exagerei. Não tenho estado muito bem ultimamente.

— Jura? — Ergue uma sobrancelha cômica, cruzando os braços. — Você só odiou o buquê que mandei lhe entregar juntamente com a carta de baralho que faz uma alusão ao seu apelido. — Faz um leve movimento de cabeça. — E jogou um travesseiro em mim como se eu fosse um assaltante e estivesse prestes a roubá-la. Nem notei que não está bem.

— Não odiei, juro. Eu só... — Faço uma pausa e mordo o lábio inferior para ganhar tempo. — Eu só me assustei.

Não quero contar para ele sobre meus tormentos com Jerome. Não quero desapontá-lo ou fazê-lo pensar que as memórias com seu irmão ainda podem significar uma grande barreira no nosso relacionamento.

— As flores são lindas. Eu adorei. — Olho ao redor, confirmando que estou na casa dele, em seu quarto. — É a primeira vez que recebo flores de um homem — comento com sinceridade.

Meu amor com Jerome foi tempestuoso, louco e erótico. Como dois jovens desenfreados e ansiosos, não demos muita atenção a todo o romance que poderia haver em uma relação amorosa. Não construímos uma base sólida e firme que fosse capaz de aguentar qualquer crise. Com Jameson, porém, as coisas são bem diferentes. É um amor maduro e romântico, e ele está sendo tão amável comigo que não posso evitar dar meia-volta no quarto para depositar um pequeno beijo de agradecimento no canto de sua boca.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora