Ás de Copas [COMPLETO]

Capítulo 10

Nunca gostei da ideia de pisar em cemitério, sobre os mortos, mas agora realmente isso é o de menos. Caminho sobre meus saltos, carregando um buquê de flores em meus braços, e vou direto para ela, para a sepultura dele. Está perto do meio, então ando pela linha acima dela e paro um pouco antes de chegar lá. Noto as duas lápides, uma ao lado da outra. Em cada uma está enterrada um membro da família Carver. Pai e filho.

O cemitério é um lugar arquitetônico, preservado com uma jardinagem bem feita e cuidada, cultivado com uma botânica excepcional de carvalhos e magnólias. Para onde olho tem flores, arbustos, árvores antigas e esculturas. Uma atração à parte, inusitada, de moldes antigos e clássicos. Um Carver não ganharia menos do que isso.

Tomo uma respiração profunda e ando até sua lápide, com meu coração se apertando, mas não estou chorando. Depois de ontem à noite, seria uma surpresa que ainda restassem lágrimas para chorar. A pedra contém uma inscrição: Filho, amigo e irmão. Você pode nunca ter achado que viveu o suficiente para ver o mundo, mas sua obra está em qualquer lugar que formos. Sua família sempre amará você. Eu me lembro desse epitáfio e de como pedi à Sra. Carver para adicionar "marido", de modo que ficasse: "Filho, amigo, marido e irmão", mas, bem, quem escutaria uma intrusa indesejada na família Carver?

Eu me ajoelho, sentindo-me preenchida por um sentimento de encerramento por vê-lo ali. Ele pode nunca ter desbravado o mundo, mas viveu o suficiente para tocar muitas vidas apenas com a sua adorável presença. Espirituoso e vivaz, Jerome era como um sopro de vida.

Levanto o olhar para a lápide, onde Jerome está enterrado ao lado de seu pai.

— Oi, querido — eu digo através de minhas lágrimas. Nem sabia que meus olhos estavam marejados. — Demorou algum tempo, mas finalmente estou aqui. Antes tarde do que nunca, certo? — Meu sorriso não chega até meus olhos.

Fungo, incerta sobre como fazer isso. Seis anos me escondendo na minha toca. Seis anos evitando confrontar as coisas do passado. Isso dói, muito. Mesmo assim não consigo verter em lágrimas, porque estou feliz só por ter conseguido chegar até aqui.

Começo com a verdade dolorosa:

— Nunca realmente senti que você estivesse morto, Jerome. Ao menos não para mim.

Olho para frente, um pouco insegura. Mas sei que não há ninguém à espreita para esmagar meus sentimentos com palavras que machucam.

— Não contei a ninguém com medo de que me chamassem de louca — continuo com um suspiro e, caramba, é tão difícil admitir uma coisa dessas em voz alta. — E, sabe, talvez eu seja por pensar assim ou talvez seja a força do nosso amor que ainda é tão forte que não me permite esquecer o que vivemos juntos.

Fico em silêncio por um instante, meus olhos perdidos no flashback de memórias.

— Mas preciso seguir adiante. — Soa involuntariamente como um pedido, uma permissão. — Você está aqui e é prova suficiente para mim de que está morto. O que mais posso fazer? Não é como se pudesse ajudar a mim mesma ao continuar me enganando como uma tola, de novo e de novo...

Sei que devo dar um passo à frente, mas tenho que ter meu próprio senso de encerramento antes que possa seguir adiante. Despedir-me de Jerome foi a maneira que encontrei para conseguir isso.

— Desculpe ter demorado seis anos para arranjar coragem e vir aqui lhe dizer tudo o que há dentro de mim. — Minha respiração está entrecortada agora, como se eu fosse me entregar aos soluços e lágrimas a qualquer momento. — Estou passando por um período peculiar na minha vida. — Lembro-me de Tracy e de como quer me ajudar a ficar de pé pelas coisas boas. — Uma nova fase, talvez. Uma em que me sinto com forças suficientes para enfrentar o restante das pendências em minha vida. Você era uma delas. — Sorrio, as lágrimas não derramadas fechando minha garganta. — E agora me sinto tão bem por estar aqui, despedindo-me adequadamente de você como jamais fiz.