Capítulo 35

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Ele está aqui. Esteve aqui esse tempo todo.

Jerome Carver, de alguma forma, não morreu. Foi capaz de enganar a Morte e sobreviver a uma tragédia.

Ele está vivo.

Cambaleio para trás, sem poder respirar direito.

- Roubou a identidade de Jameson. - Não posso disfarçar o tom acusatório em minha voz.

O olhar dele se perde no meu por longos segundos. Olhos torturados, silenciosos e quietos. Os olhos que reconheci no momento em que vi e que seria capaz de distinguir em qualquer tempo, em qualquer lugar. Nunca foi alucinação minha. Nunca foi loucura. Eu estava certa. Não estava vendo os olhos de Jerome no rosto de outro homem... Este homem, na verdade, não era ninguém menos que Jerome!

Eu mal me aguento de pé ao ouvi-lo dizer, em alto e bom tom:

- Para ter forças suficientes e ser capaz de deixá-la viver uma vida em paz. Por outro lado, não conseguia lidar com a culpa de saber que, se meu irmão não tivesse entrado comigo naquele carro, poderia estar vivo até hoje. E eu, morto. - Dá um risada seca. - É como as coisas deveriam ter acontecido. Mas a vida tem um estranho senso de humor.

Um soluço escapa de meus lábios e então eu estou chorando, tremendo e me sentindo fraca com toda a carga emocional envolvida em um assunto tão delicado como esse. Jameson está morto... e Jerome está vivo. Vivo. Como isso é possível, meu Deus?

Vou até o sofá e caio nele, abalada demais para permanecer de pé. Dou vazão às minhas lágrimas, choro o sofrimento de seis anos que esteve preso na minha garganta quando soube da morte de Jerome. Quando me contaram que ele estava morto... e agora está aqui, diante de mim. Sua versão mais velha, um homem de 28 anos.

Ele parece tão desesperado quanto eu, mas, por mais inacreditável que pareça, este Jerome está optando pelo bom senso ao não se aproximar de mim. Parado no meio da sala, ele baixa o rosto com um olhar sombrio.

- Vou me trocar agora - ele diz, virando as costas com a cicatriz que temos no mesmo lugar, e olha-me por cima do ombro antes de subir a escada. - Se quiser me ouvir e saber tudo o que aconteceu, então fique. Por favor, fique. - É seu pedido feito em voz baixa.

Encaro-o por um instante, antes de desaparecer do meu campo de visão, e então sou deixada sozinha na sala, mergulhada em minha dor. Puxo os joelhos contra o peito e deixo todas as lágrimas continuarem rolando.

Minha mente é um turbilhão de pensamentos e não consigo parar de pensar naquela cicatriz. A que ele ganhou quando quis me salvar do ataque violento de Quentin, um dos meus antigos fornecedores.

Quero gritar, dar socos em alguma coisa e depois atirá-la com violência contra a parede.

Depois de um tempo, estranhamente sinto-me entorpecida, com meu emocional funcionando de modo letárgico. Eu quero ficar aqui? Ouvir o que ele tem para me dizer? Minha vida é um limbo neste momento. O homem que eu pensava amar na verdade era outro homem, ou melhor, o mesmo homem.

Como eu não o reconheci? Por que desisti de desconfiar do que, no fundo, eu sabia que não era o que me diziam? Ele foi o grande amor da minha vida, até Jameson chegar... Não, espere... Que grande merda. E uma baita confusão.

Fecho os olhos quando o ouço descendo a escada. Somente um homem anda com passos elásticos e decididos. Somente um homem se movimenta com graça felina. Somente um único homem na Terra foi capaz de fazer meu coração bater mais forte.

E este homem foi Jerome. Este homem ainda é Jerome.

Ele aparece vestido em um de seus suéteres escuros. Puxa uma cadeira, vira-a e senta-se com os braços apoiados nas costas, diante de mim. Observa-me em silêncio, com a cabeça levemente tombada para o lado. Sem dúvida de que é ele. Nenhum homem me encararia tão abertamente desta forma como ele costumava fazer comigo.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora