Capítulo 33

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Sinto um vazio detestável e preocupante na segunda-feira.

Checo o celular várias vezes durante o dia, e até mesmo chego a selecionar seu número na agenda telefônica para discagem, mas sempre termino desistindo de fazer qualquer tentativa de tentar uma aproximação e falar com ele.

Não nos vimos no domingo. Não que nos vejamos todos os dias da semana, porque nossas vidas costumam ser ocupadas pela maior parte do dia. Só que Jameson me ligava, especialmente em um fim de semana, e sempre marcávamos algo para passar nosso tempo de folga juntos. As coisas entre nós ficaram... estranhas. E há esse medo ridículo que me faz torcer os dedos das mãos de nervosismo e continuar pegando no celular de novo e de novo.

Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação.

Ele está bem? Aconteceu alguma coisa?

Não gosto de ser deixada no escuro deste jeito. Mas estamos falando de Jameson Carver. Nenhum homem jamais me afetou do modo como ele conseguiu fazer comigo, e não posso entender o porquê. Este é um dos motivos pelos quais me sinto tão perdida. Não sei se devo ultrapassar os limites da cidade à sua procura ou se devo permanecer exatamente onde estou, dar-lhe algum espaço, e respeitar seu tempo de silêncio e aparente luto.

Resolvo fazer o que acho ser certo e continuo executando minhas tarefas usuais. Sou mãe, filha e amiga. Conselheira e animadora. Quando Tracy me pergunta como estão as coisas com Jameson, eu murcho em mim mesma e digo que acho que chegamos ao momento de baixos em nosso relacionamento. Ela entende e não pergunta mais nada.

É quinta-feira à tarde quando recebo uma mensagem dele.

Jameson: Preciso ver você. Encontre-me em minha casa assim que terminar o expediente.

Não consigo evitar a alegria me invadindo e provocando-me um pequeno sorriso ao saber que ele quer me ver. Mas então, com tristeza e pesar, meu coração afunda em meu peito com suas palavras tão duras como uma ordem. Na verdade é uma ordem. Quer que eu vá vê-lo. Não me deu uma saída ou direito de escolha. Nem ao menos me perguntou se era o que eu queria. Sinto-me imediatamente tentada a desobedecê-lo, fingir que nada vi e colocar a velha Ellie na ativa para deixá-lo louco da vida. Só que, quando estamos com alguém que gostamos tanto, somos capazes de abrir mão de muitas coisas para estarmos com essa pessoa.

As pessoas que amam de modo altruísta são verdadeiras almas puras.

Não estou certa se me encaixo nessa descrição, mas...

Estou no caminho através da estrada quando algo me atinge como um estrondo e deixa meu coração disparado. O que eu acabei de dizer? Sigo fazendo meu caminho pela estrada, meu coração em minha boca batendo em um ritmo dramático, meus joelhos moles como gelatina e de repente já não me sinto mais tão apta a dirigir nesse estado.

As pessoas que amam... eu acabei de dizer que posso me encaixar nesta descrição. Ah, meu Deus. Contenho a vontade de fechar os olhos para a direção. Tomo uma profunda e purificante respiração enquanto observo a refrescante chuva que começa a cair em pequenos pingos, gradativamente molhando o vidro do carro.

Aciono os limpadores de para-brisa com dedos trêmulos. Como se não bastasse estarmos distantes um do outro, agora descubro que amo Jameson Carver. Como uma coisa dessas foi acontecer? Meu Deus, não tenho mais 17 anos. Só que não podemos controlar o que sentimos, certo? É um sentimento silencioso, que vai se acumulando dia após dia sem nos darmos conta disso, e acerta em uma única tacada, bombástica e explosiva.

Destrói e reconstrói.

Amor, estranho amor.

Oh, merda, Ellie.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora