Ansiedade

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Andar era fácil, natural. Um ato comum e impensado, que nunca exigiu nenhum esforço de minhas pernas. Mas isso foi antes de tudo que descobri, de tudo o que aconteceu.

Quando sai da sala pequena suja de sangue, cheia de miolos espalhados pelo chão, percebi como andar se tornou algo difícil, quase impossível. Meus joelhos doíam e os pés tremiam cada vez que pisava no chão.

No entanto, o que tornou o andar algo tão estranho e penoso, não foi a dor em meu corpo ou o sangue grudado em minha pele, nem a destruição a minha volta, mas sim, a consciência de que eu estava mais pesada, carregando algo dentro do ventre.

Grávida.

Grávida.

Grávida.

Tinha tanto o que pensar, tanto para me preocupar e ainda assim, só uma palavra perfurava meus pensamentos. Pensava tanto naquilo, que não conseguia raciocinar direito onde eu estava ou o que tinha feito.

Eu lembrava dos fatos e sabia que estava andando pelos corredores escuros e imensos, no entanto, não conseguia digerir aquele amontoado de informações que tentei absorver em tão pouco tempo.

Scott foi sequestrado por minha causa. Stiles e eu fomos pegos também. Malia e Liam vieram nos ajudar. Matei humanos e lobisomens. Tive que enfrentar o Kevin e o doutor. Fui ferida, mas me curei por causa das modificações em meu corpo. Scott estava quase morto. Stiles estava quase morto.

Por último, eu tinha acabado de descobrir que os planos do doutor deram certo e depois, o matei. Matei com um grito que foi capaz de estourar sua cabeça. Mas dentro de mim, do meu útero, eu carregava o plano da Eichen.

Já não conseguia sentir mais nada. Nem medo, raiva ou dor.

Naquele momento, enquanto me arrastava descalça pelos corredores, eu era como um zumbi sem emoções, sem reações. Sentia meus olhos arregalados e as mãos fechadas em punho, trêmulas e prontas para bater em alguém.

Com os lábios secos e entreabertos, proferia a mesma palavra que cortava minha mente "grávida". E era só isso que eu ouvia, o som da minha própria voz rouca e insegura.

O lugar que antes parecia estar infestada de pessoas malignas, tinha se transformado em um cemitério silencioso e grotesco. Só havia sangue, pessoas caídas no chão, membros separados do corpo.

Eichen House me destruiu por dentro e por fora. Arrancou minha sanidade e fez com que todo meu corpo sangrasse. Mas então, depois de tanto tempo, eu tinha feito o mesmo que eles fizeram comigo. Fiz com que morressem, sangrassem, fossem destruídos.

O que eu tinha mais medo, o que me trazia as piores lembranças da minha vida, tinha acabado de ser destruído e com isso, perdi os medos que me assombravam.

Não existia mais Eichen House, não existia mais doutor ou Kevin.

A partir dali o único medo que me restava era os relacionados a preocupação com as pessoas que eu amava. Se meus amigos sobrevivessem, se meu namorado sobrevivesse, se meu bebê continuasse seguro em meu ventre, eu seria capaz de enfrentar tudo e a todos.

Andei sem enxergar, sem pensar e então, enquanto olhava para baixo, vendo meus pés se moverem para a frente, percebi que o chão que pisava tinha se tornado branco e gelado.

Ergui a cabeça e notei, finalmente, que tinha ido até o único hospital de Beacon Hills. Várias pessoas, tanto médicos como pacientes, estavam paralisados, me encarando.

Claro que me olhavam! Usava um vestido rasgado, sujo e repleto de sangue. Além de estar descalça e provavelmente, descabelada e com uma expressão violenta.

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