2. O primeiro amor

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Existe uma primeira experiência para tudo, seja ela boa ou ruim. Você pode até não se lembrar com exatidão, mas certamente já teve aquele alguém especial por quem você caiu de amores em algum momento entre a transição da infância para a adolescência.

Se assim como eu você ainda tem lembranças do seu primeiro amor, então é melhor se sentar. Pegue a pipoca, uma coca e os óculos 3D, porque é essa a história que contarei aqui: a primeira garota que Jerome Carver amou. Um macabro filme de terror estrelado pela minha versão pré-adolescente quando eu ainda nem sabia da cilada em que estava me metendo.

Exagero meu, claro.

Vamos aos fatos: eu tinha precisamente 10 anos e 9 meses quando comecei a prestar atenção na aluna transferida de Nova York. Não que ela estivesse frequentando a mesma escola que eu há pouco tempo, mas percebê-la enquanto uma garota por quem eu poderia cultivar sentimentos foi um processo gradual.

No meu ponto de vista, garotas eram basicamente repugnantes e nojentas. Era costume, antigamente, por volta da primeira ou segunda série que eu e os garotos da minha turma pensássemos assim com relação a qualquer menina da escola. Não se misturar com elas era praticamente uma regra tácita. Não sei dizer bem por quê, mas a impressão geral era que, se você passasse muito tempo com uma garota ou se encostasse nela, coisas muito ruins poderiam acontecer. Ridículo, não?

Estávamos certos, no entanto.

Quando conheci Bárbara Doulton pessoalmente, aprendi em duas semanas o essencial sobre mulheres e amor, mas também conheci a dor que eu, com a idade que tinha, não desejaria ao pior dos meus inimigos. O período de tempo que estive apaixonado por ela pode parecer pouco aos olhos de um adulto. E por que não dizer insignificante? Mas acredite, quando se tem 10 anos, duas semanas podem ser uma eternidade.

Por que eu tinha que entrar em contato com essa dor ridícula dentro de mim?, eu pensava. Antes de toda essa baboseira sobre amor, eu era um garoto feliz. Minha vida era uma aventura constante que ia desde prática de esportes até aulas de piano! Vê? Antes de Bárbara Doulton, eu tinha uma vida muito movimentada.

A quem eu estava enganando?

— Bárbara Doulton. Bárbara, Bárbara, Bárbara... — eu repetia sorrindo feito um maníaco no meu quarto, encantado com aquela criatura que eu via em todas as aulas de matemática.

Mas vamos voltar um pouco essa fita. Deixe-me contar uma coisa sobre Bárbara Doulton: ela não era a garota mais bonita da turma. Nem a segunda mais bonita. E nem a terceira. Até onde eu sabia, ela ocupava o quarto lugar nesse ranking, mas, cara, ela era muito inteligente. A garota sabia ser um prodígio. Ela era tão boa em matemática quanto eu era péssimo. E foi assim que nos conhecemos oficialmente, num dia em que eu tinha me saído ruim na prova de matemática.

Jameson, como sempre, tinha tirado uma das melhores notas de sua classe. Isso foi humilhante para meu ego, por isso fiz tudo o que pude para esconder a minha prova corrigida com uma grande nota escrita com caneta vermelha.

Sozinho no intervalo, puxei a prova do meu bolso e dei uma olhada mais detalhada. Aparentemente eu era tão burro que nem sabia quanto era cinco vezes quatro. Errei algumas coisas bobas e outras que eu realmente não fazia ideia de como calcular. Onde eu estava com a cabeça quando fiz esse teste?

— Minha mãe vai me matar — eu disse para mim mesmo, prevendo o sermão que viria.

— Nota ruim?

Amassei a prova na hora, enterrei-a no meu bolso e me virei, dando de cara com a espiã.

— Isso não é da sua conta! E ela não foi tão ruim assim — me defendi.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora