Loucura e sanidade

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— Eu vou tirar as chaves de todos os cômodos e você não pode fechar mais nenhuma porta, nem mesmo encostar. — Foi o que Stiles disse quando me colocou na cama, agachado ao meu lado, falando como se brigasse com uma criança. — Se você encostar uma porta que seja, eu juro que vou quebrar uma por uma.

Fiz uma careta, mas não neguei, ainda me sentia culpada por ter atacado Stiles e ele recusou todas as minhas tentativas de pedir desculpas, então não podia reclamar da única coisa que exigia.

— Não quero correr o risco de você se trancar novamente e me dar esse susto.

— D-desculpa, eu...

— Eu que fui irresponsável, Lydia e já disse milhares de vezes que não tem o porquê se desculpar.

— Eu tentei mata-lo.

— Só porque eu dormi na hora errada e a chamei de um apelido estúpido.

Estremeci, lembrando de sua voz proferindo "princesa" e ele suspirou, apoiando os cotovelos no colchão, perto do meu corpo.

— Você sabe que está comigo para não ter que fazer nenhum tratamento psiquiátrico ou algo do tipo. — Concordei lentamente com a cabeça, desconfiada. — Então eu preciso que você me deixe ajuda-la, Lydia. Nessa primeira semana quis deixa-la em paz, mas você precisa começar a se abrir comigo.

Não falei nada, apenas demonstrei minha dúvida com a expressão.

— Você tem várias crises de choro, Lydia. Ouve e fala com a Allison com frequência e eu sei que é impossível esquecer o que aconteceu com você lá.

— O que você quer que eu faça?

— Que fale sobre o que a incomoda, fale o que fizeram com você.

Foi automático, só em pensar em dizer minhas humilhações, senti as lágrimas preenchendo meus olhos e molhando meu rosto. Neguei com a cabeça, aflita.

— Não.

— Lydia, olha para mim. — A sua voz mansa, me fez encara-lo. — Você não pode aguentar tudo isso sozinha, só tenta se esforçar por favor, mesmo que eu arrume um psicólogo, não vai poder falar nada que envolva o sobrenatural, mas comigo você pode dizer qualquer coisa.

— Eu não consigo falar.

— Sei que é difícil, Lydia, mas é para o seu bem.

— Não. — Todo bem-estar que eu estava sentindo, se esvaiu, sendo substituído por lembranças macabras.

Stiles fez uma coisa que eu não esperava, ele subiu na cama, deitou ao meu lado, tomando um grande espaço no colchão. Eu me retesei, assustada, pensei na possibilidade de empurra-lo, mas não resisti quando seu braço magro envolveu minha cintura e me apertou de maneira confortável, a sensação era boa.

Ele me ajeitou em seu peito, começou a mexer no meu cabelo e me deixou completamente aconchegada, encolhida contra seu corpo macio.

— O que você acha de jogarmos ? — Mesmo chorando, me espremendo contra ele, fiquei curiosa com sua fala.

— Que jogo? — Minha voz estava completamente rouca.

— Você faz qualquer pergunta para mim, sobre qualquer coisa e eu prometo responder e dizer a verdade, depois eu pergunto para você e vice-versa.

— Esse é um péssimo jogo, Stiles. — Murmurei, sabendo que ele disse aquilo só para eu me abrir como queria.

— Mas aposto que você tem perguntas para mim. — Ele sorria e eu suspirei, parando de chorar de forma repentina. — Vamos lá, Lydia. Pergunta o que quiser.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora