Desistir

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Stiles Stilisnki

Lydia comeu em silêncio, mordiscando o pão, sentada na ponta do sofá, distante de mim.

— Você quer fazer alguma coisa hoje? — Repeti a pergunta que inutilmente, fazia todos os dias. — Ver um filme, sair, conhecer a cidade, comer algo diferente...?

Tentava não ficar aflito, mas meus pés se remexiam contra minha vontade, achava que ia enlouquecer se continuasse trancado naquela casa e para piorar, longe dela, tentando me distrair sozinho, enquanto escuto seu choro no quarto e ela demonstra não gostar quando tento a consolar.

Ela nem olhou para mim, apenas negou com a cabeça e largou mais da metade do pão no prato em seu colo. Suspirei, Lydia sabia que precisava engordar, estava muito abaixo do peso, mas tinha muita dificuldade para comer e quando se alimentava um pouco mais, acabava vomitando e pedindo desculpas para mim, encolhida, como se esperasse que batesse nela por ter vomitado.

Dei os seus compridos, que impediam que ela sentisse dores excruciantes por causa das substâncias que colocaram em seu corpo e ela cambaleou, fraca, de volta para o quarto, as pernas finas, cobertas com cicatrizes, tremiam dolorosamente a cada passo e eu tinha vontade de carrega-la para todo lugar, todavia ela nem deixava que eu sustentasse seu peso com um abraço.

Quando ela foi para o quarto, apaguei por alguns minutos, cochilando quando devia estar a vigiando e apesar do tempo mínimo, acordei com os berros de Lydia, um som agoniado, sofrido, desesperado.

— Lydia! — Gritei seu nome e corri para o quarto, a porta estava fechada. — Lydia! O que foi? Abre a porta! — Meu coração acelerou, bati na porta com fúria, ela não parava de gritar. — Lydia!

Forcei a maçaneta e não tive nenhuma resposta, continuei gritando seu nome e batendo na madeira da porta. Se ela se machucasse eu nunca me perdoaria, não podia deixar que algo ruim acontecesse com ela, de novo não, eu não podia ser culpado por mais sofrimento.

— Sai daqui! Sai daqui! Eu te odeio! — Ela berrou dentro do quarto e percebi seu choro.

Não pensei, agoniado com o sofrimento em sua voz, bati o ombro contra a porta e eu sabia que em qualquer outra situação, nunca teria forças para arromba-la, mas sentia a adrenalina correndo por meus músculos.

Suando frio, vi perplexo a porta cair em resposta a minha força e entrei no quarto de Lydia, a encontrando segurando uma faca com as duas mãos trêmulas, chorando, com os olhos fechados.

— Lydia, ei, o que você está fazendo? — Apesar de sentir vontade de gritar, controlei minha voz e sussurrei, tentando acalma-la. — Lydia, me dá essa faca.

Andei em sua direção, ela não se moveu.

— Você tem razão, sempre teve.

— Lydia?

— Desculpa, eu sei, eu sei, me perdoa. Estou tentando consertar isso. — Ela não abriu os olhos, não se moveu, mas parou de gritar, sussurrando sozinha. Será que ela me escutava?

— Lydia, com quem você está falando? Lydia? — Minha voz falhou quando voltei a chama-la.

Aquilo não era justo. Lydia, a minha Lydia, a garotinha ruiva que conheci na aula de matemática estava completamente atordoada, apertando o cabo da faca comprida e afiada na altura do abdômen, a lâmina apontando para o chão. As mãos e as pernas tremiam convulsivamente.

— Lydia, abre os olhos, olha para mim, pequena. — Sussurrei e não consegui ser forte o suficiente para prender as lágrimas.

Andei mais alguns passos na sua direção, lentamente, esperando que ela se movesse, tivesse alguma reação.

Aniquila-meOnde histórias criam vida. Descubra agora