Monstro

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— Não, não, não! Oh meu Deus! — Escutei a voz de Stiles, mas só conseguia enxergar Malia, Allison e Aiden.

— Está na hora de você mostrar o que aprendeu, Lydia. — A voz de Aiden fez meu corpo tremer, entretanto continuei firme, andando em direção a coiote.

— Dessa vez eu tenho que concordar com ele. — Allison parecia maldosamente satisfeita, eu sorri em resposta, sentindo uma ardência nos olhos.

— O que ela está fazendo? — Dessa vez foi Malia que falou. Aquele rosto estupidamente lindo estava confuso, ela finalmente tinha parado de rir.

— Você vai aprender a não rir de mim. — Minha voz saiu grave, rouca, raspando pela garganta e eu gostei daquilo, de como a frase saiu perigosa de minha boca.

Antes que Malia ou Stiles fizessem algo, eu cheguei até a coiote, a segurei pelo pescoço, sentindo meus dedos afundando na sua pele e joguei seu corpo contra o móvel da cozinha.

Assim que a maldita coiote caiu no chão, ela rosnou, os olhos brilharam em um azul gélido e o rosto se transformou, sendo tomado por pelos, exibindo os caninos em uma forma de ameaça. Aiden riu com isso, pois sabia que eu não tinha medo.

— Acaba logo com essa cadela. — E daquela vez, eu desejei desesperadamente seguir as palavras da caçadora ao meu lado.

Depois da fala de Allison, não consegui escutar mais nada, entender mais nada, só enxergava Malia a minha frente e tinha consciência de que a caçadora e o gêmeo assistiam tudo, rindo e me incentivando.

A coiote levantou, respirando fundo, parecia tentar se controlar. A atingi com um soco no rosto, levei o joelho até o alto de seu estômago e desviei de suas garras que tentaram alcançar meus braços.

Rosnei, envolvi o pescoço fino com uma das mãos, recebi um chute na costela. O mundo girou, perdeu o foco e quando voltei a enxergar, já tinha derrubado Malia e meu corpo estava por cima do dela.

Eu sentia um ódio profundo, mas acima de tudo, me sentia forte, capaz de arrancar a pele morena, deixando a coiote em carne viva, berrando por piedade.

Meu rosto foi atingido, minha barriga foi espancada, minhas pernas receberam chutes, mas eu revidava sem medo, sem sentir dor, pois a adrenalina impedia que meu corpo cedesse.

Quando consegui imobilizar Malia, pressionando seu corpo contra a parede, novamente percebi que ela tentava se controlar, porém não me importei com isso. Queria acabar logo com aquilo.

Abri a boca e deixei escapar um grito de minha garganta.

Eu sabia exatamente o que aconteceria, o som agudo a deixaria sem movimentos, paralisada, depois de poucos segundos, poderia ter uma convulsão, os ouvidos sangrariam e se continuasse da maneira certa, ela morreria. O sangue explodiria por cada cavidade de seu corpo e ela partiria com uma dor insuportável que a faria desejar a morte.

O som surgiu dentro do meu ser, o tom agudo preencheu o cômodo e não causava nenhum efeito em mim. Malia paralisou na hora, os olhos esbugalhados, a expressão assustada, voltando a forma humana. Eu estava disposta a levar aquilo até o final, mas senti braços envolvendo minha cintura.

Fui puxada por trás e automaticamente, empurrei a pessoa e rosnei, parei o grito enquanto agarrava o pescoço pálido, do dono dos braços magros. Quando a cabeça da pessoa bateu com uma força exagerada na parede, percebi que era Stiles; ele me encarava com olhos castanhos assustados.

— L-Lydia, para, por favor. — A voz dele saiu fraca, sufocada.

— Você não pode me parar. Ninguém pode! — Eu estava enlouquecida de raiva, estava cansada de ser tratada como alguém frágil. — Você não pode me parar.

— E-eu sei, eu sei.

Seu gaguejo chamou minha atenção, ele não tentou me atacar, nem sequer se defender. Observei como Stiles estava completamente indefeso, com minhas mãos em seu pescoço, com os olhos lacrimejando, sem respirar direito.

— Allison me contou que agora você faz amizade com traidores. — A voz de Aiden surgiu em meu ouvido, virei a cabeça em sua direção e tive medo de sua expressão perigosa. — Acaba com isso, Lydia.

— Mas Aiden, ele tem...

— Não importa, Lydia. Ele a abandonou lá.

Quando escutei aquelas palavras, soube que não era verdade. Stiles tinha me contado como fui parar no inferno e eu acreditava nele.

Encarei novamente os olhos castanhos e percebi que tinha a oportunidade de fazer o que tinha planejado durante meses na minha cela. Podia ser minha única chance de matar dois da alcateia.

— Lydia, olha para mim. — Obedeci a voz de Stiles, o encarando, confusa, sem saber o que fazer. — Eu não vou tentar a impedir, tudo bem? Você é forte, muito mais forte do que eu.

Aquelas palavras me trouxeram um conforto inesperado, ele não me tratou como algo desprezível, mas sim como alguém forte, alguém capaz de se defender.

— Agora você tem a certeza de que nunca vou machuca-la. — Por algum motivo, ele deu um meio sorriso e meu coração acelerou. — Se eu fizesse qualquer coisa ruim, você podia me matar.

— Mas você não vai fazer nada, você cuida de mim. — Por impulso, as palavras saíram da minha boca e percebi uma lágrima escapar dos olhos castanhos.

— Eu cuido porque sei quem você é, e sei que não quer me machucar, Lydia. Você não quer machucar ninguém.

— Aiden e Allison disseram...

— Eles não existem, Lydia, eles a amaram quando estavam vivos, mas na sua imaginação eles não conseguem mais ama-la. — Franzi o cenho, eles pareciam ser reais, tinham que ser. — Mas eu estou aqui, Lydia, eu sou real e a amo mais do que tudo.

— Eu não quero matá-lo. — Confessei baixo e afrouxei os dedos em seu pescoço, ele sorriu, mas eu tinha a impressão de que queria chorar. — Só quero matar Malia. — A raiva voltou aos poucos, como pancadas no estômago.

— Não! Lydia, olha para mim, se você machucar a Malia, vai me machucar também, você não pode matá-la!

— Porque você prefere ela.

Não sabia como, mas aqueles olhos castanhos, aquele cabelo bagunçado e a maneira como ele estava indefeso, com meus dedos ainda encostando no seu pescoço, fazia com que eu dissesse tudo o que queria esconder. Não conseguia evitar, ele fazia com que eu ficasse completamente exposta.

— De onde você tirou essa ideia? Eu larguei tudo por você, eu terminei meu namoro para ficar aqui.

Tirei as mãos de seu pescoço, me dando conta do que eu tinha feito e do quanto tinha sido estúpida. Dei alguns passos para trás, vendo que Malia continuava caída no chão.

— Eu virei um monstro. — Sussurrei apavorada, percebendo que não tive motivos para agir daquela forma, sentindo a sanidade voltar para minha mente.

Stiles não fugiu de mim, não me xingou, não correu para ver como Malia estava, ele me abraçou. Os braços magros puxaram minha cintura, ele segurou minha cabeça, a acomodou em seu ombro e começou a acariciar minhas costas.

— Você não é um monstro, Lydia. Você é meu anjo, é minha Lydia.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora