Inferno

429 31 16
                                    


Inferno. Essa sempre foi a palavra que usei para descrever o tempo que passei presa na Eichen House. O tempo que fiquei sem amigos, sem família, sendo violentada, torturada, presa em uma cela.

Antes de ter sido pega, nunca tinha parado para pensar se eu acreditava na existência do inferno. O lugar destinado para o tormento das almas, tão falado em religiões e mitologias sempre pareceu tão perturbador, que eu não queria pensar naquela possibilidade.

No entanto, depois de tudo o que passei descobri que o inferno realmente existe. Existe na própria Terra. Não penso nisso por algo que eu acho, mas sim porque eu vivi durante um ano dentro do inferno. Conheci o pior e mais cruel tipo de demônios: homens. Sim, pessoas normais sem nenhum tipo de poder, foram os meus demônios.

Acredito que enquanto estivermos vivos, vai sempre existir infernos diferentes para cada pessoa, especializados em torturar de maneira intima e pessoal a vida de cada um. Talvez haja pessoas que nunca encontrem esse inferno. Mas ele sempre vai existir, esperando que o destino os leve até lá ou até mesmo, que as pessoas sejam burras e caíam na própria desgraça.

Se o inferno existe na Terra, passei a acreditar que também existe para aqueles que morrem. Só assim eu consigo ter esperança de que um dia todos aqueles que me fizeram sofrer, encontrarão a punição eterna. E também, assim, posso esperar, ter esperança, de que quando eu morrer vou encontrar a paz eterna, longe de todos os demônios que me fizeram ansiar pela morte.

Naquele dia, no Jeep ao lado de Stiles, eu estava decidida a fazer com que meus demônios encontrassem o inferno mais cedo. Não ia mais esperar que a morte natural os alcançassem. Precisava matá-los, todos eles, um por um e fazer com que eles encontrassem os verdadeiros demônios no inferno que existe após a morte.

— Stiles. — Chamei baixo, preocupada.

Stiles estava muito, muito pálido. Percebia que ele queria chorar, mas impedia que as lágrimas presas em seus olhos despencassem pelo rosto. A expressão dele era torturada, agoniante, os lábios perderam a cor.

— Desculpa Lydia, me perdoa por estar fazendo você voltar para lá.

Típico de Stiles. Ele não falou sobre seus medos, sobre seus pensamentos, não demonstrou a dor que era visível que ele sentia. Ele só se preocupou comigo, em como eu me sentia. Se desculpou mesmo ter motivo.

— Nós vamos encontrá-lo. Você sabe disso, não sabe?

— Você ficou sumida por um ano, Lydia. — Ele finalmente liberou as lágrimas. — N-não posso deixar que isso aconteça de novo.

Eu não estava triste. Não queria chorar. Não sentia vontade de me lamentar, nem me esconder. De alguma forma, eu já sabia que o meu inferno ainda não tinha acabado de me atormentar. Enquanto os demônios estivessem vivos, o inferno estaria firme, pronto para me atacar.

Mas eu achei que quando aquele momento fosse chegar, eu fosse sentir medo. Sempre pensei que eu ficaria apavorada, entraria em pânico e voltaria a ser a garota assustada, frágil, como aquela que eu era quando vivia presa como um animal dentro de uma cela.

Porém, para minha própria surpresa, eu não estava com medo. Nem mesmo sabendo que eu estava voltando para a cidade onde tudo aconteceu. Não estava triste. Eu estava com raiva, ódio. Nenhuma palavra é o suficiente para descrever o furor capaz de acelerar meu coração.

— Não vai acontecer. — Tentei passar o máximo de segurança e apoiei a mão no joelho dele, o vendo desmoronar na minha frente.

Aquele dia estava perfeito até eu sair do banho e encontrar Stiles paralisado em frente à mesa de jantar. Ele estava em pé olhando fixamente para uma caixa de papelão e seu celular estava jogado no chão.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora