Capítulo 32

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Ao final da minha narração, olho para Jameson e ele parece devastado, os olhos sem vida. Duas mentiras. Duas únicas mentiras que contei e que influenciaram a morte da pessoa que amei. Agora ele sabe. Deve estar me odiando nesse momento, mais do que nunca.

— Mentiu para ele — acusa, com olhos incrédulos e torturados. — Primeiro disse que não o amava e depois disse que o traiu. Para Jerome... ele era louco por você.

Ele cambaleia para trás, mal conseguindo respirar, e então desaba no chão da sala para se sentar. Eu também me sinto tão sem equilíbrio, seja ele físico ou emocional, que faço o mesmo.

— Eu sabia de tudo isso, por isso falei aquelas coisas. Para fazê-lo me odiar e se afastar de mim — admito com vergonha e culpa me consumindo.

— Mentiu para ele — repete, passando as mãos pelos cabelos, e então está me olhando mais uma vez, seus lindos olhos apagados para mim.

A visão de Jameson decepcionado comigo me destrói por dentro.

— Porque eu o amava — digo em uma voz engasgada.

— E acha que isso faz de você uma pessoa melhor?

Sua pergunta é um ataque que me golpeia em cheio. Engatinho até ele, com lágrimas ardendo em meus olhos, e assisto com angústia ele se afastando para longe de mim. Eu paro, ajoelhada sobre meus calcanhares. Morro mil vezes com suas palavras não ditas. Vejo tudo em seus olhos e não sei mais se eles voltarão a brilhar com vida. É meu maior medo. Nunca serei o bastante para ele por causa do fardo que carregarei comigo pelo resto da vida. Ninguém vai querer ficar comigo. Não depois de saber a verdade sobre a vida assombrada de Ellie Banks.

Faço o que posso para dizer em um tom firme:

— Não estou justificando meus atos. Já faz algum tempo que não penso em que tipo de pessoa sou. Apenas tento ser boa o suficiente para não machucar mais ninguém ao meu redor. Não sei o que está pensando de mim agora, Jameson, mas, não tem sido fácil. — Dou um sorriso amargo. — Não mesmo. Até hoje, não consigo me perdoar pelo que fiz a ele. As coisas que eu disse... e que o levaram a entrar naquele maldito carro e dirigir alucinadamente. O meu mundo mudou completamente quando Jerome morreu e, quando dei luz à Jackie, simplesmente não podia desistir de amar alguém de novo. Ela foi a minha razão para continuar vivendo. Eu a amo. Pelo menos agora, posso dizer que ela me transformou em alguém muito melhor. Isso já me basta.

Ele parece se acalmar por um momento, e eu também. Ficamos os dois sentados no chão de sua sala enquanto encaramos um ao outro durante um longo tempo. Sei que está magoado até a alma e eu, um pouco desesperada. Permanecemos mudos até sentirmos que recuperamos controle suficiente sobre nós mesmos.

Jameson é o primeiro a falar, após um suspiro:

— Não estou culpando você, Ellie. É só que... Merda. — Passa as mãos pelos cabelos mais uma vez. — Como duas pessoas tão quebradas conseguiram aguentar por tanto tempo juntas? Jerome a amava, isso estava claro em suas cartas. — Olha-me e eu faço um movimento de cabeça, concordando. — Mas não sou idiota a ponto de achar que meu irmão era um santo. Ele era estourado e cabeça-quente também. Somado a isso, vocês dois usavam armas emocionais um contra o outro, o tempo todo.

Cubro o rosto com a mão e o esfrego para espantar uma dor de cabeça que ainda nem chegou. Respiro fundo e de novo, cada processo lento e demorado. Ao erguer o rosto, noto Jameson me encarando com as sobrancelhas unidas.

— Finalmente posso entender por que ele saiu tão furioso daquela porta e mal quis me escutar quando falei que não era para dirigir aquele carro. Jerome não aguentou ouvir aquelas coisas de você, da mulher que tanto amava. E nem você, ao dizê-las para ele. Tenho calafrios só de tentar entender essa história de amor mais torta do que tudo.

Ás de Copas [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora