Capítulo 8

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O Café da Jane é um espaço destinado a uma clientela que, em sua grande maioria, é constituída por pessoas que frequentam fielmente o lugar com assiduidade. É pequeno, aconchegante e discreto, com mesas redondas, cadeiras e bancos retangulares estofados posicionados estrategicamente contra as paredes. Esses são os primeiros a serem ocupados, talvez porque aproximam mais as pessoas e dão uma sensação de maior conforto similar ao que se sente quando se senta em um sofá de casa.

Sigo para o meio do estabelecimento quase lotado.

Sento-me próximo a uma coluna pintada de verde com alguns retratos em preto-e-branco dos fundadores do café que já sobrevive há algumas gerações. Uma garota vestida com um meio avental enche minha xícara pela terceira vez. Agradeço com um sorriso e começo a bebericar meu café enquanto aguardo meu cliente retardatário chegar a qualquer momento como um furacão pela porta.

Apesar do atraso, o que me conforta é saber que ele é um potencial comprador que, seja lá por qual motivo, ficou sabendo através de alguém, que eu sou corretora de imóveis e quis ir diretamente a mim. Bem, não diretamente, pois nem ao menos sei seu nome. A única pessoa com quem falei até agora foi seu intermediário, provavelmente um subordinado do trabalho, que repassou para mim todas as preferências e solicitações de seu chefe. Ao que parece, trata-se de algum proprietário de uma empresa que está ganhando reconhecimento no mercado.

E ele veio até mim. A corretora falida.

Não sou exatamente a Rainha das Vendas, mas acho que milagres acontecem, afinal.

Ele só pode ser um turista para não saber da minha reputação. Ok, não chega a ser péssima em negócios. No entanto, desde que números dizem mais do que caráter e honestidade com clientes, eu estou quase lá.

Como possivelmente ele vai me reconhecer? Seu assistente me disse que ele já viu algumas fotos minhas em sites, inclusive tem uma no meu cartão de visitas, então acho que está tudo bem, ainda que seja um pouco intimidador ele saber quem sou eu, ao passo que não sei quem ele é.

Tento me aquietar na cadeira, desanuviar minha cabeça com os pensamentos inquietantes, mas não consigo evitar pensar que se eu fechar um contrato milionário com esse homem isso pode significar o fim das minhas dívidas e uma alavancada significativa na minha carreira.

Seria como um sonho se tornando realidade.

Se devo comemorar com antecedência ou não, não tenho certeza. Primeiro, preciso conhecê-lo e deixar a minha mente de negócios aparecer. Não é querendo me vangloriar, mas geralmente me dou bem com as pessoas. Gosto de estar rodeada por elas e isso por si só já é um grande ponto a meu favor.

Com um suspiro, afundo na cadeira e olho para o relógio que fica pendurado acima da porta da frente. Sinceramente, as pessoas ricas acham mesmo que as pessoas financeiramente inferiores a elas têm todo o tempo do mundo para perder?

A porta da frente se abre e um homem vestido com uma camisa polo azul entra. Ao dar uma olhada ao redor como se estivesse procurando alguém, acena na minha direção com um sorriso brilhante e começa a caminhar até mim.

Ah, meu Deus. É ele? O comprador?

Eu quase engasgo com o café quando o olho da cabeça aos pés.

Nossa, como ele é muito charmoso.

Tracy está certa. Eu preciso superar o que aconteceu e ir atrás de um gás reanimador na minha vida, algo que me motive e me deixe uma pessoa mais feliz e menos mal-humorada. Começar a trabalhar a ideia de um romance saudável pode ser um bom recomeço. Não que eu seja mal-humorada, mas estava começando a sentir que, se não fosse Tracy abrir meus olhos, em pouco tempo eu me transformaria em alguém extremamente infeliz e sem ânimo para mais nada. Alguém sem um propósito além do que o que a vida me deu: Jackie. E eu a amo mais do que tudo.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora