Prenda a respiração

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O caminho foi calmo.

Stiles não tentou falar comigo, não tentou encostar em mim, mas pela forma como dirigia, lembrei o quanto ele era hiperativo e me perguntei como fui capaz de esquecer o jeito peculiar do garoto. Ela batia os dedos no volante, falava sozinho com certa frequência, se remexia no banco e cantarolava com a voz rouca e desafinada.

Eu fiquei parada, tentando não chamar atenção, contudo era inútil, Stiles olhava para mim a cada instante e aqueles olhos avelãs faziam meu interior se contorcer. Coloquei as pernas para cima do banco e abracei os joelhos, me arrependendo de não ter tirado a roupa de hospital ao perceber o quanto eu ficava exposta, o que fez que eu lutasse o tempo todo para cobrir minhas pernas e manter as costas nuas escondidas no estofado.

Em algum momento, me distrai completamente com a paisagem do lado de fora, observando, vidrada. Apesar de ter lutado para não dormir, com medo do que Stiles poderia fazer comigo, acabei apagando quando o céu estava completamente escuro e quando abri os olhos novamente, o mesmo céu tinha uma cor rosada e o garoto ao meu lado tinha olheiras marcando o rosto branco.

— Chegamos. — Foi a primeira palavra de Stiles dirigida a mim.

Observei com mais atenção a rua em que estávamos, cercada de árvores, prédios pequenos e casas grandes. Tinha pouca movimentação, apenas comerciantes entrando em pequenas lojas; era obviamente uma cidade pequena.

O garoto abriu janela do Jeep e não pude deixar de estremecer com o delicioso e característico cheiro do mar. Há quanto tempo não sentia aquela fragrância? A brisa gelada bateu na minha pele, fazendo com eu tremesse novamente, mas não me importava com o frio, a sensação era maravilhosa.

O carro se movimentou por mais alguns poucos minutos e então, parou em frente a um prédio pequeno de cores pasteis, com grandes varandas. Era aconchegante, não tinha como negar, no entanto, o aconchego parecia uma coisa tão surreal, que não soube como reagir ao aperto insuportável em meu peito e a vontade de chorar, como se só naquele momento que eu realmente percebesse que tinha saído daquele inferno.

Stiles foi até o estacionamento do prédio e eu permaneci parada quando ele saiu do carro, sem saber o que fazer e tive um leve sobressalto quando ele deu a volta e abriu a porta para mim.

— Agora está tudo bem, Lydia, você vai gostar daqui. — Ele falou baixo, os olhos esperançosos e erguendo a mão em minha direção.

Levantei sem aceitar sua ajuda, apesar da tontura, e fiquei de pé com certa dificuldade. Ouvi seu suspiro, mas estava distraída demais com o lugar a minha volta, a curiosidade vencendo meu medo, eu queria ver onde ficaríamos.

Stiles andou na minha frente quando percebeu que eu não encostaria nele, então ficou me guiando, olhando o tempo todo para mim, dando passos curtos ao ver minha extrema dificuldade ao me mover. Minhas pernas pareciam geleias, minha cabeça girava e minhas mãos tremiam, mas segui o garoto com passos incertos, indo ao pequeno elevador e observando que ficaríamos no terceiro andar.

O elevador parou e Stiles foi até o final do longo corredor, só assim percebi que o prédio não era tão pequeno quanto aparentava do lado de fora. Ele parou na última porta, de madeira escura e abriu com uma chave brilhante.

O garoto entrou e me encarou aflito, esperando que eu entrasse. Deparei-me com uma sala de piso claro, um sofá grande que ocupava a maior parte do espaço e uma televisão em cima de um móvel repleto de livros na parte inferior. Não tinha mais nada ali, a não ser as cortinas brancas que revelavam a varanda e o tapete um pouco mais escuro que a cor do piso.

— Aqui, é melhor você sentar. — Ele tentou encostar nas minhas costas, mas eu recuei, então com um novo suspiro, ele apontou para o sofá.

Não queria fazer o que ele dizia, mas sentia que desabaria no chão a qualquer momento, por isso cambaleei até o sofá e sentei na ponta. Meus músculos explodiram de prazer ao sentir a superfície macia, acolhedora.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora